Japão – Com o avanço da tecnologia de inteligência artificial generativa (IA generativa), empresas japonesas estão expandindo seu uso para além da automação e eficiência operacional. Reportagem da NHK de hoje (26) revela que essa tecnologia começa a ser incorporada também em áreas sensíveis como o treinamento de novos funcionários e a avaliação de desempenho de equipes. A tendência levanta uma pergunta importante: essa transformação também pode afetar o dia a dia dos brasileiros que trabalham no Japão?
IA avalia performance dos colaboradores
A subsidiária da gigante de equipamentos de precisão Ricoh começou, este ano, a utilizar IA generativa no treinamento de novos funcionários da área de vendas. Por meio de óculos especiais, os trainees interagem com personagens gerados por IA que simulam clientes reais. Durante essa simulação, os produtos são apresentados e a IA analisa a performance dos trainees, oferecendo uma avaliação automatizada de suas habilidades.
Segundo o responsável pela área de desenvolvimento humano da empresa, o futuro do trabalho exigirá uma combinação estratégica entre pessoas e inteligência artificial: “Será necessário saber integrar os dois para alcançar os melhores resultados”, afirmou.
Outra grande empresa, a operadora de TV a cabo JCOM, planeja utilizar ainda neste ano a IA generativa na avaliação de desempenho dos atendentes de seu call center. A tecnologia será usada para analisar conversas entre clientes e atendentes, avaliando não apenas o conteúdo das interações, mas também o tom de voz e as emoções envolvidas. A explicação fornecida pelos funcionários também será medida em termos de clareza e objetividade.
Para Takagi Takae, gerente da central de atendimento, a adoção da IA resolve uma falha histórica nos métodos de avaliação: “Antes, apenas cerca de 2% das interações eram analisadas por meio de questionários. Com a IA, todas as interações poderão ser avaliadas em dados, permitindo feedbacks mais justos e uma gestão mais eficaz.”
A disseminação do uso da IA generativa no setor de recursos humanos aponta para uma transformação profunda na cultura corporativa japonesa — e possivelmente, no cotidiano de milhares de estrangeiros, incluindo os mais de 300 mil brasileiros que vivem no Japão, muitos dos quais atuam em fábricas, serviços e centros de atendimento ao cliente.
A nova realidade levanta questões práticas e éticas: os trabalhadores brasileiros estarão preparados para lidar com essa nova forma de avaliação automatizada? Os critérios usados pela IA considerarão as nuances culturais e linguísticas? Até que ponto as decisões automatizadas serão transparentes e justas?
Há riscos
Embora o uso da IA prometa mais eficiência e objetividade, especialistas alertam para a necessidade de supervisão humana e de políticas que garantam que a tecnologia não reforce desigualdades ou cause pressões indevidas sobre minorias no ambiente de trabalho.
Enquanto a tecnologia avança rapidamente, cabe às empresas, sindicatos e à comunidade brasileira no Japão acompanhar de perto essas mudanças e participar do debate: o futuro do trabalho não é apenas tecnológico — é também humano.
Foto: Reprodução NHK
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