Nos últimos dias, quem acessou o Instagram nos EUA provavelmente notou uma nova funcionalidade no menu de perfil do aplicativo, destacada com uma etiqueta azul, chamada “AI Studio”.
Ao clicar no ícone, os usuários são levados ao mais recente recurso de engajamento com a inteligência artificial da Meta: uma plataforma que permite criar um chatbot sobre qualquer assunto e que também possibilita que influenciadores e empresas criem uma versão automatizada de si mesmos para trocar mensagens diretas com seus seguidores.
Essa nova plataforma parece estar abrindo caminho para o uso de chatbots de inteligência artificial como uma ferramenta de e-commerce – permitindo que os usuários perguntem a seus influenciadores favoritos sobre roupas, maquiagem e outros produtos.
O Instagram já vem experimentando recursos de compra há algum tempo, testando diferentes formatos para a loja no aplicativo e oferecendo mais oportunidades de anúncios no Reels voltados para criadores de conteúdo.
Mas, na sua forma atual, o AI Studio repete alguns dos mesmos erros de marketing que levaram ao fracasso da lista de celebridades de IA da Meta.
Em vez de destacar sua utilidade prática, como melhorar a experiência de compra no app, a empresa está promovendo o recurso como uma maneira para criadores de conteúdo criarem uma “verdadeira extensão” de si mesmos e alcançarem um “engajamento mais profundo” com seus seguidores.
Isso soa como uma abordagem um tanto distópica, que leva as relações parassociais ao extremo, ultrapassando a conexão autêntica e mergulhando em um território desconhecido.
CRIANDO SEU PRÓPRIO CHATBOT DE IA
O AI Studio oferece dois principais atrativos. Primeiro, convida os usuários a personalizar seu próprio personagem de inteligência artificial “com base em seus interesses” (como um personagem de chef que recomenda receitas).
Segundo, está gradualmente introduzindo uma funcionalidade que permite a qualquer pessoa com uma conta profissional na plataforma “criar uma IA que soe como você, baseada no seu conteúdo e informações do Instagram”, de acordo com o site.
Mas, em vez de destacar recursos com aplicação prática, a Meta parece determinada a apresentar o AI Studio como a próxima grande novidade para influenciadores que desejam criar conexões pessoais com seus fãs.
Esse é um erro comum que outras grandes empresas de tecnologia também cometeram em recentes lançamentos de inteligência artificial: presumir que as pessoas querem ferramentas para ajudá-las em aspectos pessoais, em vez de práticos. Essa visão muitas vezes alimenta temores sobre como a IA vai mudar as relações humanas.
Em uma entrevista recente no YouTube, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, comentou que as DMs são um dos recursos que mais crescem no Instagram e que a nova plataforma vai explorar isso. “Estamos fazendo isso para permitir que as pessoas criem uma persona de IA de si mesmas para ajudá-las a interagir com todas as DMs que sua comunidade envia”, disse Zuckerberg.
AI Studio parece estar abrindo caminho para o uso de chatbots de IA como ferramenta de e-commerce.
Ele explicou que muitos fãs querem enviar uma mensagem para suas celebridades favoritas, mas se sentem intimidados pela possibilidade de que elas não respondam.
Esse comentário levanta uma questão óbvia: isso realmente é um problema? Deveríamos esperar ter acesso constante a influenciadores que já compartilham suas vidas online como profissão? E, mais importante, alguém realmente deseja receber uma DM de seu ídolo sabendo que, na verdade, está falando com um robô?
Nunca conheci nem conversei com a influenciadora e apresentadora de podcast Violetta Elaia Benson, mas hoje de manhã ela me disse que gosta de ler, que seus K-dramas favoritos são “Crash Landing on You” e “Vagabond” e que seu pai a ensinou a jogar xadrez quando tinha cinco anos. Ou, pelo menos, isso foi o que sua versão de IA me disse.
Quando você inicia uma nova conversa com o chatbot de um influenciador, ele está diretamente conectado à conta pessoal dessa pessoa. Assim, quando comecei a conversar com Benson, o Instagram me alertou que ela poderia, tecnicamente, ler a conversa a qualquer momento. Também avisou que “algumas mensagens geradas por IA podem ser imprecisas ou inadequadas”.
Achei a conversa com o “alter ego” de Benson particularmente perturbadora. Há algo desconfortável em falar com um bot inspirado em uma pessoa real, teoricamente observada por ela própria, que faz parecer que ultrapassamos algum tipo de limite social não verbalizado.
E não é como se o conceito de amizade com bots fosse uma fantasia absurda. Em uma recente entrevista para o podcast “Decoder”, do “The Verge”, o CEO da desenvolvedora de chatbots Replika basicamente legitimou a ideia de casamentos com bots.
Não é um bom sinal que essa entrevista me tenha vindo à mente. Ao explorar as novas ferramentas de IA do Instagram, eu deveria estar pensando em como elas podem tornar o app mais fácil e divertido, e não refletindo sobre a possibilidade de casamentos entre humanos e robôs.
O Instagram costumava ser uma plataforma para acompanhar seus amigos da vida real através de fotos. Agora, precisamos de um mediador robô chamado AI Studio para nos aproximar de uma conexão com alguém que nunca vimos na vida.