Há três anos, quando alguém precisava consertar uma torneira pingando ou entender melhor a inflação, normalmente fazia uma de três coisas: pesquisava no Google, procurava um tutorial no YouTube ou pedia ajuda para a Alexa.
Hoje, milhões de pessoas fazem isso de outro jeito: abrem o ChatGPT e simplesmente perguntam.
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ChatGPT nos estudos: 6 formas de usar a ferramenta a seu favor
As outras ferramentas não sumiram. O que mudou foi o ponto de partida. O ChatGPT se tornou a nova porta de entrada para informações online. Poucos meses depois de ser lançado, em novembro de 2022, o chatbot já tinha acumulado 100 milhões de usuários semanais. Hoje, esse número chegou a 800 milhões, colocando a ferramenta entre as tecnologias de consumo mais usadas do mundo.
Pesquisas indicam que isso vai muito além da curiosidade. Trata-se de uma mudança no comportamento dos usuários. Um estudo do Pew Research Center, de 2025, revelou que 34% dos adultos nos Estados Unidos já usaram o ChatGPT – quase o dobro do percentual registrado em 2023.
Outra pesquisa, da AP-NORC, aponta que cerca de 60% dos adultos norte-americanos que usam IA recorrem a ela para buscar informações, o que faz desse o uso mais comum da tecnologia. Entre pessoas com menos de 30 anos, o número sobe para 74%.
Durante anos, o Google foi a plataforma padrão para encontrar todo tipo de resposta: desde “como reiniciar o roteador” até “o que é o teto da dívida”. Essas consultas simples representavam uma fatia enorme do tráfego de buscas. Mas são justamente essas dúvidas rápidas, do dia a dia – tipo “o que isso significa…?” – que o ChatGPT agora responde de forma mais rápida e direta do que uma página cheia de links.
E os usuários perceberam isso. Uma pesquisa com consumidores dos EUA, de 2025, mostra que 55% das pessoas já usam o ChatGPT ou o Gemini para tarefas que antes resolveriam com uma busca no Google.
Outro levantamento, baseado em mais de um bilhão de buscas, constatou que o tráfego vindo de plataformas de IA generativa está crescendo 165 vezes mais rápido do que o das buscas tradicionais. Cerca de 13 milhões de adultos nos EUA já adotaram a inteligência artificial como principal ferramenta para encontrar informações online
O ChatGPT passou a assumir as perguntas para as quais os usuários preferem uma resposta direta.
Isso não quer dizer que as pessoas tenham parado de usar o Google. O que aconteceu foi que o ChatGPT passou a assumir as perguntas para as quais os usuários preferem uma resposta direta, em vez de uma lista de links.
Quer entender uma mudança em uma política pública? Precisa de uma definição rápida? Quer ajuda para responder um e-mail difícil? O ChatGPT é mais rápido, mais direto e soa mais próximo de uma conversa do que de uma busca tradicional.
Mas o Google não ficou parado. Os resultados hoje são bem diferentes do que eram há três anos. A empresa passou a integrar sua IA, o Gemini, diretamente no topo da página. Os resumos “visão geral criada por IA”, que aparecem antes dos links, agora respondem automaticamente a muitas perguntas simples – às vezes com precisão, outras nem tanto.
De qualquer forma, muitos usuários nem chegam a rolar a página além desse resumo. Esse fato, somado ao impacto do ChatGPT, ajuda a explicar por que as chamadas buscas com “zero cliques” dispararam.
Um relatório da Similarweb mostra que o tráfego do Google para sites de notícias caiu de mais de 2,3 bilhões de visitas em meados de 2024 para menos de 1,7 bilhão em maio de 2025. No mesmo período, o volume de buscas por notícias que terminam sem nenhum clique subiu de 56% para 69%.
Relatório mostra que tráfego do Google para sites de notícias caiu de 2,3 bilhões de visitas em 2024 para 1,7 bi em 2025
O Google continua sendo útil para mostrar uma grande variedade de fontes e pontos de vista, mas seus resultados muitas vezes parecem confusos e mais pensados para gerar cliques do que para esclarecer dúvidas. O ChatGPT, por outro lado, entrega respostas mais focadas e em tom de conversa, priorizando explicações em vez de ranqueamentos. Em compensação, nem sempre traz fontes ou a diversidade de visões que uma busca tradicional costuma oferecer.
Quando o assunto é precisão, os dois podem errar ocasionalmente. A vantagem do Google está em permitir que o usuário compare várias fontes. Já o ChatGPT depende mais da qualidade da pergunta e da capacidade do usuário de perceber quando é necessário checar a informação em outro lugar.
O YouTube continua sendo um gigante. Em 2024, a plataforma tinha cerca de 2,74 bilhões de usuários, número que vem crescendo continuamente desde 2010. O que mudou foi o tipo de vídeo que as pessoas procuram.
Hoje, muita gente começa pelo ChatGPT e só depois vai ao YouTube, caso precise ver algo sendo feito na prática. Para tarefas do cotidiano, como “quais especialidades meu plano de saúde cobre” ou “me ajude a escrever um e-mail de reclamação”, as pessoas pedem ao chatbot um resumo, um roteiro ou um passo a passo. O YouTube entra em cena apenas quando é necessário ver o processo acontecendo.
O QUE TUDO ISSO QUER DIZER?
Três anos depois do lançamento, o ChatGPT não substituiu as outras tecnologias – ele reorganizou a forma como usamos todas elas. Os buscadores continuam sendo importantes para pesquisas mais aprofundadas e comparações complexas. O YouTube segue sendo o lugar para ver pessoas reais fazendo coisas reais.
Mas, quando surge uma dúvida, cada vez mais usuários estão recorrendo aos chatbots, e não aos mecanismos de busca. Esse é o verdadeiro efeito ChatGPT: ele não apenas adicionou mais um aplicativo aos nossos celulares – mudou, de forma silenciosa, a maneira como buscamos informações.
Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.

