O Brasil é hoje o terceiro maior usuário no mundo do ChatGPT, pioneiro em inteligência artificial generativa. Segundo divulgou no dia 12 a OpenAI, empresa responsável pela ferramenta, o país só fica atrás dos Estados Unidos e da Índia. Nada surpreendente, considerando o histórico brasileiro de rápida adesão a novas tecnologias.
Entre os brasileiros que usam semanalmente o ChatGPT, 60% estão na faixa de 18 a 34 anos. É a geração “nativa da IA”: estudantes, estagiários e jovens profissionais que interagem com modelos generativos com a mesma naturalidade com que gerações anteriores buscavam no Google ou preenchiam planilhas no Excel.
Hoje, cinco gerações convivem no mercado de trabalho brasileiro. Assim, quando quando cruzado com outros indicadores socioeconômicos, o dado da OpenIA ganha mais relevância. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, 31% da força de trabalho brasileira está na faixa de 18 a 34 anos. Assim, pode-se estimar que a IA já esteja integrada à rotina de parte dos mais de 33 milhões de profissionais desse grupo.
Mas se trata de bem mais que um tema geracional – ainda que, em termos etários, a adoção é mais concentrada entre os jovens. Do ponto de vista geográfico, ela se espalha por todo o país. Ainda segundo a OpenAI, os dez estados com maior uso do ChatGPT, entre eles Pernambuco, representam as cinco regiões brasileiras: vão de São Paulo ao Ceará, do Amapá a Santa Catarina.
Outro estudo, este da Fundação Getúlio Vargas, destaca outra força impulsionando o uso de IA no país: as grandes empresas. Segundo a 36ª edição da Pesquisa Anual do FGVcia, da Fundação Getulio Vargas, o Copilot, da Microsoft, é hoje a plataforma de IA generativa mais usada no meio corporativo, com 40% de participação, à frente de ChatGPT (32%) e Gemini (20%).
Seu avanço é favorecido pela integração com ferramentas já consolidadas da Microsoft, como Teams e Outlook, especialmente em corporações dos setores financeiro e de tecnologia. E, nesse aspecto, vale considerar o impacto do porte da empresa para garantir, mais que a adoção, uma adaptação mais ou menos organizada às mudanças que a IA começa a causar na vida profissional.
Entre as grandes empresas, muitas já oferecem treinamentos, embora nem sempre conectados à estratégia do negócio. Já nas médias e pequenas, os desafios são maiores: faltam estrutura, orçamento e clareza sobre onde se quer chegar. O problema não está apenas no acesso à tecnologia, mas na capacidade de convertê-la em resultado.
Independentemente do tamanho, o desafio também é de governança. É urgente estabelecer diretrizes: o que pode e o que não pode ser feito com IA generativa?
Coordenadores precisam dominar ao menos o básico para orientar suas equipes. Diretores devem compreender impactos sobre custos, produtividade e experiência do cliente. Conselhos precisam decidir como, e quanto, investir, com base em indicadores alinhados à cultura e à reputação da empresa.
É preciso, ainda, avaliar os impactos da IA na formação de lideranças, nos processos decisórios, nos critérios de desempenho, nas políticas de prevenção a riscos cibernéticos e até nas estratégias de precificação.
Integrar IA com responsabilidade também é proteger a marca e valorizar diferenciais autênticos ao atender consumidores que já esperam respostas mediadas por algoritmos. O Brasil soma 502 milhões de dispositivos digitais em uso, o que representa 2,4 por habitante.
É um ecossistema pronto para a proliferação da IA. O momento, portanto, é de inflexão: o
que era uma reta ascendente suave pode se tornar abruptamente vertical.
As empresas precisam agarrar o leme da transformação e convertê-la em processos organizados – até porque boa parte de sua força de trabalho simplesmente está passando a usar a ferramenta, sem permissão prévia. A hora é agora: as lideranças precisam decidir se vão transformar o uso da IA em vantagem competitiva ou ficar para trás, seja por falta de preparo ou por excesso de atabalhoamento.
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