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iFood: o que pode mudar com a chegada da Meituan? – 09/06/2025 – Mercado

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A chegada ao Brasil da chinesa Meituan, dona do maior aplicativo de delivery do mundo, o Keeta, promete movimentar ainda mais o mercado de entrega de comida no país, que vive um 2025 agitado, com disputas de apps por restaurantes e entregadores, movimentação no Congresso para regulamentar a atividade, espera de julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) e protestos de motoboys.

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A Meituan planeja investir R$ 5,6 bilhões no país até 2030, atrair cem mil motoristas de moto e abrir ao menos mil vagas no primeiro ano —90% delas para brasileiros.

A longo prazo, estima 4.000 postos, a maioria no Nordeste. As atividades da empresa devem começar nos próximos meses, mas ainda sem data exata.

O investimento faz parte do pacote de parcerias entre Brasil e China fechado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em maio, um mês depois do “Breque dos Apps”, e tem levado iFood, Rappi e 99 a se movimentarem.

Os três maiores aplicativos anunciaram benefícios a restaurantes e entregadores. Para motoboys, houve aumento do valor pago por corrida por iFood e Rappi. Para restaurantes, Rappi e 99Food —que retorna ao Brasil depois de deixar o país em 2023— zeraram taxas.

Entregadores, aplicativos, restaurantes e parlamentares ouvidos pela Folha afirmam que é preciso esperar para entender como será a atuação da Meituan no Brasil, mas apontam como principal preocupação denúncias de excesso de trabalho e baixa remuneração na China e em Hong Kong como fator a ser monitorado.

A principal preocupação dos motoboys é com o possível crescimento do que chamam de precarização da atividade, já que a forma chinesa de encarar o mercado de trabalho é diferente da brasileira, com mais horas de trabalho e menos direitos.

“A gente vê a entrada de mais uma empresa no segmento como um avanço rumo a todo esse universo da precarização que a gente já está vivendo”, diz Gilberto Almeida, o Gil, presidente do Sindmoto-SP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo) e da Confederação Nacional dos Sindicatos dos Motoboys e Motoentregadores.

Edgar Francisco da Silva, o Gringo, presidente da Amabr (Associação de Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), afirma que, “na realidade, essas empresas têm investidores, querem resultado e, para ter resultado, é explorando”.

Os números da Meituan surpreendem. São 770 milhões de usuários ativos na China, 14,5 milhões de restaurantes parceiros e média 98 milhões de entregas diárias por meio de pedidos online só em 2024. A empresa atua ainda em Hong Kong e na Arábia Saudita

Wang Xing, fundador e CEO da Meituan, afirmou, durante o lançamento da parceria com o Brasil, estar ansioso para atuar no mercado brasileiro, estratégico para a empresa, e defendeu a concorrência como benéfica especialmente para os consumidores.

“Estamos ansiosos para trazer o Keeta ao Brasil, com o objetivo de melhorar a experiência dos consumidores, impulsionar o crescimento dos restaurantes parceiros, e gerar mais oportunidades para entregadores em todo o país”, disse. Para ele, a maior concorrência deve baratear preços.

Para os aplicativos, o temor vai além da maior concorrência e esbarra no caráter de “novidade”, que tem levado o governo a enaltecer os chineses, deixando de lado empresas que já investem no Brasil, e fechando os olhos para denúncias trabalhistas.

Uma das queixas é é de que Lula nunca se reuniu com nenhum representante dos maiores apps de delivery.

Procurados, apenas o iFood se manifestou. Rappi e 99 não comentaram.

Em nota, o iFood afirma respeitar e acreditar que a competição é importante, mas precisa ser feita “com responsabilidade e mentalidade de longo prazo”.

A empresa diz defender “concorrência justa e segurança jurídica”, afirma que seus bons resultados ocorrem por conta de uma atuação “consistente” de destaca que, desde 2021, apoia a regulamentação do trabalho intermediado por plataformas para garantir “proteção social” aos entregadores.

“Há 14 anos o iFood investe no Brasil e contribui para o desenvolvimento econômico e tecnológico local. Como resultado, as atividades da companhia foram responsáveis por movimentar mais de R$ 110 bilhões em 2023, impactando 0,55% do PIB e gerando 909 mil postos de trabalho diretos e indiretos em toda a cadeia.”

PROJETO DE GUILHERME BOULOS DEFINE VALOR MÍNIMO DA CORRIDA

Um projeto apresentado pelo deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) pode acalmar os ânimos ao contemplar a principal reivindicação da categoria, que é a definição de um valor mínimo por entrega a ser praticado por todas as empresas.

Para os entregadores, a proposta seria uma forma de proteger os profissionais contra precarização de qualquer empresa que atue no Brasil.

Apelidado de “PL do Breque”, o projeto de lei 2.479/2025 define em R$ 10 o valor mínimo por entrega em até quatro quilômetros quando feita por moto ou automóvel e em raio de até três quilômetros quando a entrega é por bicicleta.

O projeto cria ainda adicional de R$ 2,50 por quilômetro excedente e de R$ 0,60 por minuto de espera a partir de dez minutos.

À Folha, Boulos afirmou que o projeto foi “construído a partir das demandas dos entregadores”, após as manifestações do final de março, que atingiram 18 capitais e 59 cidades. A medida tem o apoio de oitos partidos além do PSOL: PP, PT, PSB, Republicanos, Rede, PCdoB, PDT e MDB.

Para o deputado, o valor mínimo “é uma demanda justa e legítima”. Ele diz acreditar que não faltarão, por parte das empresas, “recursos para pagar apenas R$ 2,50 a mais por entrega aos motoboys”.

Boulos afirma ver com bons olhos a concorrência com a chegada da Meituan, mas que o mais importante é atender as mínimas sem importar “o país de origem” da companhia.

Joaquim Saraiva, presidente da Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo), diz esperar que os custos cobrados pelas plataformas diminuam para os restaurantes com a chegada da Meituan e que a remuneração dos motoboys aumente.

“O que esperamos é que o serviço também melhore. Falando dos motoboys, temos visto sinalização de que as plataformas vão melhorar a remuneração, que [os entregadores] vão passar por reciclagem e treinamento para que ofereçam ótimo serviço. Nós vemos com muito otimismo tudo isso.”

Procurado, o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) disse seguir negociando a regulamentação da atividade de entregadores de app, mas que esse tema esbarrou no valor da remuneração e da contribuição sindical quando ocorreram os debates que resultaram no PLP 12, enviado em 2024 para a Câmara.

Segundo a pasta, temas como saúde e segurança, seguro contra acidentes, remuneração mínima, proteção social e maior transparência na gestão do algoritmo foram debatidos de forma incansável, mas não houve consenso especialmente sobre pagamento mínimo e contribuição à Previdência.

Sobre a entrada da Meituan e as denúncias trabalhistas na China e em Hong Kong, o MTE afirmou manter “as mesmas preocupações com qualquer empresa que atue ou venha a atuar contratando entregadores sem garantir direitos mínimos e proteção social”.

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