O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou nesta sexta (23/8) uma fábrica que vai produzir medicamento pioneiro, com tecnologia nacional desenvolvida por empresa inteiramente brasileira, em Hortolândia (SP). A fábrica, da EMS, é a primeira do Brasil capaz de produzir e comercializar para todo o mundo as moléculas de liraglutida e semaglutida, entre outras, destinadas ao tratamento da diabetes e obesidade, a partir de polipeptídeo sintético.
Carlos Sanchez, principal executivo da EMS, fundada há 60 anos por seu pai, Emiliano Manoel Sanchez, cujas iniciais compõem sigla da empresa, foi o primeiro a falar na cerimônia de inauguração. Ele destacou a participação e o apoio do Governo Federal na trajetória: “Fabricamos desde a matéria-prima até o produto terminado e foi graças aos esforços de pesquisadores brasileiros em Hortolândia, com recursos brasileiros, com o apoio de várias áreas do Governo, já há longa data, que a gente conseguiu atingir esse patamar”, declarou.
Sanchez afirmou que o objetivo da EMS, que já exporta pra 55 países, é tornar-se cada vez mais internacional. “Desenvolvemos o produto do zero, com tecnologia nacional, para sermos globais”. Ele destacou também que as pesquisas para desenvolver os produtos da nova fábrica tiveram início em 2003 com o apoio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência de investimento estatal.
Leia também
• Nova fábrica para tratamento de diabetes reforça Complexo Industrial da Saúde
• Alckmin quer fortalecer complexo industrial para enfrentar desafios da saúde
• Lula exalta reindustrialização em fábrica de medicamentos para diabetes e obesidade
A EMS, uma das empresas do Grupo NC, emprega 6.700 trabalhadores e, segundo Sanchez, a nova produção vai impactar na contratação de mais quadros especializados. “Hoje o pesquisador brasileiro não precisa mais terminar a universidade e ir trabalhar nos Estados Unidos por falta de oportunidade. Ao contrário, nós estamos repatriando vários pesquisadores que querem voltar ao Brasil, porque aqui vão ter lugar para trabalhar”.
Com área construída de cerca de 2,5 mil m2, a fábrica teve investimento de R$ 70 milhões e contou com créditos do BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social) e da Finep. A nova planta tem capacidade de produção de 20 milhões de unidades de canetas de diagnóstico por ano e deve gerar 150 novos empregos e cerca de outros mil de forma indireta.
Lula: país grande exporta tecnologia e inteligência
“A expansão de uma empresa farmacêutica brasileira como a EMS é mais uma demonstração daquilo que sempre reafirmo: a capacidade realizadora de nossos empresários e a qualidade da mão de obra brasileira, sempre elogiada em todo o mundo”, observou o presidente Lula em seu discurso.
Lula afirmou que a nova fábrica da EMS, de alta tecnologia, sinaliza a busca por um novo projeto de país. “Este país só será grande quando estiver exportando conhecimento, tecnologia e inteligência”, disse, contrapondo essa produção à de matérias-primas.
O presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, destacou que o banco dispõe de uma linha de R$ 500 milhões para as empresas que fornecem ao SUS e outra de R$ 250 milhões para startups, pequenas empresas de base tecnológica, “porque assim nasce a inovação e, com esses investimentos, o Brasil está mudando de patamar”.
O complexo industrial de Hortolândia (SP) abriga a sede administrativa e é parte relevante das atividades operacionais da EMS. Nele está localizado o centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da empresa, com mais de 650 funcionários dedicados e mais de 100 patentes registradas no mundo. Com 6,7 mil empregados, a farmacêutica responde pela maior parte da receita líquida do Grupo NC. No Brasil, ela é líder em medicamentos genéricos desde 2013.
ca r
Lula, ministros, executivos e trabalhadores da EMS durante inauguração
Para a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, a nova fábrica é um passo em busca da autonomia do Brasil no setor farmacêutico. “Não se pode viver com a dependência. Durante a pandemia, vimos como isso é nefasto”, disse. Santos ainda destacou que os investimentos estatais vêm de vários fundos que convergem para objetivos únicos, definidos pelo plano Nova Indústria Brasil (NIB), do Governo Federal. O Governo espera superar o déficit comercial neste segmento, atualmente em torno de R$ 570 milhões.
Vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin afirmou que a nova fábrica é indicador de que o NIB está se consolidando. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que as políticas de estímulo ao Complexo Industrial da Saúde “significam o futuro do Brasil”. Ela lembrou que a EMS tem parcerias com 12 laboratórios públicos para produção de medicamentos, o que, segundo a ministra, demonstra que há articulação na política de fomento estatal.
Potencial de exportação
A EMS atua nos segmentos de prescrição médica, genéricos, medicamentos de marca, OTC e hospitalar e exporta para 56 países. Entre os medicamentos que serão produzidos na fábrica recém-inaugurada estão a liraglutida e, também, a semaglutida, princípio ativo do medicamento Ozempic, cuja patente dinamarquesa vence em março de 2026. A EMS está na corrida para registro do 1° genérico desse produto nos EUA.