Parece um filme repetido, mas há uma nova inteligência artificial (IA) com desempenho superior a seus concorrentes ocidentais: a Kimi K2, da Moonshot AI, disponibilizada publicamente há quatro dias. O novo modelo de linguagem tem chamado a atenção de pesquisadores e do mercado por combinar desempenho elevado, código aberto e uma estrutura de preços significativamente mais baixa.
A Moonshot é apoiada pelo grupo Alibaba e tem buscado posicionar o Kimi K2 como uma alternativa viável a modelos como o GPT-4.1, da OpenAI, e o Claude, da Anthropic. A companhia é considerada um dos seis tigres da IA da China, startups sediadas em Hangzhou, mesma cidade do DeepSeek. Entre as outras estão Baichuan, MiniMax e Zhipu.

Kimi K2 surge como nova opção de modelo de linguagem criado na China Foto: Sergio Barzaghi /Estadão
Para derrotar os concorrentes americanos, a Moonshot adotou uma estratégia dupla: tornar o modelo acessível gratuitamente em aplicativos e via navegador, e oferecer acesso comercial por meio de API a custos reduzidos. Segundo informações da VentureBeat, o Kimi K2 cobra US$ 0,15 por milhão de tokens de entrada e US$ 2,50 por milhão de saída. No GPT‑4, os valores são US$ 2 e US$ 8, respectivamente, até 13 vezes mais caro.
No testes de desempenho SWE-bench Verified, voltado para tarefas de engenharia de software, o Kimi K2 superou o desempenho do GPT-4.1. Em outro teste, o MATH-500, que avalia resolução de problemas matemáticos avançados, o modelo também obteve pontuação superior à do sistema da OpenAI. Os dados foram divulgados pela própria Moonshot.
A chamada “inteligência agêntica avançada” do Kimi K2, como define a própria Moonshot, permite que o modelo vá além da geração de texto e execute tarefas práticas de forma autônoma, utilizando diversas ferramentas digitais. É uma proposta parecida com a da Manus AI, outro nome chinês que surgiu forte neste ano.
Entre os exemplos divulgados pela empresa, estão a criação de análises salariais com visualizações estatísticas e páginas interativas em HTML, além do planejamento completo de uma viagem para um show do Coldplay em Londres. Segundo a empresa, o modelo acessou e coordenou, sem auxílio humano, serviços como mecanismos de busca, agendas online, e-mails, companhias aéreas, hospedagens via Airbnb e reservas de restaurante.
Embora os vídeos de demonstração mostrem usos práticos em cenários corporativos, como planejamento de viagens e análise de salários, ainda é cedo para afirmar o quão robusto o Kimi K2 é fora desses ambientes controlados. Como em outros lançamentos do setor, parte da recepção depende da validação de pesquisadores independentes e da comunidade de desenvolvedores.
A estratégia chinesa
Kimi K2 é produto de um esforço da China por maior autonomia tecnológica. O país tem incentivado o desenvolvimento de modelos de código aberto como forma de reduzir a dependência de soluções ocidentais em setores estratégicos, como inteligência artificial, semicondutores e segurança digital. O DeepSeek-V3, lançado no início do ano, é outro exemplo dessa estratégia.
A decisão de tornar o Kimi K2 open source também tem implicações comerciais. Ao permitir que desenvolvedores adaptem o modelo livremente, a Moonshot busca ganhar tração e fomentar um ecossistema de uso que pode beneficiar a empresa no médio prazo. No entanto, o acesso livre não é irrestrito: empresas com mais de 100 milhões de usuários ou US$ 20 milhões em receita mensal precisam exibir o nome do modelo em suas interfaces.