A Ethereum, maior rede de blockchain para criação de contratos inteligentes do mundo, completou 10 anos hoje. Criado por Vitalik Buterin, o protocolo está longe de ser unanimidade, apesar de ser considerado o mais resiliente e testado pelo tempo no mundo dos criptoativos depois do bitcoin.
Mesmo assim, o ether (ETH), segunda maior criptomoeda do mundo em valor de mercado, não conseguiu retomar sua máxima histórica de US$ 4.878 no atual ciclo. O que não significa que os investidores não tenham motivo para comemorar.
Impulsionado pela recente atualização Pectra e pelo forte fluxo comprador nos fundos negociados em bolsa (ETFs) de ether à vista nas bolsas americanas, a criptomoeda sobe mais de 53% no mês.
Houve mais compras do que vendas nos ETFs de Ether em todos os últimos 18 pregões dos mercados americanos, totalizando um fluxo de US$ 4,9 bilhões para os fundos da criptomoeda.
Segundo Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset, no mês de julho inteiro o ether está com uma performance invejável, enquanto o bitcoin está com uma valorização bem mais tímida (alta de 9,5%), mas isso vem depois de anos de comportamento inverso.
“Quando medimos o ether em termos do bitcoin no par ETH/BTC desde a máxima de 2022, logo depois do ‘Merge’ [atualização que mudou a forma de validação do Ethereum], foi uma queda de 80% de um em relação ao outro”, explica Fleury. “Ele está recuperando uma parte do terreno perdido.”
O recuo veio em um momento no qual outras blockchains pareciam que iam tomar o lugar do grande projeto de Buterin. A principal delas era a Solana, considerada mais rápida e com taxas cobrados por transação consideravelmente menores.
Apoiado no lançamento de “memecoins” (as moedas digitais sem muito fundamento, baseadas em piadas de internet), o token da Solana disparou 830% em 2023 e 110% em 2024. O ETH subiu 96% e 42% respectivamente nos mesmos anos.
Já em 2025, a exaustão do rali das memecoins depois de casos como o lançamento da memecoin oficial do presidente americano, Donald Trump, e o colapso $LIBRA, promovida pelo líder argentino, Javier Milei, derrubaram a solana. O ether, por sua vez, disparou depois de sua atualização de maio, a Pectra, que reduziu as taxas de transação.
“O Ethereum diminuiu muito as taxas com as atualizações, chegou a centavos por transação. É uma blockchain que também tem vantagens como o tamanho que a rede alcançou. Existe muita descentralização, por ter muitos nós”, avalia o gestor da QR Asset.
Olhando para frente, o Ethereum ainda pode ser beneficiado pelo impulso regulatório nas stablecoins, uma vez que o Congresso dos Estados Unidos aprovou recentemente o “Genius Act”, que reconheceu o mercado de stablecoins legalmente e regulou sobre como este tipo de criptomoeda pode operar. “Dado que uma parte substancial da atividade de stablecoins ocorre na rede Ethereum, a perspectiva de um arcabouço regulatório mais claro serviu como catalisador para o otimismo dos investidores”, diz a Hashdex em relatório.
Fora isso, cresce o número de empresas que estão usando o ether como reserva de valor em tesouraria como a Strategy, de Michael Saylor, notabilizou-se por fazer com o bitcoin. Guilherme Nazar, vice-presidente regional da Binance para a América Latina, diz que o Ethereum se posicionou no centro da interoperabilidade entre o mercado tradicional e o universo cripto.
“Com menos intermediários, maior transparência e eficiência, a rede tem o potencial de democratizar o acesso a mercados, beneficiando empresas de todos os setores e transformando a economia global”, avalia Nazar.
Sebastian Serrano, CEO e cofundador da exchange Ripio, diz que no longo prazo o Ethereum continuará sendo a plataforma preferida para construir soluções descentralizadas sérias, especialmente por parte de instituições, governos e empresas que buscam segurança e interoperabilidade. “Apesar dos ciclos de mercado, o Ethereum segue como a rede mais preparada para sustentar a próxima geração de inovações em blockchain”, aponta.