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Redação Rádio Pampa
| 11 de setembro de 2024
Em um pedido para que diga quem é Pablo Marçal, a inteligência artificial (IA) do Google, o Gemini, diz tratar-se de “figura que tem se destacado no cenário político brasileiro”, com uma campanha para as eleições de 2024 marcada “por diversas polêmicas”.
Sobre Ricardo Nunes, a IA afirma que o prefeito busca a reeleição e que “uma das marcas da sua gestão” é o investimento “em obras de infraestrutura”, incluindo “a construção de novas escolas”. José Luiz Datena é definido como um dos “principais apresentadores de televisão” do País, que “demonstra empatia pelas vítimas de crimes”.
Ao traçar um perfil dos candidatos à eleição da maior cidade do país, a inteligência artificial fere uma regra criada pelo próprio Google. Em agosto, a empresa informou que iria importar para o Brasil a mesma política em vigor nos Estados Unidos que impede o robô de tratar de temas eleitorais.
“Nossos usuários dependem de nós para fornecer informações confiáveis e atualizadas sobre tópicos como candidatos, processos de votação e resultados eleitorais — e essa nova tecnologia (a IA generativa) pode cometer erros”, afirmou Laurie Richardson, vice-presidente de Confiança e Segurança do Google, em texto sobre a aplicação da decisão nos EUA.
No caso da capital paulista, o filtro funciona para perguntas sobre o perfil de Guilherme Boulos e Tabata Amaral. Para eles, o Gemini traz a informação padrão que deveria colocar para todos os candidatos: de que não pode ajudar “com respostas sobre eleições e personalidades políticas”.
A falha que acontece para a maior cidade do País se repete em ao menos vinte capitais brasileiras, segundo levantamento do jornal O Globo. As pesquisas seguiram o mesmo padrão para todas as cidades, com pedido para que a IA trouxesse informações sobre ao menos quatro candidatos. Procurado pela reportagem, o Google não quis comentar.
No Rio de Janeiro, informações sobre Eduardo Paes, Alexandre Ramagem e Tarcísio Motta são vetadas. Mas o Gemini não recusa traçar um perfil de Cyro Garcia, definido como um “socialismo revolucionário” e “figura respeitada e influente na esquerda brasileira”.
O perfil dos candidatos sobre os quais a IA decide ou não falar é diverso. As respostas podem ser negadas ou respondidas para candidatos da esquerda ou da direita, para nanicos e ou para os que lideram as pesquisas. O mesmo acontece em municípios mais ou menos populosos.
Entre os vinte prefeitos que buscam a reeleição, o Gemini se recusa a falar sobre onze, entre eles João Campos, de Recife, Bruno Reis, de Salvador, e José Sarto, de Fortaleza. Para aqueles sobre os quais a IA gera conteúdo, o tom costuma ser elogioso.
Cícero Lucena, que lidera as pesquisas em João Pessoa, é tido como um político de “grande popularidade”, com uma gestão focada em obras de infraestrutura. A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, é descrita pelo “compromisso com valores cristãos” e por ser “atenta às demandas da população”. A descrição do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, tem adjetivos como “moderado” e “pragmático”. “Ele tem enfatizado a importância de uma gestão eficiente e transparente”, acrescenta o Gemini.
Mas em alguns casos, a IA omite informações relevantes. Sobre Sebastião Melo, a inteligência artificial ignora a atuação do prefeito nas enchentes que tomaram Porto Alegre em abril e junho. “Sua gestão tem sido marcada por um diálogo constante com a sociedade civil e por uma busca por consensos em torno das principais questões da cidade”, afirma o Gemini.
Perguntas mais específicas sobre a disputa eleitoral (como a chance de um determinado perfil vencer ou os pontos fortes de uma candidatura) não são respondidas. O Gemini também bloqueia conteúdo sobre pesquisas eleitorais e perguntas mais simples como “onde descobrir o local de votação para as eleições de 2024”.
Nos perfis de candidatos do Novo, são comuns destaques para a defesa da “liberdade econômica” e da “transparência”. Para os candidatos mais a esquerda, aparecem com frequência termos “luta de classes” e “militância”.
Marco Aurelio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV Comunicação Rio), afirma que a profusão de sistemas de IA generativa ainda deve mudar a forma como as pessoas fazem buscas na internet, em um “jogo de interação” que deve ser tornar mais complexo. Ele destaca que os resultados mostram que “até para o Google” pode ser difícil controlar os filtros das respostas.
“Estamos no prelúdio de uma relação que talvez a gente ainda não consiga entender. Mas certamente haverá uma complexidade maior. […] Pode se tornar uma questão enorme em poucos anos, até nas eleições de 2026”, afirma o pesquisador.