As mudanças tecnológicas, impulsionadas pela chegada da Inteligência Artificial (IA) e da TV 3.0, já movimentam o cenário político. Governantes, parlamentares, secretários, assessores e marqueteiros buscam compreender os impactos das novas ferramentas na comunicação eleitoral. Os especialistas em marketing e estratégia Berg Lima e Fred Perillo, convidados do videocast Questão de Opinião, do jornal Opinião CE, avaliam que as próximas eleições terão forte presença da tecnologia.
Segundo os analistas, a Inteligência Artificial deverá ser amplamente utilizada nas campanhas de 2026, mas o alcance dessa inovação ainda é imprevisível, devido às mudanças constantes nas redes sociais. Para eles, o grande diferencial será a chegada da TV 3.0, tecnologia que promete modificar a forma como os eleitores interagem com os candidatos.
A TV 3.0 vai permitir maior interatividade entre telespectador e político. Com recursos como escolha de ângulos de câmera, possibilidade de responder enquetes em tempo real, acesso a dados complementares sobre propostas e até integração com aplicativos, o formato promete transformar a televisão aberta em uma plataforma interativa. Isso deve abrir novas estratégias para candidatos que buscam engajamento direto com o público.
REDES SOCIAIS
Na avaliação de Fred Perillo, a IA será decisiva principalmente na difusão de contrainformação, exigindo atenção redobrada das equipes de comunicação. Ele recorda que o uso das redes sociais em campanhas políticas começou em 2010, no Brasil, com destaque para o Twitter — hoje X. Na época, o Orkut ainda era a rede social mais popular, mas perdeu espaço para plataformas como Facebook, Instagram e WhatsApp, todas da Meta.
O estrategista observa que o Orkut deixou de existir porque não gerava receita, ao contrário das atuais redes, que oferecem retorno financeiro a partir da monetização. Berg Lima e Fred Perillo lembram ainda que a inovação no uso digital em campanhas surgiu em 2008, nos Estados Unidos, quando Barack Obama utilizou o e-mail como principal ferramenta, mas também recorreu ao Twitter para dialogar com eleitores.
Desde então, a massificação das redes sociais reduziu o número de jornalistas e comunicadores concorrendo a cargos eletivos, enquanto criadores de conteúdo digital ganharam espaço. Perillo cita como exemplos de candidatos midiáticos bem-sucedidos o ex-jogador Romário, eleito senador pelo Rio de Janeiro, e o humorista Tiririca, deputado federal por São Paulo.
NOVOS DESAFIOS
Um dos principais obstáculos para as equipes de marketing será convencer os políticos a se adaptarem às transformações tecnológicas. “A grande dificuldade está no ser humano. O político espera de você [o assessor] uma coisa, mas não faz a parte dele”, afirmou Berg Lima.
Ele acrescenta que o uso correto das ferramentas digitais é fundamental para fortalecer campanhas. Nesse ponto, a TV 3.0 deve se destacar ao oferecer ao eleitorado novas formas de participação, como interações durante debates, transmissões segmentadas e até anúncios personalizados conforme o perfil do público.
Fred Perillo ressalta que, além da campanha, governantes e secretários eleitos precisarão se adequar à lógica das redes sociais para dar transparência à gestão. A expectativa dos estrategistas é que secretários passem a atuar como agentes políticos digitais, mostrando andamento de políticas públicas diretamente à população.
ERROS ESTRATÉGICOS
Ao comentar o cenário internacional, Berg Lima e Fred Perillo afirmam que medidas econômicas impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não se converteram em dividendos políticos de longo prazo. Para eles, erros da extrema-direita abriram espaço para a retomada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no debate político-eleitoral de 2026.
Segundo os especialistas, a bandeira do nacionalismo, antes associada à direita, passou a ser explorada também pela esquerda e pela centro-direita. “Em eleição, vence quem erra menos”, destacou Berg Lima.
Fred Perillo complementou a análise lembrando que Jair Bolsonaro perdeu a reeleição em 2022 por não ouvir conselhos moderados, preferindo adotar uma postura radical. Para ele, a condução da pandemia foi um dos fatores que mais pesaram contra o ex-presidente, que deixou de se apresentar como gestor responsável em momento crítico.

