01/11/2025 – 12:00
O fundador e CEO da Zenvia, Cassio Bobsin, endossa uma tese que é cada vez mais usual dentro de companhias de tecnologia e, cada vez mais, do mundo corporativo como um todo: a de que a Inteligência Artificial (IA) não deve ser encarada como uma ferramenta, mas sim como uma maneira de pensar e um gatilho para mudanças organizacionais drásticas da porta para dentro das empresas.
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Ao Dinheiro Entrevista, o empresário e executivo destaca que o uso de IA deve ser suficiente, inclusive, para alterar as hierarquias das empresas.
“Abrir o ChatGPT e usar, todo mundo faz, todo mundo faz para suas vidas, usa pessoalmente, mas agora como é que você faz isso organizacionalmente? Isso é difícil, porque a gente tem, as nossas organizações são hierárquico-funcionais , são de silos, e os processos são desenhados por responsabilidade funcional. Então, o jeito de resolver que temos hoje nas organizações é o jeito estruturado. Você espera que um processo se comporte de um jeito linear e que não tire a responsabilidade de cada pessoa. Agora, quando você tem uma IA com com acesso aos sistemas em que você tá moldando ela, as áreas não são mais importantes.”
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Bobsin defende que ‘uma empresa só existe por causa do cliente’ e que as empresas devem repensar processos para focar melhor na satisfação do cliente.
Assim, o advento da Inteligência Artificial deve fazer com que ‘uma série de atividades que estão estruturadas deixem de fazer sentido’, dado que serão tarefas feitas de um jeito ‘absurdamente mais eficiente’, automatizado e eventualmente melhor por uma IA.
Todavia, ainda enxerga vários obstáculos nesse tipo de transição, citando que substituir várias etapas de um processo por uma única IA ainda é algo difícil de executar e que exigirá uma transição gradua.
“O desafio não está na tecnologia, ele está nas estruturas das organizações.”
Empresas já vinham adotando ferramentas de Inteligência Artificial há anos – antes do advento dos chatbots – mas com a curva de aprendizado acentuada dos modelos de linguagem, passaram a remodelar operações nos últimos 2 ou 3 anos. Pesquisas de consultorias como a McKinsey & Company mostram relatos corporativos que identificam que o desafio deixou de ser só técnico e virou questão de liderança e governança.
Isso causou efeitos como:
- Criação de cargos formais (Chief AI Officer, responsáveis por governança de agentes e cargos similares)
- Montagem de centros de excelência que padronizam boas práticas
- Reorganização em squads multifuncionais para operacionalizar modelos em produto e processo
Os modelos cortaram silos entre TI, operações, compliance e negócio e colocam a IA como camada transversal em vez de projeto pontual.
Como exemplo, o JPMorgan promoveu automação documental via COiN, usando agentes e modelos para análise de contratos e prevenção de fraude, reduzindo o tempo de triagem e reorientando equipes jurídicas para revisão de risco e exceções, não mais leitura linha a linha.
Com o Copilot da Microsoft, uma série de escritórios de advocacia e departamentos jurídicos adotaram a ferramenta para rascunhos, sumarizações e buscas internas – o que então levou a um remodelamento de equipes de suporte, com menos auxiliares em produção de minuta e mais especialistas em validação e estratégia.
Grandes montadoras passaram a ter seus próprios núcleos de Inteligência Artificial em hubs de software, contratando talentos de big tech e introduzindo cargos C-Level de IA para coordenar software, hardware e operações – em um movimento que muda o roadmap de produto e no qual o software ‘manda’ no fluxo.
‘É óbvio que IA vai eliminar empregos’
Acerca da questão do impacto da IA no mercado de trabalho, Bobsin frisa que é ‘relativamente óbvio’ que alguns tipos de empregos serão eliminados.
Inclusive, na sua avaliação é algo que rompe o paradigma de revoluções tecnológicas anteriores de substituição apenas de trabalhos braçais e atividades análogas – agora, serão ‘atividades de escritório’ que serão substituídas, que até então eram exclusivamente de humanos.
“Se a gente pensar como foi antes da revolução industrial, existe uma série de empregos que, depois das máquinas desapareceram, mas economicamente a humanidade cria novas atividades que as pessoas se ocupam e fazem com que isso tenha valor. Então existe uma ressignificação do trabalho. Então sim, vai eliminar e vem eliminando uma série de atividades”, aponta.
“Rapidamente a Inteligência Artificial já é superior em uma série de atividades que hoje são feitas nos escritórios. Agora você tem uma mudança significativa de ‘ok, se esse tipo de emprego some dentro de uma organização, qual outro tipo de emprego surge dentro de uma organização? Será que as organizações vão ser menores e vai ter mais organizações mais especializadas? Será que vai ter mais pessoas empreendendo individualmente ou criando outros tipos de atividades?’”
A tese é de que ‘ainda é cedo’ para definir como será a migração e como a transição ocorrerá, assim como foi difícil prever as mudanças exatas no mercado de trabalho com a revolução industrial.
A maior ameaça para as empresas que já existem
O empresário ainda vai além e diz que ocorrerá um impacto relevante no ambiente competitivo das companhias, já que vão surgir novas empresas ‘AI first’ nos próximos anos e, com todos os seus fluxos desenhados do zero visando agregar Inteligência Artificial nos processos, serão exponencialmente mais eficientes e competitivas do que as empresas atuais, que nasceram antes da popularização e da ampla adesão da tecnologia.
“A maior ameaça para as empresas de hoje é como, quando, qual vai ser a empresa que vai surgir ‘AI first’ e que vai ser muito melhor do que a sua empresa – porque ela vai nascer já resolvendo a maior parte dos seus problemas sabendo o que IA é melhor para esses problemas, e ela vai ser então muito mais eficiente e talvez seja melhor e mais barata para o cliente”, explica.
O que faz a Zenvia
A Zenvia é líder de mercado na América Latina e tem sua operação principal seja no Brasil. O core business da empresa é fornecer uma plataforma de experiência do cliente (CX) e relacionamento, operando com Software as a Service (SaaS), com soluções ponta-a-ponta para que empresas gerenciem a jornada do cliente (marketing, vendas, atendimento) através da plataforma “Zenvia Customer Cloud”, e Communication Platform as a Service (CPaaS), Fornecendo APIs (interfaces) que permitem às empresas integrar canais de comunicação (como SMS, WhatsApp e Voz) em seus próprios sistemas.
A empresa foi fundada em em meados de 2003 em Porto Alegre (RS) e atualmente figura no seleto panteão de companhias de tecnologia brasileira que prosperaram e conseguiram aumentar sua capilaridade para outros países.
É listada na Nasdaq desde 2021. Seu valor de mercado fica na casa dos US$ 73 milhões. No seu resultado mais recente, referente ao segundo trimestre de 2025, a receita total consolidada da Zenvia foi de R$ 285,7 milhões.

