Cerca de 20% dos jovens de 15 a 29 anos no Brasil (9,8 milhões de pessoas) não estudavam, nem trabalhavam no segundo trimestre deste ano. Um estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioecômicos) demonstrou que classificar este grupo como “nem-nem” é equivocado, pois dá a ideia de que os próprios jovens são responsáveis pela situação.
O levantamento (acesse íntegra aqui) demonstrou que a maioria dos jovens encontra barreiras estruturais para encontrar o primeiro emprego ou continuar os estudos. Os dados comprovam que esses jovens enfrentam um mercado de trabalho com alta rotatividade, postos de trabalho precários e poucas oportunidades de qualificação.
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Além disso, muitos não conseguem continuar estudando ou buscar emprego de forma ativa devido à falta de recursos financeiros. Assim, soluções como a ampliação de cursos profissionalizantes ou a flexibilização das leis trabalhistas, como o contrato intermitente, têm de mostrado ineficazes.
“Aumentar a oferta de cursos profissionalizantes não é medida suficiente, já que o mercado de trabalho não é capaz de absorver a totalidade da mão de obra qualificada. Tampouco funcionam soluções como as propostas pela reforma trabalhista, que criou modalidades de trabalho com menos direitos e menor estabilidade – como o contrato intermitente e a jornada parcial. Em vez de resolver o problema, esse tipo de contrato cria vagas de curta duração, o que pode jogar os jovens continuamente à condição de desemprego”, afirma a publicação.
A pesquisa descobriu que:
- 7% dos jovens considerados “nem-nem” não estavam envolvidos em atividades como procurar emprego, realizar afazeres domésticos ou participar de cursos não regulares;
- Apenas 1,4% afirmaram não ter interesse em trabalhar;
- 23% estavam ativamente procurando emprego;
- 12% das mulheres não podiam trabalhar devido à responsabilidade com afazeres domésticos, embora esse trabalho não seja contabilizado como parte da força de trabalho;
- Outros 8% estavam envolvidos em cursos ou estudavam por conta própria, o que revela uma tentativa de qualificação fora dos meios formais de ensino.
Jovens “sem-sem”
O estudo observou ainda que cerca de 27% dos considerados “nem-nem”, no primeiro trimestre de 2024, já haviam deixado essa condição no trimestre seguinte, muitos após encontrarem trabalho.
Em uma análise de longo prazo, 39% dos que estavam sem trabalho e fora da escola no segundo trimestre de 2023 mudaram de situação no ano seguinte, demonstrando que grande parte desses jovens está em busca de inserção no mercado de trabalho ou retomando os estudos.
Para o economista do Dieese, Gustavo Monteiro, esses dados evidenciam que a questão não é que os jovens não queiram trabalhar, estudar ou se comprometer, mas que faltam oportunidades.
“O problema está nas oportunidades que eles têm, que são mais limitadas. Por isso, em vez de geração ‘nem-nem’, preferimos chamar esses jovens de ‘sem-sem’, sem trabalho e sem estudo”, afirma Monteiro.
O comportamento da taxa de desocupação dos jovens segue o padrão geral do mercado de trabalho, porém com índices significativamente mais altos, o que reforça a falta de oportunidades adequadas para esse segmento.
O Dieese aponta que resposta para essa questão não está na culpabilização da juventude, mas na criação de políticas públicas focadas no crescimento econômico, na valorização da educação e na promoção de empregos formais e estáveis.
Desigualdade
A desigualdade socioeconômica do país fica evidente também no desafio da transição entre a escola e o trabalho. Entre os jovens que concluíram o ensino médio em 2023, aqueles de lares mais ricos tinham maior chance de continuar estudando ou se qualificando no início de 2024.
Cerca de 18% desses jovens ingressaram no ensino superior, contra apenas 7% dos jovens de famílias mais pobres. Além disso, 9% dos jovens mais ricos estavam envolvidos em algum tipo de curso, enquanto essa proporção caía para 6% entre os mais pobres.
A busca por emprego também reflete essa disparidade. Cerca de 40% dos jovens de famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 já participavam do mercado de trabalho no início de 2024, com 30% empregados e 10% procurando ativamente uma vaga.
Entre os jovens de lares mais ricos, esses percentuais eram consideravelmente mais baixos: 26% e 4%, respectivamente.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil