
Inteligência artificial é realidade para setor elétrico Foto: Getty Images
Sai o conceito futurista e entra em ação a consolidação de uma ferramenta fundamental para o setor de energia elétrica: a inteligência artificial. Capaz de otimizar processos, aumentar a eficiência operacional e contribuir para a construção de um sistema mais inteligente e sustentável. “O setor elétrico no Brasil aplica a inteligência artificial de maneira muito prática no dia a dia. Vemos a IA aprimorando a previsão de carga e geração, o que é vital para equilibrar oferta e demanda, além de evitar desperdícios”, explica Fabio Moro, diretor comercial e de Marketing da NHS Sistemas de Energia.
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, com suas marcantes variações climáticas e um calendário repleto de eventos, antecipar o consumo de energia é um desafio complexo. “A Cemig, em Minas Gerais, é um excelente exemplo. Eles têm investido em IA para aprimorar a previsão de demanda e otimizar a gestão de seus ativos. Projetos-piloto da Cemig já mostraram a capacidade da IA em identificar anomalias no consumo e ajudar a detectar perdas não técnicas”, conta Moro. Ou seja, os famosos “gatos”, fraudes em medidores e erros de medição ou faturamento. Com os algoritmos, os padrões incomuns de consumo podem ser analisados com mais precisão e rapidez. Dessa forma, se consegue detectar ligações clandestinas ou manipulação de medidores em grande escala.
“A Copel, no Paraná, tem explorado a IA para otimizar a operação e manutenção de sua vasta rede de distribuição e transmissão. Isso inclui o uso de algoritmos para análise de dados de campo e até mesmo de imagens, buscando prever e evitar falhas, o que é crucial para manter a continuidade do fornecimento em um Estado com características geográficas tão diversas”, relata o diretor.
Nessa chamada manutenção preditiva, os algoritmos de machine learning (aprendizado de máquina) examinam dados de sensores instalados em equipamentos como transformadores, cabos de transmissão, subestações e torres. Ao identificar padrões anormais e antecipar tendências de falhas, a IA capacita as empresas do setor a realizar intervenções preventivas, evitando os altos custos de reparos emergenciais, reduzindo o tempo de inatividade e, consequentemente, prolongando a vida útil dos ativos. Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), pondera que, apesar do crescente interesse, o setor ainda está em fase de exploração do potencial da IA. “As indústrias ainda estão tateando como usar a inteligência artificial de forma eficiente dentro das suas operações”, avalia. Mas o futuro, segundo ele, é promissor. “A inteligência artificial é muito mais do que o ChatGPT ou uma IA generativa qualquer. O desenvolvimento dessa tecnologia vai acontecer não só no setor elétrico, como em vários outros”, afirma o executivo.
Um dos desafios centrais para a plena implementação da IA no setor elétrico, segundo Rodrigues, reside na garantia do suprimento energético para alimentar a tecnologia, bastante intensiva em consumo. “Não é onde vai usar a tecnologia, mas sim como vai gerar a energia necessária para que a tecnologia seja usada. Isso é um grande gargalo que existe no desenvolvimento da inteligência artificial como um todo, especialmente em uma indústria que já consome uma quantidade brutal de energia.”
Apesar de puxar muita energia, a própria IA pode ser uma solução para baixar a demanda de energia atrelada à ferramenta. Ainda mais, a partir de fontes renováveis de energia. “É uma linha de trabalho que já existe. A própria ferramenta pode ajudar no desenvolvimento de modelos com mais segurança energética tanto em relação ao clima quanto à própria geração”, explica Rodrigues. A IA, por exemplo, pode ajudar na formatação de usinas solares, ao determinar, com exatidão, a capacidade e a geração necessária para determinada planta. Fabio Moro aponta para outro desafio: a qualidade e a disponibilidade dos dados. “Muitos sistemas ainda são antigos e os dados não estão organizados da forma ideal para alimentar algoritmos avançados.” E não basta apenas melhorar os conjuntos de dados. Infraestrutura tecnológica e capacitação profissional, além da adaptação da legislação para acompanhar as inovações, especialmente em segurança cibernética, são pontos igualmente essenciais.
“Nos próximos 5 a 10 anos, a inteligência artificial vai revolucionar o setor elétrico brasileiro em uma escala ainda maior. A IA será a inteligência por trás das redes inteligentes (smart grids), tornando os sistemas mais autônomos e resilientes”, prevê Moro. Com isso, a otimização da comercialização de energia também vai mudar de patamar. Assim como os novos modelos de negócio e de oferta de serviços personalizados.