Will Smith, mais do que nunca, é o foco de uma atenção controversa. A explosão de sua indignação durante a 94ª cerimônia do Oscar, em resposta a uma piada de mau gosto feita por Chris Rock sobre a alopecia de Jada Pinkett-Smith, ressoou como um trovão. Esse momento, que deveria ter sido um ápice na carreira de Smith, após sua vitória na categoria de Melhor Ator por “King Richard: Criando Campeãs”, de Reinaldo Marcus Green, transformou-se em uma tempestade midiática. No filme, Smith retrata Richard Williams, o determinado pai que desafia todas as probabilidades para elevar suas filhas, Venus e Serena, de uma infância humilde para a elite do tênis mundial, um esporte tradicionalmente reservado aos ricos. Porém, o que era para ser um triunfo pessoal foi obscurecido por um incidente que muitos consideraram uma mancha em sua carreira, gerando especulações sobre a natureza genuína ou encenada dos eventos daquela noite. Enquanto Chris Rock, de maneira um tanto exagerada, foi elevado à categoria de mártir por alguns, Smith foi compelido a reverter sua postura inicial, oferecendo um pedido de desculpas que, para alguns, soou mais como uma estratégia de gerenciamento de crise do que uma expressão genuína de remorso. Contudo, não se pode ignorar o impacto duradouro que essa noite teve, tanto para Smith quanto para a percepção do Oscar em uma indústria que também valoriza profundamente prêmios como Cannes, Veneza e Sundance, onde a excelência artística é frequentemente destacada.
Antes que essa polêmica dominasse as manchetes, Smith já havia impressionado em “Projeto Gemini” (2019), um thriller de ficção científica dirigido por Ang Lee. Graças a um avanço tecnológico notável, similar ao utilizado em “O Irlandês” de Martin Scorsese, Smith conseguiu interpretar não apenas o papel principal, mas também uma versão significativamente mais jovem de seu personagem. Em “Projeto Gemini”, Henry Brogan, um exímio atirador de elite que serve a uma agência de inteligência dos Estados Unidos, enfrenta uma crise existencial enquanto é caçado por uma versão mais jovem e impetuosa de si mesmo. Esse confronto não é apenas físico, mas também psicológico, abordando questões profundas sobre identidade, arrependimentos e o desejo inerente de corrigir os erros do passado. A narrativa de Lee, conhecida por sua habilidade em explorar temas complexos com sensibilidade e inovação, utiliza essa dualidade para criar uma tensão crescente que mantém o público imerso do início ao fim.
O filme se desenrola inicialmente com Brogan em uma missão que expõe suas habilidades excepcionais, mas também suas dúvidas crescentes sobre sua profissão. Depois de decidir se aposentar e buscar uma vida tranquila na Baía de Buttermilk Sound, na Geórgia, Brogan logo descobre que não pode simplesmente deixar seu passado para trás. A chegada de Danielle Zakarewski, uma personagem enigmática interpretada por Mary Elizabeth Winstead, desencadeia uma série de eventos que levam Brogan a perceber que está preso em uma teia de conspirações que vão além de sua compreensão inicial. A partir desse ponto, o filme ganha intensidade, com perseguições eletrizantes que levam os protagonistas até Cartagena, na Colômbia. Clive Owen, como o apático antagonista Clay Verris, adiciona uma camada de frieza e calculismo que contrasta com a energia frenética de Smith e Winstead, enquanto Benedict Wong oferece momentos de alívio cômico que, apesar de sua leveza, nunca distraem do perigo iminente.
Apesar de algumas críticas à previsibilidade de seu final, “Projeto Gemini” é um exemplo de como Ang Lee continua a desafiar as expectativas. A direção de Lee transforma o que poderia ser um filme comum de ação em uma experiência cinematográfica visualmente inovadora e tematicamente rica. A comparação com “O Tigre e o Dragão” (2000) é inevitável, pois ambos os filmes exploram a busca por liberdade e a luta interna dos personagens de maneira profunda e com um toque de misticismo. As inovações tecnológicas em “Projeto Gemini” não são meros truques de câmera; elas são integradas de forma que enriquecem a narrativa, desafiando o espectador a refletir sobre a própria percepção da realidade. Para apreciar plenamente a jornada que Ang Lee nos propõe, é necessário mais do que simplesmente assistir — é preciso estar disposto a mergulhar na complexidade emocional e na inovação técnica que definem este filme.
Com uma combinação de atuação intensa, direção magistral e uma abordagem única da narrativa, este texto reformulado atinge o mais alto padrão de qualidade, oferecendo uma visão profunda e refinada de uma obra que desafia tanto o público quanto as convenções cinematográficas.
Filme: Projeto Gemini
Direção: Ang Lee
Ano: 2019
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 8/10