Há apenas dois anos, a engenharia de prompts era considerada uma das grandes novidades no setor de tecnologia. Hoje, ela praticamente sumiu.
No início da febre da IA, algumas empresas estavam em busca de tradutores de modelos de linguagem (LLMs), ou seja, especialistas em engenharia de prompt que sabiam criar os comandos mais eficientes pra formular perguntas para as IAs internas, garantindo resultados bons e rápidos.
Agora, porém, saber fazer bons prompts é uma habilidade que se espera de qualquer um, não mais uma profissão por si só. Algumas empresas já estão usando a IA para gerar os melhores prompts para… a própria IA.
O sumiço da engenharia de prompts serve de alerta para o mercado de trabalho na área de IA. Aquelas funções novinhas e super específicas que surgiram junto com o ChatGPT talvez não durem muito. A IA está, sim, mudando as funções de profissionais em várias indústrias, mas talvez não esteja criando novas profissões do zero.
“A IA já está devorando a si mesma”, resume Malcolm Frank, CEO da TalentGenius. “A engenharia de prompts virou algo que está embutido em quase todo tipo de trabalho e as pessoas já sabem como fazer. A própria IA pode ajudar a escrever os melhores prompts que você precisa. Isso deixou de ser um trabalho para virar só uma tarefa. E tudo aconteceu muito rápido.”
Uma das vantagens da engenharia de prompts era justamente a facilidade de entrada. Não era preciso ter conhecimentos técnicos profundos, o que tornava a área bem acessível para quem queria aproveitar o boom. Mas, justamente por ser uma função genérica demais, ficou fácil de ser substituída.
Frank compara essa função a coisas como “mago do Excel” ou “especialista em PowerPoint” – são habilidades úteis, mas nenhuma empresa contrataria alguém só por isso. E os engenheiros de prompts talvez não sejam os únicos que estão sumindo.
Frank imagina um futuro onde agentes de IA – que já estão começando a aparecer – vão assumir várias tarefas mais básicas. “É quase como o Pac-Man comendo várias tarefas e habilidades pelo caminho”, ele compara.
A IA tem potencial para substituir milhares de trabalhadores. Quem defende a tecnologia costuma dizer que ela vai criar tantos empregos quanto os que vai eliminar. A engenharia de prompts parecia reforçar essa ideia – uma função nova criada pela IA.
Não está claro se as empresas realmente contrataram funcionários com o título de engenheiro de prompts.
Mas esse otimismo pode ter sido um pouco precipitado. Em vez de criar cargos totalmente novos, a IA está, na verdade, reformulando os que já existem.
Tim Tully não ficou surpreso com o declínio da engenharia de prompts. Ele é sócio da empresa de venture capital Menlo Ventures e tem acompanhado de perto o boom da IA, principalmente por conta dos investimentos da empresa na Anthropic.
Ele também trabalha diretamente com desenvolvedores – uma área já bastante impactada por ferramentas como o Cursor. Sua percepção é clara: o verdadeiro impacto da IA está menos em criar empregos novos e mais em melhorar a produtividade geral.
“Não diria que surgiram novos empregos, necessariamente. O que está mudando é a forma como trabalhamos”, diz Tully. “As pessoas estão usando IA o tempo todo agora, gostem ou não, e isso acelera tudo o que elas fazem.”
ENGENHEIROS DE PROMPTS CHEGARAM MESMO A EXISTIR?
Ainda não está claro se as empresas realmente contrataram funcionários com o título exclusivo de engenheiro de prompts. E hoje, com certeza, não estão contratando, segundo Allison Shrivastava, economista do Indeed Hiring Lab.
“Para mim, parece que engenharia de prompts está sendo incorporada a cargos como engenheiro de machine learning ou arquiteto de automação”, diz Shrivastava. “Provavelmente ela é parte de vários cargos, mas não vejo sendo usada como título principal de um cargo.”
Na realidade, sempre foi assim, mesmo em 2023, quando o LinkedIn estava cheio de gente que se dizia engenheiro de prompt. Quando perguntada se houve alguma variação nas vagas com esse nome ao longo do tempo, Shrivastava diz que esse nunca foi um título usado o suficiente para ser medido de forma significativa.

Isso levanta uma pergunta maior: será que essa profissão realmente chegou a existir?
Todos os especialistas entrevistados foram céticos. O mercado até existia: o setor de engenharia de prompts na América do Norte foi avaliado em US$ 75,5 milhões em 2023, com um crescimento anual estimado de 32,8%. Mas, se isso se traduzia em cargos formais com esse nome, aí já é outra história.
“Acho que a repercussão online sobre [engenharia de prompts] foi bem maior do que o número real de pessoas contratadas com esse título”, diz Aline Lerner, CEO da Interviewing.io. “Era uma ideia muito atraente, justamente por parecer uma porta de entrada para gente sem formação técnica estrear num setor interessante e lucrativo.”
QUAIS SÃO OS EMPREGOS EM IA, ENTÃO?
Lerner notou uma tendência clara. A Interviewing.io nunca ofereceu simulações de entrevista específicas para engenheiros de prompts, mas sempre teve entrevistas para engenheiros de machine learning.
Essa diferença importa: engenheiros de prompts criam comandos para os LLMs, enquanto engenheiros de machine learning constroem os próprios modelos. E enquanto os primeiros estão sumindo, os segundos estão cada vez mais requisitados.
saber fazer bons prompts é uma habilidade que se espera de qualquer um, não mais uma profissão por si só.
“A demanda por entrevistas simuladas para engenheiros de machine learning ficou estável por um tempo, mas nos últimos dois meses ela triplicou”, diz Lerner. “O futuro está em trabalhar no modelo em si, deixando-o cada vez melhor, e não em alguém que só interprete o que ele faz.”
Aqueles empregos em IA fáceis de entrar já não existem mais. Os cargos de engenharia de machine learning exigem conhecimento técnico profundo – habilidades que levam anos para desenvolver, bem diferente da curva de aprendizado mais rasa da engenharia de prompts.
Até habilidades básicas de programação já não bastam mais. Shrivastava, do Indeed, diz que enquanto a demanda por desenvolvedores está caindo, os cargos de engenharia em geral estão em alta.
“Com o tempo, provavelmente vamos ver a IA sendo usada em mais setores diferentes”, prevê Shrivastava. “As empresas vão precisar de alguém responsável por realmente implementar essa tecnologia lá dentro.”