A SpaceX, empresa de lançamentos espaciais de Elon Musk, se prepara para lançar ao espaço no próximo dia 31 de março uma missão inédita financiada por um empresário que fez fortuna com criptomoedas. Batizada de “Fram2”, a viagem espacial, que deve durar quatro dias, será a primeira a sobrevoar os polos da Terra com uma tripulação a bordo, em mais um capítulo da nova era de desenvolvimento do turismo espacial privado, que tem crescido nos últimos anos nos Estados Unidos.
O lançamento ocorrerá da Flórida, colocando a nave em uma órbita circular de 90° para o sul. Um dos atrativos da missão é a possibilidade de navegar entre muitos satélites espiões e meteorológicos que orbitam ao redor dos polos. No entanto, para alcançá-los é preciso mais potência do que voos para outras órbitas, e a radiação na região também é maior.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/9/i/oUuuhrQ2GAGBdzcVeU1Q/8f316d0d-cbc8-447b-8788-09f5559e228b.jpg)
A tripulação, formada pelo bilionário Chun Wang, a cineasta Jannicke Mikkelsen, a pesquisadora Rabea Rogge e o aventureiro Eric Philips, já concluiu as fases finais das atividades essenciais de treinamento. Por pelo menos oito meses, o grupo fez simulações com o veículo de lançamento e a espaçonave, mecânica orbital, operação em microgravidade e outros testes de estresse.
O treinamento também incluiu preparação para emergências, exercícios de entrada e saída de trajes espaciais e da espaçonave, além de simulações parciais e completas da missão. Para se preparar para a viagem, a tripulação também fez uma excursão em áreas selvagens no Alasca, para garantir que estejam prontos para enfrentar condições adversas e de confinamento antes de embarcar para o espaço.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/h/R/it42ZASeOFP4SmnXvrVA/f401b4a3-9448-4b8a-a3fa-dc0198ed3bce.jpg)
Batizada em homenagem a um navio norueguês usado para exploração polar entre 1893 e 1912, a missão utilizará uma cápsula SpaceX Dragon equipada com uma cúpula de observação e voará a uma altitude entre 425 e 450 km, segundo a empresa de Musk. Através da cúpula, os tripulantes também estudarão a vastidão polar e vão analisar fenômenos luminosos incomuns, semelhantes às auroras.
Astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) e de outras missões humanas anteriores nunca conseguiram ver os polos Norte e Sul diretamente, com exceção dos astronautas das missões Apollo, que os observaram a grande distância. Até o momento, a inclinação orbital mais alta já alcançada por uma tripulação foi de 65° na missão soviética Vostok 6.
Chun Wang – Comandante da missão
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/f/9/YR9eBgQJihPMZTwb5Ffw/1f8df095-8d69-40e1-8408-02a778dc784c.jpg)
Chun Wang é cofundador das empresas de mineração de bitcoin F2pool e Stakefish. A SpaceX o apresenta como um “aventureiro maltês”, mas ele adquiriu esta nacionalidade recentemente, já que nasceu e cresceu na China, segundo a imprensa especializada dos EUA.
O bilionário afirmou que conheceu seus colegas de tripulação enquanto morava em Svalbard, um arquipélago norueguês localizado no extremo norte. Ele se descreve como um verdadeiro “nômade”, tendo viajado por mais de 100 países nos últimos anos.
Jannicke Mikkelsen – Comandante do Veículo
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/y/R/NGJqvWT8KABq5ALkh16g/3522b2e2-7e43-47c2-870c-6cec314a4cd5.jpg)
Diretora de cinema e cinegrafista residente em Svalbard, Jannicke é especialista em tecnologia de ponta para filmagens em ambientes extremos, como o Ártico, os oceanos, a aviação e o espaço. Em 2019, atuou como Especialista de Carga Útil no histórico voo de circunavegação polar One More Orbit, que celebrou o 50º aniversário da missão Apollo 11.
“Como cineasta, sempre sonhei com essas possibilidades na ficção. Agora, missão após missão, estamos tornando esses sonhos realidade.”
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/t/T/NIYkA5RwSvJw0x9yzjKg/119a5a0e-afa3-401a-9fbc-c6b65b66b0b9.jpg)
Pesquisadora em robótica de Berlim, Rabea atualmente faz doutorado na Noruega. Fascinada por ambientes extremos, ela afirma que estuda esses locais para entender seus limites e ir além deles. Sua experiência inclui liderar uma missão satelital e uma pesquisa robótica oceânica no Ártico.
Eric Philips – Especialista da missão e oficial médico
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/C/0/dAcBCIQuyMmEVFXS3IJg/93d030cf-ea85-4055-8e08-7b9f1b29ba22.jpg)
Eric é um renomado aventureiro polar e guia de expedições, tendo completado diversas jornadas de esqui até os polos Norte e Sul. Cofundador da International Polar Guides Association e cocriador do Polar Expeditions Classification Scheme, ele conquistou reconhecimento global por suas contribuições ao estudo das regiões polares.
“Passei grande parte da minha vida adulta explorando as regiões polares, e esta é uma oportunidade incrível de ver o Ártico e a Antártida do espaço, especialmente a Antártida, que estará completamente iluminada nesta época do ano.”
A expectativa é que a missão conduza pelo menos 22 experimentos voltados para melhorar a saúde e o desempenho humano no espaço, especialmente em missões de longa duração. Os principais estudos incluem:
- Captura das primeiras imagens de raios X do corpo humano no espaço;
- Pesquisa sobre exercícios de restrição do fluxo sanguíneo para preservar massa muscular e óssea;
- Cultivo de cogumelos em microgravidade como potencial fonte alimentar para futuras missões;
- Monitoramento do sono e dos níveis de estresse por meio de tecnologia vestível;
- Análises de glicose em tempo real, saúde hormonal feminina, enjoo espacial e mapeamento cerebral logo após o retorno à Terra.
A missão também estudará emissões atmosféricas semelhantes ao fenômeno chamado STEVE. O nome significa “Strong Thermal Emission Velocity Enhancement” (fortalecimento da velocidade de emissão térmica forte, em tradução livre), que ocorre entre 400 e 500 km de altitude. Esse fenômeno se assemelha a uma aurora, mas possui características distintas.
Ele se manifesta como uma faixa fina e brilhante de luz violeta ou rosa no céu noturno, frequentemente acompanhada por padrões verdes pontilhados. Diferente das auroras tradicionais, que são causadas por partículas solares carregadas interagindo com o campo magnético da Terra, o STEVE está associado a fluxos de partículas de alta velocidade na ionosfera.
Pesquisas indicam que ele ocorre devido ao aquecimento intenso de íons e elétrons na magnetosfera da Terra, criando emissões térmicas incomuns. O fenômeno foi identificado e nomeado por cientistas em 2016, após observações de astrônomos amadores no Canadá