Descubra os perigos de usar IA para planejar viagens e como se proteger de informações falsas. Dicas essenciais para viajantes que usam ChatGPT e outras ferramentas.
Como a IA Pode Criar Destinos Inexistentes e Colocar Viajantes em Risco
A inteligência artificial tem demonstrado uma capacidade preocupante de inventar destinos turísticos que simplesmente não existem, colocando viajantes em situações perigosas e frustrantes. O caso mais emblemático ocorreu no Peru, quando turistas foram direcionados ao fictício “Cânion Sagrado de Humantay”.
Miguel Ángel Gongora Meza, diretor da Evolution Treks Peru, presenciou dois turistas que pagaram cerca de US$ 160 (R$ 850) para chegar a uma estrada rural nos arredores de Mollepata, baseados em informações geradas por IA. O problema é que o destino era uma combinação fantasiosa de dois lugares reais sem qualquer relação com a descrição apresentada.
“Este tipo de desinformação é perigoso no Peru”, explica Gongora Meza. “A altitude, as mudanças climáticas e a acessibilidade dos caminhos precisam ser planejadas. Quando você usa um programa que combina imagens e nomes para criar uma fantasia, você pode acabar em uma altitude de 4 mil metros, sem oxigênio e sem sinal telefônico.”
Outros exemplos incluem o site Layla informando usuários sobre uma Torre Eiffel em Pequim e sugerindo rotas de maratona totalmente inviáveis no norte da Itália, demonstrando como a IA pode fabricar informações convincentes mas completamente falsas.
Casos Reais de Turistas Prejudicados por Informações Falsas da IA
Dana Yao e seu marido vivenciaram na pele os perigos da desinformação gerada por IA durante uma viagem romântica ao Japão. O casal usou o ChatGPT para planejar uma caminhada até o topo do monte Misen, na ilha de Itsukushima, com o objetivo de assistir ao pôr do sol.
Seguindo as instruções da IA, eles partiram às 15 horas para chegar ao pico a tempo. “Foi aí que surgiram os problemas”, conta Yao. “O ChatGPT disse que o último teleférico descia às 17h30, mas, na verdade, ele já estava fechado. Por isso, ficamos presos no topo da montanha.”
Um caso ainda mais grave envolveu um casal que viajou até a Malásia para visitar um teleférico panorâmico que haviam visto no TikTok. Só ao chegarem descobriram que a estrutura simplesmente não existia – eles assistiram a um vídeo totalmente gerado por IA.
Segundo pesquisa de 2024, os números são alarmantes:
- 37% dos usuários relataram que a IA não conseguiu fornecer informações suficientes
- 33% afirmaram que as recomendações incluíam informações falsas
- 30% dos turistas internacionais já usam ferramentas de IA para planejar viagens
Por Que a IA Gera Alucinações e Informações Incorretas sobre Viagens
O professor Rayid Ghani, da Universidade Carnegie Melon, explica que o problema fundamental está na forma como a IA processa e gera informações. “Ele não sabe a diferença entre conselhos de viagem, orientações ou receitas”, segundo Ghani. “Ele só conhece palavras.”
Os grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, funcionam analisando imensas coleções de textos e reunindo palavras e frases que, estatisticamente, parecem respostas apropriadas. Este processo pode gerar tanto informações precisas quanto o que os especialistas chamam de “alucinação” – quando as ferramentas simplesmente inventam coisas.
No caso do fictício “Sagrado Cânion de Humantay”, Ghani acredita que o programa provavelmente reuniu palavras que pareciam apropriadas para a região peruana, criando uma combinação convincente mas totalmente falsa.
Outro problema crítico é que analisar dados não oferece à IA uma compreensão útil do mundo físico. A ferramenta pode facilmente confundir:
- Uma caminhada de lazer de 4 km atravessando uma cidade
- Uma escalada de 4 km na encosta de uma montanha
- Horários de funcionamento desatualizados
- Condições climáticas e de segurança específicas
Como os programas apresentam alucinações e respostas factuais da mesma forma, muitas vezes é difícil para os usuários diferenciar o que é real e o que não é.
Como Usar IA para Viajar de Forma Segura: Verificação e Vigilância
O especialista Rayid Ghani enfatiza que a única forma de se proteger ao usar IA é permanecer vigilante e verificar absolutamente todas as informações fornecidas. Os especialistas, incluindo o CEO da Google Sundar Pichai, alertam que as alucinações podem ser uma “característica inerente” dos grandes modelos de linguagem.
Para usar IA com segurança no planejamento de viagens, siga estas diretrizes essenciais:
- Seja o mais específico possível nas suas consultas à IA
- Verifique todas as informações em fontes oficiais independentes
- Desconfie de sugestões que pareçam “perfeitas demais”
- Confirme horários de funcionamento diretamente com estabelecimentos
- Valide rotas e distâncias em mapas oficiais
Ghani reconhece que o turismo traz dificuldades específicas, pois os viajantes muitas vezes fazem perguntas sobre destinos que não conhecem. Por isso, é crucial cruzar informações com múltiplas fontes confiáveis.
O tempo gasto para verificar as informações geradas por IA pode, em alguns casos, tornar o processo tão trabalhoso quanto planejar a viagem pelos métodos tradicionais. No entanto, essa verificação é essencial para evitar situações perigosas ou frustrantes durante a viagem.
Regulamentações Futuras e o Impacto da Desinformação no Turismo
Diversos governos estão desenvolvendo regulamentações para combater a desinformação gerada por IA. Propostas da União Europeia e dos Estados Unidos pretendem estabelecer a inclusão de marcas d’água ou outros sinais indicadores que permitam aos usuários identificar quando algo foi alterado ou gerado por inteligência artificial.
Contudo, Rayid Ghani considera esta uma “batalha difícil”. “Existe muito trabalho em relação à desinformação. Como detectá-la? Como ajudar as pessoas? Hoje em dia, a mitigação é uma solução mais confiável do que a prevenção“, explica o especialista.
O psicoterapeuta clínico Javier Labourt alerta para um impacto mais profundo: a proliferação desses problemas pode anular os benefícios intrínsecos oferecidos pelo turismo. Quando as alucinações da IA oferecem desinformação, elas criam uma narrativa falsa sobre um lugar antes mesmo que os turistas saiam de casa.
Os desafios regulatórios incluem:
- Identificação de conteúdo gerado por IA em tempo real
- Responsabilização de plataformas por informações falsas
- Padronização internacional de marcações e avisos
- Proteção específica para o setor turístico
Mesmo com futuras regulamentações, as novas regras provavelmente não irão ajudar quando um chatbot inventar algo no meio da conversa, mantendo a vigilância do usuário como principal linha de defesa.

