O Android prepara-se para receber a sua maior atualização visual dos últimos anos, denominada Material You Expressive. Contudo, em vez de ser a estrela principal na sua grande conferência anual de programadores, a Google optou por anunciar esta novidade num evento transmitido no YouTube na semana que antecedeu o I/O. Se uma mudança tão significativa na linguagem de design do sistema operativo móvel mais popular do mundo não é cabeça de cartaz, o que será? Adivinhou: Inteligência Artificial.
Espera-se que a Google dedique grande parte do seu evento I/O, que arranca já na próxima terça-feira, 20 de maio, a falar sobre o Gemini, detalhando as suas melhorias e a sua integração cada vez mais profunda nos produtos que os consumidores utilizam diariamente.
Para quem acompanhou as últimas edições do Google I/O, esta tendência não é surpreendente. Em 2023, o Android mal foi mencionado, enquanto o CEO Sundar Pichai repetia o termo “IA” inúmeras vezes. O ano anterior seguiu o mesmo guião. Esta é uma clara demonstração da aposta frenética da Google, e de outras tecnológicas, em lançar funcionalidades de Inteligência Artificial a um ritmo alucinante.
No entanto, de certa forma, menos destaque para o Android no I/O pode até ser positivo.
Android recebe a maior lufada de ar fresco visual em anos, mas IA é a estrela da Google
A Google revelou o Material You Expressive, uma evolução do design Material You, que promete ainda mais opções de personalização, novas animações, cores vibrantes e uma fluidez melhorada. Esta atualização, que chegará com o Android 16, visa tornar a experiência de utilização mais pessoal e interativa, com elementos como tipografia mais proeminente e novos controlos nas definições rápidas. As aplicações da própria Google serão as primeiras a adotar este novo visual, que também se estenderá ao Wear OS 6. O anúncio antecipado, feito através do blog da Google e outros canais, permitiu que o Android tivesse o seu momento, antes da avalanche de novidades de IA esperada para o I/O.
Gemini e mais IA: O prato principal do Google I/O
Não restam dúvidas de que a Inteligência Artificial, e em particular o modelo Gemini, será o grande foco do Google I/O 2025. Sundar Pichai tem vindo a sublinhar a importância da IA em todas as frentes, e o evento deverá servir de palco para demonstrar como a Google está a infundir esta tecnologia em todos os seus serviços, desde a Pesquisa, ao Chrome, Gmail, Meet e até na sua plataforma de Realidade Mista (XR), da qual se aguardam mais novidades, incluindo os seus muito falados óculos. O historial recente mostra um I/O cada vez mais centrado em IA, deixando outras áreas, como o Android, com um papel secundário na apresentação principal.
Android fora dos holofotes do I/O: Afinal, pode ser positivo?
A Google tem feito um esforço considerável nos últimos anos para levar novas funcionalidades a um maior número de telemóveis, mesmo que não estejam a executar a versão mais recente do sistema operativo. Fabricantes como a Samsung e a Motorola têm os seus próprios calendários de atualização, pelo que a disponibilização de novidades através do Google Play Services e atualizações de aplicações significa que estas chegam mais rapidamente aos utilizadores. Esta estratégia combate uma das críticas mais antigas ao Android: a lentidão e fragmentação na distribuição de novas funcionalidades.
Adicionalmente, a Google adotou um novo calendário para o Android 16, com um lançamento principal previsto para o segundo trimestre (junho de 2025) e lançamentos de funcionalidades noutros trimestres. Esta abordagem deverá permitir que mais dispositivos beneficiem das novidades de forma mais célere. Assim, um menor destaque do Android no I/O pode simplesmente refletir uma estratégia de desenvolvimento e distribuição mais contínua e ágil.
Febre da IA: Entre promessas e a realidade, a paciência esgota-se?
Se o Google I/O deste ano for, de facto, um espetáculo de Inteligência Artificial, corre o risco de soar a algo que já vimos antes. Nos últimos dois anos, as empresas de tecnologia têm promovido incessantemente a IA, com muitas antevisões de funcionalidades revolucionárias que estariam “ao virar da esquina”. No entanto, a entrega efetiva dessas promessas nem sempre acompanha o entusiasmo inicial.
A Google, justiça seja feita, tem lançado várias funcionalidades de IA. A empresa possui inúmeras “superfícies” para as integrar, desde a Pesquisa, passando pelo Gmail, Chrome, Meet, e a já mencionada plataforma XR. Há muito por onde explorar.
Fica, no entanto, a sensação de que podemos estar a atingir um ponto de saturação, onde as promessas de tempo e esforço poupados graças à IA começam a perder o brilho. Ainda assim, é de apreciar que a Google tenha dado ao Android o seu próprio espaço para brilhar antes do grande evento, em vez de o relegar a meras menções entre os anúncios de Inteligência Artificial. Resta esperar para ver que trunfos a gigante tecnológica tem na manga para o seu I/O 2025.