Diário de Petrópolis

Especialista compartilha os riscos e os benefícios do uso da IA em treinos

Bruna Nazareth – especial para o Diário

As plataformas de Inteligência Artificial (IA) têm facilitado a vida de muitas pessoas em diversas áreas, especialmente no âmbito profissional. Recentemente, tem-se observado nas redes sociais uma tendência crescente de pessoas utilizando a IA, como o ChatGPT, para criar seus próprios treinos de exercício em academias. Embora seja prático, essa abordagem não é recomendada pelos especialistas da área, pois pode apresentar alguns riscos.

Segundo André Fernandes, profissional de Educação Física e coordenador do curso de Educação Física da Estácio Petrópolis, essa tecnologia está sendo adotada por alguns profissionais da área devido à sua praticidade. No entanto, ele ressalta que os profissionais ainda ajustam os treinos de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa, utilizando seus conhecimentos.

Existem até profissionais de Educação Física que utilizam o ChatGPT na organização de treinos e depois eles fazem os ajustes que são característicos de qualquer tipo de montagem de treino. A gente faz esse ajuste com base na individualidade biológica e uma série de estratégias específicas em função de cada característica do desenvolvimento da pessoa, de aspectos psíquicos, aspectos físicos, aspectos fisiológicos, aspectos mecânicos. O ChatGPT não vai considerar boa parte desses aspectos, ele vai fazer, na verdade, a grosso modo, esclarece.

O especialista ressalta que, para quem não tem problemas de saúde, deseja um treino básico e não busca grandes resultados, o ChatGPT pode ser útil. No entanto, ele alerta que seguir uma série de treinos sugeridos pela Inteligência Artificial sem a orientação de um profissional de Educação Física pode ser arriscado, pois o indivíduo pode ter condições que levem a lesões ou até mesmo a problemas de saúde graves. Por isso, é essencial contar com o acompanhamento constante de um profissional da área.

Cada lesão tem várias características que são individuais, ou seja, tem individualidades específicas para cada pessoa, para cada tipo de situação ou para cada tipo de lesão. São muitas considerações a serem feitas, além da própria lesão, além da pessoa e como a pessoa desenvolve ao longo desse treino, coisa que a Inteligência Artificial hoje não consegue acompanhar. Então, se torna necessário ter um acompanhamento de um profissional de Educação Física, ainda mais numa área de lesão, ou seja, fazer um exercício para quem tem lesão sob orientação de IA, sem orientação de um profissional de educação física, é arriscar muito, frisa.

Para exemplificar, foram pedidos pelo ChatGPT dois treinos, um para emagrecimento e outro para ganho de massa, com uma frequência mínima de três vezes por semana. Onde o especialista em Educação Física compartilhou sua opinião profissional sobre esses treinos, destacando o que considera adequado.

Treino para Emagrecimento

Treino A

– Aquecimento
– Caminhada rápida ou corrida leve na esteira: 5-10 minutos
– Circuito de Treino
– Agachamento com Halteres: 3 séries de 12 repetições
– Flexão de Braços: 3 séries de 10-15 repetições
– Remada Curvada com Halteres: 3 séries de 12 repetições
– Avanço (Lunge) com Halteres: 3 séries de 12 repetições por perna
– Abdominal Plank: 3 séries de 30-60 segundos
– Cardio Intenso
– Interval Training na Esteira ou Bicicleta: 20 minutos (1 minuto de alta intensidade, 1 minuto de baixa intensidade)
Alongamento
Alongamento dos principais grupos musculares: 5-10 minutos

Treino B

– Aquecimento
– Pular corda ou elíptico: 5-10 minutos
Circuito de Treino
– Leg Press: 3 séries de 12 repetições
– Supino Reto com Halteres: 3 séries de 12 repetições
– Puxada Frontal na Barra Fixa ou Pulldown: 3 séries de 12 repetições
– Levantamento Terra com Halteres: 3 séries de 12 repetições
– Crunches: 3 séries de 15 repetições
– Cardio Moderado
– Caminhada Rápida na Esteira: 20 minutos
Alongamento
Alongamento dos principais grupos musculares: 5-10 minutos

Treino para Ganho de Massa Muscular

Treino A – Parte Inferior

– Aquecimento
– Caminhada rápida ou corrida leve na esteira: 5-10 minutos
Treino de Força
– Agachamento com Barra: 4 séries de 8-12 repetições
– Leg Press: 4 séries de 10-12 repetições
– Cadeira Extensora: 3 séries de 12-15 repetições
– Cadeira Flexora: 3 séries de 12-15 repetições
– Panturrilha em Pé: 4 séries de 15-20 repetições
Alongamento
Alongamento dos principais grupos musculares: 5-10 minutos

Treino B – Parte Superior

– Aquecimento
– Pular corda ou elíptico: 5-10 minutos
Treino de Força
– Supino Reto com Barra: 4 séries de 8-12 repetições
– Remada Curvada com Barra: 4 séries de 10-12 repetições
– Desenvolvimento de Ombro com Barra ou Halteres: 4 séries de 8-12 repetições
– Puxada Frontal na Barra Fixa ou Pulldown: 4 séries de 10-12 repetições
– Rosca Bíceps com Barra: 3 séries de 12-15 repetições
– Tríceps Testa: 3 séries de 12-15 repetições
Alongamento
Alongamento dos principais grupos musculares: 5-10 minutos

É um exemplo claro de um treino básico, que vem amarrado, ajustado a metodologias ou alguns estudos, que é o que a inteligência artificial faz. Ela pega a base de alguns estudos, dados da internet, dados de algumas literaturas e junta e faz aquilo que chamamos de um treino básico. Para eu dizer que esse treino está bom ou está ruim, eu tenho que entender quem é essa pessoa, quais são as características dessa pessoa, o que ela tem de positivo e de negativo, de possibilidade e de impossibilidade relativo ao treinamento, eu tenho que saber quais são as possíveis lesões que ela já possa ter, alguns problemas de saúde e levar tudo isso em consideração, o que muitas vezes a inteligência artificial não faz. Então, esses treinos que eu chamo de um treino básico podem até funcionar para uma pessoa que não tem grandes expectativas e não apresenta grandes problemas, mas na maior parte das vezes pode gerar uma lesão e botar essa pessoa em risco de saúde, esclarece.

Para quem utiliza essa ferramenta para montar os seus exercícios, ele recomenda que é essencial apresentar esse treino a um profissional qualificado da área, onde este poderá avaliar e fazer os ajustes necessários de acordo com a individualidade biológica e necessidades específicas.

Diante disso, Fernandes conclui que a Inteligência Artificial não substitui a orientação e o acompanhamento de um profissional, sendo útil apenas como uma ferramenta auxiliar.

Ela pode ser uma grande ferramenta, o que já é, na verdade, na ajuda ao profissional de Educação Física para que ele possa ter uma base, um norte, e dali fazer as especificidades, ou seja, ele fazer os ajustes com os quais cada ser humano tem necessidade. Então a Inteligência Artificial, sem sombra de dúvida, ela vem para colaborar, mas para o profissional, um leigo que simplesmente joga os dados para a inteligência artificial e vai esperar que ela dê todas as informações importantes para aquele processo, está correndo um sério risco

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