O governo dos EUA está restringindo o uso de chips de inteligência artificial da Huawei em qualquer lugar do mundo, uma repressão sem precedentes à gigante chinesa de tecnologia, apesar da recente redução da guerra tarifária entre Washington e Pequim.
O Departamento de Indústria e Segurança (BIS, na sigla em inglês), parte do Departamento de Comércio dos EUA, emitiu, na terça-feira (13), novas diretrizes sobre chips para inteligência artificial. Entre elas, um “alerta” à indústria de tecnologia de que o uso de chips avançados da China – ou seja, os chips Ascend da Huawei – sem licença é uma violação das regras de controle de exportação dos EUA.
Ao explicar a medida, o BIS afirmou que o desenvolvimento e a produção dos chips Ascend “provavelmente” violam os controles de exportação dos EUA. Assim, qualquer pessoa ou empresa, dentro ou fora dos EUA, que os utilize sem autorização do BIS também violaria as regras e poderia enfrentar “penalidades criminais e administrativas substanciais, incluindo prisão, multas, perda de privilégios de exportação ou outras restrições”.
Os chips de IA Ascend da Huawei estão ganhando popularidade na China, especialmente porque a Nvidia, desenvolvedora líder de chips de IA, enfrenta controles de exportação mais rigorosos nos EUA, o que dificulta o atendimento aos clientes chineses. O governo chinês também está aconselhando empresas locais a adotarem mais soluções nacionais, como as fabricadas pela Huawei. Empresas de tecnologia chinesas como a iFlytek e a SenseTime são usuárias fiéis da Huawei.
O CEO da Nvidia, Jensen Huang, descreveu a Huawei mais de uma vez como uma concorrente formidável.
Um dia após Washington e Pequim anunciarem acordo
A mais recente repressão à empresa chinesa ocorreu apenas um dia depois de Washington e Pequim anunciarem um acordo para reduzir temporariamente as tarifas por 90 dias, visto como um importante ponto de virada nas tensões comerciais entre os dois lados.
Jonah Cheng, diretor de investimentos da J&J Investment, afirmou que a mais recente regra dos EUA teria um impacto limitado na indústria de semicondutores, visto que os chips Ascend da Huawei já estão em falta.
“Os chips Ascend não são suficientes nem para o uso próprio da Huawei, muito menos para o fornecimento internacional”, disse Cheng, que acompanha a indústria de chips há décadas. “Os controles de exportação de janeiro, que restringem fabricantes e embaladores de chips a fornecer para clientes chineses, têm um impacto muito maior na indústria chinesa de chips.”
Regra de Difusão de IA da era Biden
O BIS também emitiu três novas diretrizes sobre controles de exportação de chips, após revogar oficialmente a Regra de Difusão de IA da era Biden, que classificava os países em três níveis e impunha limitações aos níveis 2 e 3. Segundo a regra, até mesmo aliados como o México teriam enfrentado restrições sobre a quantidade de chips avançados de IA que poderiam importar dos EUA. O BIS afirmou que emitirá uma regra substituta “no futuro”.
A revogação da Regra de Difusão de IA de Biden representa uma grande vitória para os fabricantes de chips dos EUA, particularmente a Nvidia, cujas ações subiram mais de 5% na terça-feira (13) após o anúncio do BIS.
Huang tem feito lobby por regras de controle de exportação de chips mais flexíveis, argumentando que os EUA estão perdendo oportunidades enquanto Washington e Pequim competem para dominar a era da IA.
“O ecossistema de inteligência artificial se baseará em nosso padrão, em vez do padrão de outra empresa”, disse Huang ao público na Conferência Milken, em Los Angeles, na semana passada. “Se não atendermos a um mercado específico, não há dúvida de que outra empresa entrará em cena.”
Ele disse que empresas como a Huawei, “uma das empresas de tecnologia mais formidáveis do mundo”, entrariam em mercados onde a Nvidia está ausente, “como já fizeram na China”.
Huang, que fez parte de uma delegação liderada pela Casa Branca à Arábia Saudita, disse, na terça-feira, que a Nvidia venderá mais de 18 mil de seus chips Blackwell para a empresa saudita de IA Human.
Um investidor de Dubai disse que os países do Oriente Médio ainda estão abertos às tecnologias de IA dos EUA e da China, mas a nova regra que visa os chips da Huawei pode forçá-los a escolher uma delas.
“O reino tem grandes ambições para a IA e não quer escolher um lado se não for necessário, pois há enormes oportunidades em ambos os mercados”, disse o investidor.
Chiu Shih-fang, analista sênior da cadeia de suprimentos de tecnologia do Instituto de Pesquisa Econômica de Taiwan, disse que a nova regra do governo Trump para os chips da Huawei sugere que os EUA continuarão a reforçar os controles sobre setores específicos, apesar da recente redução da guerra comercial.
“Para garantir a vantagem estratégica dos EUA, espera-se que as negociações comerciais de Washington com outros países também se concentrem no controle de tecnologias na China, bem como na repressão à lavagem de dinheiro para exportações”, disse.
Tan Albayrak, advogado de comércio internacional da Reed Smith, disse que ainda não se sabe como a regra sobre os chips Huawei Ascend seria implementada na prática.
“Mas uma coisa é certa: isso levará os participantes do mercado a escolherem ainda mais lados entre os Estados Unidos e a China”, disse Albayrak. Ele acrescentou que está cada vez mais difícil para as empresas manterem ambos os países satisfeitos, à medida que suas respectivas leis e regulamentações de controle de exportação entram em conflito.
A Huawei não comentou o assunto.