Protagonista no debate fiscal dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e na interlocução com agentes financeiros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), é visto por gestores como figura forte na atual administração, mas não o suficiente para dar lastro às metas assumidas para equilibrar as contas públicas.
É o que mostra o Barômetro do Mercado, pesquisa especial feita pelo InfoMoney, divulgada nesta sexta-feira (30), durante a Expert XP 2024. O levantamento, realizado entre os dias 26 e 28 de agosto, ouviu 44 gestoras de recursos, que juntas somam patrimônio superior a R$ 500 bilhões.
O levantamento, que consultou casas famosas no mercado, como Kinea, SPX, WHG, Western, Jive e Schroders, mostra que mais da metade dos entrevistados (55%) consideram Haddad um ministro forte no governo Lula.
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Apenas 11% dos participantes têm visão oposta, ao passo que 32% veem como moderada a proeminência do chefe da equipe econômica dentro do Poder Executivo. Vale ressaltar que, conforme acordado com as gestoras, as respostas são divulgadas apenas de forma agregada.
Considerando uma escala de 1 a 5, em que a nota mais baixa significa fraqueza e a mais alta força, a média das respostas dos gestores quando perguntados sobre a voz de Haddad no governo ficou em 3,45. Já a mediana ficou em 4,00.
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A percepção de força de Haddad dentro do governo, no entanto, contrasta com um persistente ceticismo fiscal. Indagados sobre os principais riscos no horizonte para o mercado brasileiro, 84% dos gestores entrevistados apontaram a agenda relacionada às contas públicas do país. Mais do que o dobro da segunda colocada: a inflação, com 36% das menções (cada entrevistado podia indicar 3 entre 11 pontos apresentados).
“Estratégia de elevar a arrecadação se esgotou, tentativa agora de preservação dos gastos para chegar em 2026 com a economia ainda em pleno emprego. O mais provável é ser pego por desvalorizações adicionais em 2025 e 2026, inflação acima da meta o tempo todo e a necessidade adiada ao máximo de elevar novamente a Selic”, disse um gestor. Conforme acordado com os participantes, nenhuma resposta é identificada.
A desconfiança fica clara com o fato de que apenas 1 dos 44 gestores entrevistados acreditar que o governo Lula atingirá o centro da meta fiscal, de déficit zero, em 2024. Outros 31% esperam um desequilíbrio de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) − limite da banda de tolerância estabelecida pelo novo marco fiscal.
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A maioria dos especialistas do mercado financeiro consultados (67% da amostra), porém, acredita que o desequilíbrio será maior. Para 43%, ele deve ficar entre 0,25% e 0,50% do PIB, e outros 17% acreditam em um déficit até 0,75%, enquanto os 7% restantes projetam um buraco superior para as contas públicas.
O quadro tampouco é positivo para o próximo ano. Mesmo depois de o governo ter alterado a meta fiscal de um superávit de 0,5% do PIB para outro ciclo de déficit zero, apenas 11% dos gestores entrevistados veem chances elevadas de cumprimento, considerando a banda de tolerância (que na prática permitiria um déficit de até 0,75%).
Para 75% dos participantes da pesquisa, são baixas as chances de o governo cumprir o objetivo estabelecido para 2025. Em uma escala de 1 a 5, a probabilidade média apontada para esse cenário ficou em 2,16. Já a mediana das respostas foi de 2,00.
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O pessimismo também contrasta com o anúncio feito pela equipe econômica de uma série de medidas de revisão de despesas que deverão gerar uma economia de R$ 25,9 bilhões para os cofres públicos no ano que vem.
As ações, concentradas sobretudo em revisões de cadastros do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e reavaliações de benefícios concedidos por incapacidade temporária, são consideradas fundamentais pelo governo na busca pelo equilíbrio fiscal e deverão constar do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, que o Palácio do Planalto encaminhará nesta sexta-feira (30) ao Congresso Nacional.
Há uma avaliação generalizada no mercado (e até entre integrantes da equipe econômica do governo) de que a agenda de ajuste fiscal pelo lado das receitas estaria próxima do esgotamento e que o caminho para equilibrar as contas passaria necessariamente por cortes mais expressivos de gastos − o que também inclui uma rediscussão das despesas obrigatórias do Orçamento.
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No entanto, agentes financeiros apontam dificuldades políticas para o avanço desta agenda − seja dentro do próprio Poder Executivo ou no Congresso Nacional, onde o governo precisa negociar para conquistar o apoio necessário.
Para 43% dos gestores consultados, é baixa a capacidade do Palácio do Planalto de aprovar proposições relacionadas à pauta econômica no parlamento. Trata-se do mesmo percentual daqueles que veem condições moderadas. Apenas 14% são otimistas quanto às condições de o Palácio do Planalto impor tal agenda no Legislativo.
Como foi feita a pesquisa?
Esta edição do Barômetro do Mercado foi realizada entre os dias 26 a 28 de agosto, e contou com a participação de 44 gestoras do mercado financeiro. Dentre elas, 24 autorizaram ser mencionadas na amostra.
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São elas: AMW, Bahia Asset, BOCOM BBM Asset, Compass, Daycoval Asset, Gauss Capital, Hashdex, Hedge Investments, JiveMauá, Joule Asset Management, Kinea Investimentos, MOS Capital, Novus Capital, Oby Capital, Quantitas Asset Management, Schroder Investment Management Brasil, SPX Capital, SVN Gestão, Tivio Capital, Truxt Investimentos, Western Asset, WHG, XP Asset Management e Zion Invest.
Mais da metade das gestoras participantes (57%) administram um patrimônio de R$ 1 bilhão a R$ 10 bilhões. Na sequência, vêm as casas com algo entre R$ 10 bilhões e R$ 50 bilhões (23% da amostra). Duas gestoras (5%) ocupam a faixa mais elevada, com R$ 50 bilhões de patrimônio.