- Author, Jacqueline Howard
- Role, BBC News
A tão esperada nova formação, liderada pelo primeiro-ministro Michel Barnier, marca uma mudança decisiva para o campo da direita — embora uma aliança de esquerda tenha conquistado a maioria dos assentos parlamentares.
Apesar da parceria entre o partido centrista de Macron e os partidos da direita, o parlamento continua fragmentado e dependerá do apoio de outras forças políticas para aprovar novas leis e projetos.
Esse movimento de Macron ocorre no momento em que a União Europeia faz um alerta sobre a dívida crescente da França, que agora excede em muito as regras do bloco.
A nova distribuição do governo
Entre os nomes que ganharam uma posição no novo gabinete está o de Bruno Retailleau, um membro-chave do Partido Republicano conservador fundado pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy.
Ele foi nomeado ministro do Interior, cujas atribuições envolvem temas relacionados à imigração.
Um total de dez políticos do Partido Republicano receberam cargos no gabinete, embora Macron tenha mantido vários ministros antigos em cargos-chave da administração.
O aliado próximo de Macron, Sébastien Lecornu, foi mantido como ministro da Defesa, e Jean-Noel Barrot, antes ministro para Assuntos Europeus, foi promovido a ministro das Relações Exteriores.
Apenas um político de esquerda recebeu um cargo no gabinete: Didier Migaud, que não está vinculado a nenhum partido e mantém uma posição independente, foi nomeado ministro da Justiça.
O cargo de ministro das Finanças foi para Antoine Armand, um membro do próprio partido Renascimento de Macron que, até agora, tinha pouca fama política.
Armand tem a tarefa de redigir o projeto de lei orçamentária do governo antes do ano novo para lidar com o déficit da França.
Antes das eleições antecipadas, o braço executivo da União Europeia alertou a França de que ela seria disciplinada por violar as regras financeiras do bloco.
O déficit do setor público da França está projetado para atingir cerca de 5,6% do PIB este ano e ultrapassar 6% em 2025. A União Europeia tem um limite de 3% para déficits.
Barnier, o primeiro-ministro
Michel Barnier, um conservador veterano, foi nomeado primeiro-ministro de Macron no início deste mês.
Barnier foi um dos principais negociadores da saída do Reino Unido da União Europeia. Agora, ele precisou enfrentar a tarefa de formar um novo governo capaz de sobreviver à fragmentação do parlamento.
Membros da aliança de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP), ameaçaram uma moção de desconfiança do novo governo.
Na eleição de julho, a NFP ganhou mais assentos parlamentares do que qualquer bloco político, mas não o suficiente para formar uma maioria.
O líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon pediu que o novo governo “fosse eliminado” o mais rápido possível.
No sábado (21/9), antes do anúncio da composição do novo gabinete, milhares de apoiadores de esquerda se manifestaram em Paris contra o governo, argumentando que o desempenho da esquerda na eleição não foi levado em consideração.
No entanto, a aliança entre partidos de centro e conservadores para formar o gabinete de governo não será suficiente para aprovar novos projetos de lei.
As votações no parlamento dependerão de outras forças políticas, como o Reunião Nacional de direita radical, liderado por Marine Le Pen.
Os argumentos de Macron
Os primeiros prostestos contra a escolha do primeiro ministro começaram no dia 7 de setembro, quando mais de 100 mil pessoas foram às ruas em toda a França.
As manifestações foram convocadas por sindicatos e membros da NPF, que ficaram furiosos com o fato de o candidato a primeiro-ministro do grupo tenha sido rejeitado por Macron.
Neste dia, Mélenchon pediu a “mobilização mais poderosa possível” em marchas nacionais.
Os manifestantes também usaram slogans como “negação da democracia” e “eleição roubada”.
A candidata à primeira-ministra apontada pela esquerda foi Lucie Castets.
Mas ela foi rejeitada por Macron, que disse que Castets não tinha chance de sobreviver a um voto de confiança na Assembleia Nacional.
Na visão do presidente francês, Barnier pode sobreviver a um voto de desconfiança porque a extrema direita — que também ganhou um grande número de assentos —disse que não votará automaticamente contra ele.