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Em 2025, a inteligência artificial foi além de executar tarefas rotineiras: começou a assumir funções gerenciais. Desde atribuir tarefas a avaliar desempenho até influenciar promoções, a inteligência artificial está se tornando rapidamente uma tomadora de decisões.
Para os profissionais, isso muda tudo. Você não está mais apenas aproveitando os benefícios da inteligência artificial. Em breve, poderá estar reportando diretamente a ela.
Veja como a IA está transformando a forma como somos gerenciados e o que você pode fazer para ter sucesso nesse novo cenário.
Como a IA está gerenciando pessoas
Até pouco tempo, a IA era apenas uma ferramenta que ficava nos bastidores. Agora, ela é usada para monitorar produtividade, distribuir tarefas e até decidir quem será promovido ou demitido. No Reino Unido e em outros países, empresas já testam sistemas que analisam o comportamento dos funcionários e automatizam decisões gerenciais.
Um estudo recente mostrou que 94% dos gestores já utilizam IA para decisões de contratação, demissão e promoção.
Em vez de receber feedback de um humano, muitos profissionais já estão sendo avaliados por softwares. Em algumas organizações, a própria IA define metas e acompanha o desempenho de equipes inteiras.
Os funcionários estão se adaptando rápido: dados recentes mostram que os profissionais estão adotando a IA mais rapidamente que seus líderes – um sinal de que quem está na linha de frente quer entender as ferramentas que passam a avaliá-los.
Conheça seu novo gestor: um software que monitora, avalia e reporta
Os sistemas modernos de IA não são mais apenas painéis de acompanhamento. Eles estão cada vez mais “autônomos”, gerenciando fluxos de trabalho — e 78% das empresas britânicas já utilizam ferramentas com esse perfil. Elas podem agendar tarefas, enviar lembretes, resumir reuniões e definir próximos passos, atuando muito mais como chefes digitais do que como simples assistentes.
Em algumas empresas, o uso da IA já virou critério de avaliação: funcionários que utilizam regularmente agentes de IA ou plataformas de automação de tarefas são vistos como mais adaptáveis e inovadores.
O CEO da Shopify, Tobias Lütke, é um dos líderes que vêm incentivando o uso da tecnologia. O executivo estabeleceu uma nova diretriz para os times de todas as áreas: “Usar IA de forma eficaz agora é uma expectativa fundamental para todos na Shopify.”
Por que as empresas amam chefes de IA
Não é difícil entender por que as empresas estão adotando a IA como ferramenta de gestão. Um software não se cansa, não tem preferências pessoais e não esquece prazos. A IA consegue monitorar dezenas de indicadores ao mesmo tempo, garantindo que nada passe despercebido – e que as decisões pareçam sempre “baseadas em dados”.
Esse tipo de supervisão pode ajudar a reduzir vieses, padronizar avaliações e fornecer feedbacks de forma mais consistente. E como muitos profissionais estão adotando a IA mais rapidamente que os líderes, as empresas enxergam uma oportunidade de construir uma cultura de produtividade tecnológica de baixo para cima.
O Zoom já está testando ferramentas de IA que funcionam como gerentes de projetos digitais, atribuindo tarefas e otimizando fluxos de trabalho sem intervenção humana.
Outro lado: estresse, vigilância e burnout
Mas nem tudo são flores com essa nova gestão. Muitos profissionais relatam uma sensação de microgestão ou avaliações injustas por sistemas que não têm contexto ou empatia. A sensação de estar sendo monitorado o tempo todo pode gerar ansiedade e até burnout.
No Reino Unido, relatórios já associam a vigilância digital a problemas de saúde mental, com algumas empresas sendo acusadas de exagerar no uso do chamado “bossware”. Esses sistemas de monitoramento – que vão desde rastreadores de tempo de tela até análise de toques no teclado – podem fornecer dados valiosos, mas sem limites claros, acabam corroendo a confiança.
Embora os dados possam ser objetivos, sua interpretação raramente é. E sem o equilíbrio do julgamento humano, a gestão por IA pode parecer fria, rígida ou até punitiva.
Os trabalhadores não estão de mãos atadas
No entanto, em alguns casos, os próprios funcionários se beneficiam da gestão com inteligência artificial, especialmente quando a IA contribui para autoavaliações ou ajuda gestores a reconhecerem contribuições de maneira mais objetiva. Quando bem aplicada, a tecnologia pode oferecer critérios mais claros e reduzir vieses inconscientes.
Mas governança e ética são fundamentais. Atualmente, apenas um terço das empresas europeias tem políticas formais para o uso de IA, o que levanta dúvidas sobre transparência e justiça. Os profissionais precisam ter clareza sobre o que é monitorado, como os dados são usados e se podem questionar decisões tomadas por algoritmos.
A boa notícia? Cada vez mais profissionais estão se antecipando, buscando capacitação em IA, fazendo perguntas e participando ativamente de como essas ferramentas são implementadas em suas empresas.
As habilidades que a IA ainda não consegue substituir
A IA pode medir seu desempenho, mas não pode replicar sua inteligência emocional. Empatia, criatividade, capacidade de negociação e colaboração entre áreas continuam sendo competências exclusivamente humanas.
Líderes empresariais do Reino Unido continuam cautelosos sobre o uso da IA em avaliações de desempenho, principalmente quando se trata de habilidades interpessoais. A maioria ainda prefere ter um olhar humano sobre liderança, dinâmicas de equipe e pensamento estratégico.
É aí que os profissionais podem se destacar. Sua capacidade de construir confiança, resolver conflitos e liderar equipes será cada vez mais valiosa. Em um ambiente repleto de algoritmos, são essas competências humanas que farão a diferença.
Como ter sucesso sob a supervisão da IA
Não é preciso ter medo da IA, mas é preciso se adaptar. Veja algumas dicas para se manter relevante:
- Entenda como você está sendo avaliado: saiba quais dados estão sendo coletados e como são usados;
- Domine o uso da IA: use bem as ferramentas, treine sua equipe e posicione-se como uma liderança digital;
- Cultive conexões humanas: gestores podem ler relatórios de IA, mas as decisões finais ainda são humanas;
- Invista em soft skills: inteligência emocional e colaboração não podem ser automatizadas;
- Exija transparência: pergunte sobre as políticas de IA da sua empresa. Se não existirem, defenda a criação delas.
À medida que algoritmos assumem decisões que antes cabiam a gestores humanos, os profissionais precisam repensar como agregam valor. Quem souber aproveitar o potencial da IA, sem abrir mão de suas competências humanas, estará mais preparado para prosperar no futuro do trabalho.
*Andrew Fennell é especialista em carreiras e fundador da StandOut CV. Ele escreve sobre elaboração de currículos e estratégias de busca de emprego para líderes há mais de 10 anos.