O uso de IA (inteligência artificial) para desinformar saltou 70% em 2025, em comparação com o ano anterior. Das 619 peças enganosas checadas por Aos Fatos até 29 de dezembro deste ano, 99 recorreram à tecnologia para enganar usuários nas redes sociais – 16% do total. Em 2024, a proporção era de 7,6%.
Um fator decisivo para o crescimento da desinformação com uso de IA foi o aprimoramento das ferramentas generativas ao longo de 2025. Aplicações como o Sora 2 (Open AI), o Nano Banana Pro (Google) e o Grok Imagine (X) impulsionaram a criação de conteúdo sintético desinformativo com vídeos ultrarrealistas.
Neste ano, as peças de desinformação geradas por inteligência artificial somaram 32,6 milhões de visualizações em plataformas como Kwai, TikTok, Threads e X, e cerca de 2,1 milhões de curtidas ou compartilhamentos em redes como Facebook e Instagram.
No total, todas as desinformações checadas pelo Aos Fatos em 2025 registraram 98 milhões de visualizações e 10 milhões de curtidas ou compartilhamentos, somando todas as redes sociais.
IA e política
Se no ano passado os conteúdos artificiais eram utilizados principalmente para aplicar fraudes digitais, em 2025 a maior parte das imagens e áudios sintéticos teve como objetivo enganar sobre temas políticos. Assim, os principais personagens citados nos posts desinformativos foram o presidente Lula (PT), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
- Juntos, Lula (20), Trump (16), e Bolsonaro (15) foram citados em 51 peças de desinformação — 53,5% do total;
- Já os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes (9) e Luiz Fux (2) foram tema de onze posts — 11,3% do total.
Em relação a Lula, a inteligência artificial foi empregada majoritariamente para criticar a atuação do petista. Opositores disseminaram, por exemplo, alegações falsas sobre falta de apoio político, bloqueio de benefícios sociais e criação de novos impostos.
Houve também, no entanto, conteúdos enganosos que buscavam melhorar a imagem do governo, promovendo falsos aumentos em benefícios ou pagamentos extras de programas sociais ou previdenciários.
Já no caso de Bolsonaro, a IA foi usada para inventar protestos — inclusive internacionais — em seu apoio, além de disseminar a falsa alegação de que ele seria candidato à Presidência em 2026, mesmo inelegível. Houve ainda casos em que o nome do ex-presidente foi associado a falsas campanhas de arrecadação.
As citações a Trump estão ligadas ora a Lula, ora a Bolsonaro. Peças desinformativas sugeriram que o presidente americano teria feito críticas ao petista ou ao Judiciário; outras, inventaram sinalizações de apoio ao ex-presidente brasileiro.
Política externa e protestos
Considerando todas as checagens publicadas, o tema política segue como o preferido dos desinformadores pelo quinto ano consecutivo. Em 2025, ao contrário de anos anteriores, houve um predomínio de desmentidos sobre política externa. Uma em cada cinco checagens sobre política eram relacionadas a questões internacionais – 86 de 404 verificações publicadas.
As medidas do governo Trump turbinaram a desinformação no campo internacional. O tarifaço de 50% aplicado pelos EUA sobre importações brasileiras em agosto serviu de mote para peças falsas que alegavam, por exemplo, que Lula teria decidido interromper todas as exportações do Brasil para os EUA.
Após o governo americano aplicar a Lei Magnitsky e outras sanções contra autoridades brasileiras, desinformadores mentiram que o ex-presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e seus filhos também teriam sido alvo das medidas, o que não é verdade.
Peças enganosas também simularam gestos de Trump a favor de Bolsonaro e de seus aliados, como hastear a bandeira do Brasil na Casa Branca ou projetá-la na Times Square. Em outros momentos, criaram falsos ataques do presidente americano contra Lula, inventando que o petista teria sido chamado de “desastre total” e “palhaço corrupto”.
Protestos. Depois das relações internacionais, o segundo subtema político mais desmentido pelo Aos Fatos foram falsas manifestações. Trinta checagens — 8,3% do total — compartilharam vídeos e imagens fora de contexto para simular atos de apoio ou rejeição a Lula e Bolsonaro.
O objetivo era inflar ou minimizar a adesão aos diferentes protestos ocorridos ao longo do ano, convocados pelos dois grupos políticos.
Taxação do Pix e crise do INSS
O ano também foi marcado por crises enfrentadas pelo governo federal por causa da desinformação. Logo em janeiro, a primeira mentira viral do ano dizia que a Receita Federal taxaria transações via Pix acima de R$ 5.000. A desinformação, compartilhada por perfis de oposição, se espalhou rapidamente nas redes.
O governo criou às pressas uma campanha publicitária visando conter a disseminação da mentira. A estratégia envolveu até mesmo a troca do comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social), com a chegada do marqueteiro Sidônio Palmeira.
Não foi suficiente. Pouco tempo depois, um vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) insinuando que o governo poderia taxar o Pix alimentou ainda mais a desinformação nas redes.

O sucesso da mentira fez com que desinformações similares circulassem durante todo o ano. Nessa linha estão peças que mentiam que devedores de impostos teriam a chave Pix excluída e alegações falsas de que uma nova norma da Receita Federal abriria brecha para taxação do meio de pagamento.
Em junho, as idas e vindas sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) também reviveram o boato sobre a taxação do Pix e geraram outra onda de desinformação contra o governo.
Escândalo do INSS. Em abril, a PF (Polícia Federal) deflagrou a operação Sem Desconto para investigar desvios em contracheques de aposentados e pensionistas. A ação gerou uma crise no governo e resultou nas quedas do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, preso posteriormente, e do então ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Durante o ano, Aos Fatos checou 27 peças enganosas relacionadas ao caso, em meio à troca de acusações entre governo e oposição sobre a responsabilidade pelo escândalo. Por um lado, Lula foi acusado de ser o mandante do esquema, o que é falso. Por outro, Jair Bolsonaro foi citado em peças que faziam crer que ele teria sancionado uma lei impedindo o INSS de fiscalizar os descontos.
Aos Fatos já publicou outros balanços que analisavam o conjunto da desinformação desmentida durante o ano. Confira abaixo as reportagens anteriores:
Colaboraram Amanda Ribeiro e Luiz Fernando Menezes.
O caminho da apuração
Aos Fatos analisou as 619 checagens publicadas ao longo de 2025 e identificou, em cada caso, se houve uso de inteligência artificial na produção do conteúdo enganoso. A reportagem classificou temas, personagens citados e direcionamento político, além de comparar os dados com o levantamento do ano anterior.
Em seguida, agrupamos as checagens por assunto e subtema, contabilizamos recorrências e cruzamos informações sobre alcance das publicações nas plataformas.
