Somos a espécie com a inteligência mais desenvolvida, com a linguagem mais elaborada, conseguimos pensar por abstrações, temos consciência de nós próprios. E decidimos passar essas nossas características – que nos fazem únicos entre as espécies vivas do planeta – para máquinas. Inventamos a Inteligência Artificial, e agora corremos o risco de ela nos superar.
Segundo Bill Gates, fundador da Microsoft e pioneiro nas tecnologias digitais, a Inteligência Artificial é o avanço tecnológico mais importante das últimas décadas. Tem o potencial de transformar a educação, a saúde, o trabalho e a produtividade humanas. Tecnologias disruptivas assustam e a IA, em particular, traz questões graves sobre a força de trabalho, o sistema legal e preconceitos. Gates alerta para o fato de que a IA comete erros e, portanto, precisa de muito treino e aprimoramento antes de ser utilizada. Os algoritmos têm que corrigir erros sistêmicos, como racismo, sexismo ou outras discriminações.
A IA evoluiu num processo muito veloz e em larga escala e já está chegando a AGI (Artificial General Intelligence), que tem a capacidade de fazer tudo o que um cérebro humano faz, sem os limites de sua memória nem sua lentidão. Será necessário limitar o risco de que venha a sair do controle de criadores e usuários para estabelecer objetivos próprios em conflito com a humanidade.
Nesse cenário incerto e desconhecido, não é fácil para a escola pensar em como pode ou deve preparar as novas gerações. Diante de máquinas pensantes e uma realidade que varia de modo importante e constante, precisamos assegurar a existência e a continuidade do humano, a identidade humana, com seus princípios e valores, com sua ética.
Além dos conhecimentos acadêmicos fundamentais, a educação das novas gerações deve cultivar a consciência de comportamentos e valores que enfatizam a responsabilidade social, a sustentabilidade e a empatia. O importante é a reflexão sobre as interações entre as pessoas e com o ambiente, as condutas humanas, a preocupação com o impacto que a ação de cada um e de todos tem sobre os outros, sobre o ambiente, sobre a vida. A filosofia vai poder ajudar a desenvolver uma educação que tem a ética no seu núcleo, na sua visão de mundo.
O currículo da escola vai integrar as disciplinas que abordam as questões ambientais, sociais e éticas de modo holístico, na exploração de temas de mudanças climáticas e justiça social, considerando as relações sistêmicas e suas consequências no mundo. Os conhecimentos acadêmicos são abordados dentro de contextos e relações relevantes. O reconhecimento da interdependência entre os seres humanos e o ambiente, com o senso de pertencimento e responsabilidade, acontecerá nos projetos interdisciplinares.
Os alunos participam com diálogos e trocas de ideias entre eles, professores e comunidade. As discussões e a reflexão critica sobre escolhas de consumo, uso de recursos e forma de convivência são cotidianas.
Na realidade inquietante de máquinas que pensam e aprendem, é bom lembrar que nossa espécie inventou a ética, os princípios que regem comportamentos e valores que refletem nossa humanidade e que são fundamentais para a coesão e fortalecimento da sociedade.