A inteligência artificial já não é mais uma promessa distante no mundo da moda, ela se tornou uma ferramenta concreta e transformadora nos bastidores da produção visual. A análise é da estilista, figurinista e consultora de imagem Marcia Jorge, que acumula mais de 20 anos de experiência em campanhas publicitárias e editoriais para marcas como Boticário, Avon e Rommanel.
Segundo ela, a IA está resolvendo gargalos históricos do setor, como ajustes de cor, tempo de estúdio, organização de catálogos e até a logística com modelos. Entre os usos mais impactantes, Márcia destaca a criação de avatares de modelos, que permite simular diferentes corpos, roupas e cenários com liberdade criativa e custos muito menores.
Em editoriais recentes, players têm conseguido representar uma diversidade que seria inviável financeiramente com modelos reais. Diante de estoques mais enxutos e limitações nas parcerias com marcas, os avatares se tornaram uma alternativa viável. Eles oferecem uma solução criativa para um problema real.
A tecnologia também vem revolucionando a produção de catálogos — tarefa conhecida por sua intensidade e complexidade. Márcia relata já ter produzido mais de 300 peças em apenas três dias, o que ela define um caos logístico; hoje, o processo é mais fluido: apenas os principais looks são fotografados com modelos reais. O restante (como variações de cores ou itens básicos) é gerado digitalmente com alta precisão.
Além do “básico”
A IA também resolve problemas antes considerados inevitáveis, como a necessidade de refazer ensaios inteiros por conta de uma locação inadequada ou um tom de cor rejeitado pelo cliente. Agora, com ferramentas de edição, narra Márcia, é possível mudar fundo, luz e tons sem sair do lugar. O fotógrafo pode se dedicar à narrativa da coleção, enquanto a IA resolve os ajustes técnicos.
Apesar da inovação, a profissional acredita que a IA deve ser encarada como aliada, e não como uma ameaça. Neste cenário, os fotógrafos não perderam espaço, mas ganharam liberdade para explorar mais a direção criativa, testando variações e combinações de figurinos antes mesmo de colocá-los no cabide em um verdadeiro laboratório criativo.
Outro avanço importante está na democratização da estética profissional. Marcas pequenas agora conseguem competir com gigantes em termos de qualidade visual, algo inimaginável até pouco tempo atrás. Ainda assim, Márcia faz um alerta: é preciso usar a tecnologia com discernimento, equilibrando o uso da tecnologia de modo a não prejudicar o pensamento crítico.
Márcia se mostra entusiasmada com essa nova fase da moda — mais leve, eficiente e inventiva — e vê nela um convite à reinvenção. Para ela, o momento exige uma mudança de postura: não é hora de temer a IA, mas de aprender a usá-la com inteligência e responsabilidade. O futuro da moda será construído em parceria entre o humano e o digital.
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