O avanço da inteligência artificial (IA) tem sido uma das maiores revoluções da nossa história, transformando profundamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Desde assistentes virtuais que nos ajudam a organizar tarefas diárias até algoritmos capazes de diagnosticar doenças com uma precisão impressionante, a IA abre portas para possibilidades antes inimagináveis. No entanto, por trás desse progresso acelerado, surge uma questão crucial: estamos, de certa forma, assistindo a um retrocesso na inteligência humana? Este é o tema que exploraremos neste artigo.
Imagine a inteligência humana como uma árvore majestosa, cujos galhos representam nossas habilidades cognitivas, criatividade, empatia e sabedoria acumulada ao longo de gerações. Essa árvore é a nossa essência, o que nos torna únicos. Seus galhos se estendem em direção ao céu, carregando frutos de inovação, compreensão e conexão emocional.
Agora, visualize a inteligência artificial como uma ponte de luz que se estende sobre essa árvore, prometendo facilitar o caminho, acelerar o crescimento e eliminar obstáculos. Parece uma bênção, não é? Uma ferramenta que pode nos levar mais longe, mais rápido. Mas, se não tomarmos cuidado, essa ponte pode acabar nos afastando do cuidado com a árvore, deixando de nutrir suas raízes e seus galhos mais delicados.
Um exemplo concreto dessa dinâmica é o uso crescente de dispositivos digitais e assistentes virtuais. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a automação e a inteligência artificial já substituíram milhões de empregos em setores como manufatura, transporte e serviços administrativos. Em 2024, estima-se que cerca de 85 milhões de empregos foram automatizados globalmente, e esse número só tende a crescer.
Pesquisas indicam que mais da metade (61%) das grandes empresas norte-americanas planejam usar IA, já em 2025, para automatizar tarefas anteriormente realizadas por humanos. Desde pagar fornecedores até elaborar relatórios financeiros, nenhuma tarefa parece escapar à automação. Empresas também já utilizam chatbots de IA para criar anúncios de emprego, redigir comunicados e desenvolver campanhas de marketing.
Essas mudanças visam cortar custos, aumentar a produtividade e impulsionar lucros. Como afirmou John Graham, professor de finanças da Duke University, em entrevista à CNN: “Não é possível administrar uma empresa inovadora sem considerar seriamente essas tecnologias. Você corre o risco de ficar para trás.”
De fato, muitas empresas maiores, com maior poder financeiro, já estão adotando a IA em larga escala. Quase 60% delas, incluindo 84% das grandes corporações, relataram que, no último ano, recorreram a softwares e tecnologias de automação, incluindo IA, para substituir tarefas humanas.
A motivação é clara: reduzir gastos com mão de obra, melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a produção e cortar custos trabalhistas. Segundo a pesquisa CFO, 58% das empresas usam automação para melhorar a qualidade, 49% para ampliar a produção e 47% para reduzir custos.
Por outro lado, muitos especialistas acreditam que a IA não causará uma perda massiva de empregos imediatamente. Em vez disso, ela transformará o trabalho, substituindo algumas funções por outras, sempre que o humano usar a tecnologia a seu favor. A ideia é que o trabalhador seja um parceiro da IA, usando essa ferramenta para potencializar suas habilidades. “Isso poderia dar aos humanos mais tempo para priorizar o que é mais importante e gratificante”, disse Graham.
No entanto, é preciso refletir sobre o seguinte: ao depender cada vez mais de IA para tarefas simples, como lembrar compromissos, fazer cálculos, resumos de textos, responder perguntas ou redigir um simples currículo, podemos estar enfraquecendo habilidades essenciais, como memória, raciocínio lógico e resolução de problemas, deixando-nos preguiçosos. É como confiar demais na ponte de luz, esquecendo de fortalecer nossos próprios passos.
Um exemplo claro são os hábitos digitais, principalmente entre os jovens, que estão ‘atrofiando’ sua habilidade de leitura e compreensão. Como leitores cada vez mais digitais e desatentos, perderam a capacidade de entender textos, de desenvolver empatia e de pensar criticamente.
Na gestão do meu escritório, Alexandre Magno Advogados Associados, no decorrer dos seus 15 anos de existência, pude perceber de forma clara, a diminuição drástica da qualidade dos funcionários em executar tarefas simples, como escrever corretamente, ter domínio das funcionalidades e ferramentas de planilha eletrônica para organizar, analisar e manipular dados de forma eficiente, confecção de relatórios, bem como dificuldade na leitura e interpretação de textos.
Diante disso, para evitar erros na execução de tarefas simples do dia a dia, implantei ferramentas tecnológicas na cultura organizacional do escritório, substituindo advogados, assistentes jurídicos e auxiliares, ou seja, cortando mão de obra humana, mantendo o meu quadro de colaboradores, no mínimo.
Por isso, é importante que tenhamos consciência do papel que a tecnologia deve desempenhar em nossas vidas. A inteligência artificial deve ser uma ferramenta que potencializa nossa humanidade, não que a substitua ou a diminua. Nosso verdadeiro avanço está na nossa capacidade de usar essa tecnologia com sabedoria, como uma chama que ilumina o caminho, guiando-nos para um futuro mais inovador e compassivo.
Se não cuidarmos dessa relação, corremos o risco de caminhar para um retrocesso silencioso na nossa essência. Afinal, a maior riqueza da humanidade está na sua capacidade de pensar, sentir e criar; qualidades que nenhuma máquina poderá substituir completamente. Nosso desafio é usar a inteligência artificial para ampliar essa riqueza, sem perder de vista o que nos torna verdadeiramente humanos.
Devemos agir com responsabilidade, aprendendo a dominar essa tecnologia e garantindo que ela seja uma aliada na nossa evolução, e não uma força que nos afasta de quem realmente somos. Assim, podemos construir um futuro onde a inovação e a empatia caminhem juntas, fortalecendo nossa árvore de conhecimento, criatividade e emoções. Afinal, o verdadeiro progresso está em equilibrar o avanço tecnológico com o cuidado e o valor que damos à nossa essência humana.

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