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IA desperta temor de bolha similar à da internet | Editorial

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Desde que a OpenAI lançou o ChatGPT, em 2022, o mercado acionário americano valorizou-se 75% — e as empresas cujo negócio está atrelado à inteligência artificial (IA) responderam por 80% dessa valorização. Ao mesmo tempo, a geração de empregos nos Estados Unidos caiu 30% no período (apesar de o nível de desemprego continuar baixo). Não há registro de divergência semelhante, com alta nas ações e queda na criação de postos de trabalho.

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O principal fator do desaquecimento, dizem os economistas, foi a alta nos juros. As maiores perdas de postos de trabalho estão em setores como mineração ou indústria, afetados pelo choque tarifário de Donald Trump, e não nos ligados à tecnologia, constata análise do jornalista Derek Thompson. Ainda assim, o impacto da automatização não pode ser ignorado. Praticamente todas as empresas puseram a IA em seus planos, a começar pelos próprios protagonistas da revolução digital. Só a Amazon planeja substituir 500 mil empregos por robôs, segundo documentos revelados pelo New York Times. A aposta na IA tem levado à construção de gigantescos data centers, com consumo de energia galopante. “Parece haver duas economias agora — uma pujante da IA e uma sem brilho com todo o resto”, escreveu Thompson. Pelas estimativas, neste ano o PIB americano cresceria, em vez de 2%, apenas 0,6% ou mesmo 0,1%, não fossem os investimentos colossais em IA.

A situação é insólita. De um lado, espera-se que a IA provoque um salto de produtividade jamais visto, afetando atividades que vão de finanças à saúde, da educação ao agronegócio. Para atender à demanda, os investimentos projetados somam US$ 2 trilhões até 2030. De outro lado, não há modelo de negócio consolidado. Daí os temores de mais uma bolha no mercado acionário, semelhante à das empresas de internet no final dos anos 1990.

A OpenAI deverá faturar perto de US$ 13 bilhões neste ano, mas é avaliada em US$ 500 bilhões. A NVidia, que produz os chips essenciais para a IA funcionar, se tornou a empresa mais valiosa da História, avaliada em mais de US$ 4 trilhões. Há uma teia de investimentos, empréstimos e participações acionárias cruzadas ligando as duas, mais Microsoft, Oracle, Meta, Intel, AMD, xAI e outros empreiteiros da IA. Se houver dúvida sobre a capacidade do mercado de sustentar a demanda robusta que se projeta no futuro, todo o edifício desmorona.

Relatório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts constatou que, até agora, 95% das organizações não obtiveram retorno de seus investimentos em IA. Estudo de Harvard e Stanford questiona os benefícios, afirmando que ainda falta qualidade ao conteúdo gerado. Os últimos modelos lançados pela OpenAI e pela Anthropic enfrentaram dificuldades no desempenho, afastando a meta de desenvolver sistemas com comportamento semelhante ao humano (a inteligência artificial geral, ou IAG). Some-se a isso a competição barata dos modelos chineses como o DeepSeek, e está semeada a dúvida.

O paralelo com a bolha do final dos anos 1990 é intrigante, mas também pode servir de alento. Afinal, mesmo depois das perdas quando a bolha estourou, hoje ninguém tem mais dúvida de que a internet transformou todos os negócios, multiplicou a produtividade e gerou muito mais empregos do que destruiu. Se ocorrer o mesmo com a IA, não há motivo para pânico.

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