» Arnaldo Niskier — Membro da Academia Brasileira de Letras
“A inteligência artificial já se encontra em uso em muitas empresas, para otimizar seus processos.” (Sarah Schmidt)
É natural que as universidades brasileiras, na sua tríplice função de ensino, pesquisa e extensão, já estejam se preocupando com a inteligência artificial (IA) generativa. Programadores de muitas empresas utilizam a tecnologia da moda para otimizar seus processos, como seria mesmo recomendável.
Se o caso for o domínio do inglês, esse é o menor dos problemas, pois a IA pode atuar com grande eficiência na necessária solução. Está se tornando comum fazer um prompt no ChatGPT até mesmo para a realização de uma análise de sentimentos, uma técnica que classifica opiniões como positivas, negativas ou neutras, quando se trata de trabalhar com usuários do X (ex-Twitter) sobre IA.
Os meios estão sempre em transformação, desde os primeiros cartões perfurados. Essa ferramenta deve ser utilizada com uma visão crítica e orientações seguras, que se resumem em praticar transparência, proteção de dados, respeito à autoria, clareza e cuidado com os vieses, pois as plataformas de IA podem reproduzir desinformação, preconceitos e discriminação.
A fim de evitar as chamadas alucinações, é preciso avaliar com cuidado os dados que elas fornecem, para checar a sua autenticidade. Se tudo isso for feito com os cuidados devidos, a reação dos alunos será a melhor possível, no emprego da IA generativa.
Temos de trabalhar sempre dentro de limites éticos. Como se afirma na edição de agosto último da revista Pesquisa da Fapesp, obedecendo a três princípios fundamentais: transparência, centralidade na pessoa humana e atenção à privacidade de dados. Nós aprendemos com essas ferramentas, mas elas também aprendem com a gente. É preciso estimular o atual movimento com a criação de cursos de letramento em IAs para professores, pesquisadores, funcionários e alunos, e isso é muito saudável.
Assim se deve evitar o perigo, queremos enfatizar, de ferir direitos autorais ou praticar plágio. Outra preocupação é evitar o trabalho com dados falsos, o que invalida os resultados. Toda a ênfase deve ser colocada na transparência. Já imaginaram rechear teses ou dissertações de dados não confiáveis?
No Brasil, o assunto ganhou avanços consideráveis, especialmente no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), onde há um empenho de empregar o ChatGPT em trabalhos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre inteligência artificial na educação superior.
Instituições do Poder Judiciário avaliam usar a IA para otimizar etapas dos julgamentos. É sabido que temos no país um número imenso de processos em análise, e essa seria uma forma de melhorar a atuação da nossa Justiça, tão criticada. Outra área que se abre para essa possibilidade é a da medicina, e é natural que isso ocorra.
Deseja-se um crescimento plural da IA no mundo inteiro. Sabe-se que, hoje, a inteligência artificial usa 10 bilhões de vezes mais computação do que em 2010. A cada seis meses, esse uso computacional dobra. Não é incrível? Por isso mesmo, deseja-se ampliar o alcance dessa benfeitoria, que se valerá do valor de dados confiáveis, capital humano e chips. Seria bom que alguns países se reunissem para discutir a matéria e se entendessem, superiormente.
Já existe em curso um Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que prevê R$ 23 bilhões de investimentos nos próximos quatro anos. Assim, o Brasil poderá se tornar protagonista de um saudável desenvolvimento científico e tecnológico, envolvendo outros países com idêntico propósito.
Enquanto isso, a nova versão do sistema de IA da Meta almeja destronar o ChatGPT e reforça a aposta das big techs em um segmento que não para de evoluir. Não é tarefa das mais fáceis, pois o ChatGPT superou a marca de 100 milhões de usuários. Agora, surgiu a Llama, que é voltada para empresas, com a vantagem da customização. Pretende enfrentar problemas mais complexos e anuncia uma gratuidade com a qual nem todos estão de acordo, dada a tradição de cobrança do ramo.
Depois de uma leitura atenta (são quase 600 páginas) do livro O lado B do Boni, em que a minha curiosidade foi aguçada pelos trechos que se referem à competição com a TV Manchete, em que trabalhei alguns bons anos, me detive de forma especial no final da obra. Disse J.B. de Oliveira Sobrinho: “Como artista e mesmo empresário, estou mais interessado nas possibilidades que a inteligência artificial pode oferecer para a televisão. Criação e realização sem limites. Isso vai ser divertido e lucrativo.” É esperar para ver.
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