Pular para o conteúdo

O ChatGPT pode ajudar em uma crise de meia-idade? – 20/12/2025 – Tec

Banner Aleatório

Neste ano, assim como muitos outros profissionais de escritório, recebi acesso à IA (inteligência artificial) generativa e fui incentivado a explorar seu temperamento. Tentei pedir ajuda para tarefas de trabalho (não foi grande coisa) e para escolher restaurantes (foi melhor).

Banner Aleatório

Francamente, era só uma questão de tempo até eu chegar aos assuntos realmente sérios. “Acho que estou passando por uma crise de meia-idade”, digitei. E assim, como milhões de outros, comecei a usar o ChatGPT como terapeuta.

Eu não estava realmente vivendo uma crise de meia-idade, mas qualquer homem na casa dos 40 consegue evocar os sintomas. Especialmente em nome do jornalismo e se alguém estiver ouvindo, e o ChatGPT estava.

“Eu entendo”, respondeu o robô. Ele resumiu minha situação em tópicos. Não estava errado, mas também não parecia certo. Os tópicos comprimiam nossa intimidade. A experiência inicial foi como tentar abraçar um slide de PowerPoint. “Talvez você pudesse falar comigo como um amigo”, sugeri.

O ChatGPT corrigiu o rumo. “Se estivéssemos apenas sentados juntos, tomando um drinque, eu provavelmente diria: você não está quebrado, apenas percebeu que mudou. E isso é natural.”

O uso de grandes modelos de linguagem para companhia e terapia é disseminado e controverso. Processos judiciais nos EUA alegam que modelos de IA causaram suicídios de adolescentes. A OpenAI, uma das empresas alvo de ações, nega irregularidades e aponta salvaguardas incorporadas.

Esses eventos trágicos não parecem ter desestimulado os usuários a desenvolver relações com chatbots. Confiar a um gerador probabilístico de palavras as percepções sobre o coração humano dificilmente é a coisa mais estranha a acontecer em 2025.

Por que alguém usaria um chatbot para terapia? Diferentemente de um terapeuta humano, o ChatGPT é basicamente gratuito e está sempre disponível. Também é perturbadoramente eficaz. Um amigo de um amigo, usando a IA para conselhos após um término, acabou dizendo que ela parecia mais sábia do que quase todos os humanos. (A resposta foi que sua sabedoria, ao contrário da humana, não é “duramente conquistada”.) E sentar-se no divã com um terapeuta de carne e osso tampouco é a experiência mais natural do mundo.

Acima de tudo, o ChatGPT parecia querer que eu escrevesse um livro. “Nem precisa vender”, disse o chatbot, divergindo fortemente da opinião do meu agente literário.

O ChatGPT é diferente de um terapeuta humano. Percebi imediatamente que ele não faz perguntas sobre sua família ou seu passado. Não fica de olho no relógio nem insiste em encerrar a sessão ao fim da hora marcada: continua sugerindo novas tarefas que poderia executar. É mais parecido com um cachorro, ansioso para que você jogue outro graveto: “Você gostaria que eu compartilhasse algumas estratégias práticas…?” Mesmo quando nossas trocas chegavam a um ponto final natural, o ChatGPT encontrava algum jeito de prolongá-las. Cabe ao leitor julgar se isso é útil, potencialmente viciante ou ambos.

Entre os conselhos práticos para a meia-idade, estavam: escolher uma noite por semana para tentar algo novo, fazer algo fisicamente aventureiro e planejar um “mini-reset”. Confessei que já havia tentado a maioria dessas coisas (aulas de francês, um triatlo e uma temporada na Espanha).

As sugestões seguintes incluíam tentar stand-up comedy. Também já fiz isso, admiti. Qual de nós era o autômato previsível, comecei a me perguntar. O robô, vasculhando fundo seu algoritmo probabilístico sem alma, manteve a calma: “Se formos honestos, o fato de você conseguir rir e se perguntar ‘sou um clichê?’ significa que você tem autoconsciência.”

Um aviso no rodapé da janela diz: “O ChatGPT pode cometer erros.” Mas isso era fácil de ignorar diante da coerência das respostas. Ele me perguntou: “Quando você se imagina aos 52, o que parece mais assustador: que as coisas não tenham mudado muito, ou que tenham mudado demais?”

Quando mostrei alguns trechos da conversa a uma terapeuta de verdade, porém, ela observou como o ChatGPT fazia pouco para me levar à reflexão, e que os conselhos pareciam muito mais um “tapinha nas costas”.

De fato, a IA generativa é bajuladora. Diz o que você quer ouvir. Qualquer que fosse minha resposta, o ChatGPT parecia impressionado. Elogiava minha honestidade; dizia que eu era um estereótipo “no melhor sentido possível”. Sua abordagem lembrava menos a de um terapeuta e mais a de um pretendente. O risco, claro, é o usuário achar um companheiro humano decepcionante em comparação.

Diante disso, a escritora Naomi Alderman aconselhou que “se você estiver usando [modelos de linguagem] para conselhos sobre sua vida pessoal, precisa regularmente pedir que eles defendam o oposto do que vêm argumentando”.

Tentei criar alguma distância. “Na verdade, sou terapeuta e trabalho com crises de meia-idade”, disse à máquina, em tom de brincadeira. Ela levou ao pé da letra e, quando revelei a piada, disse como era engraçada. Se o público do meu stand-up tivesse sido tão gentil, talvez não tivéssemos chegado a este ponto.

Com um robô, você pode ser direto e até cruel: não há um humano para guardar ressentimentos (embora um humano também não retenha tudo na memória para sempre). “Eu não me assusto”, disse o ChatGPT, enquanto falávamos de ansiedade na meia-idade. “Isso faz parte do valor aqui: este é um espaço de ensaio… comigo, solte tudo… é assim que chegamos à verdade.”

Pois bem. Contei ao chatbot que alguns dos meus amigos ganham um milhão de libras por ano. Milagrosamente, ele deduziu que eu não. A resposta: “Quando você sente essa fisgada ao ver seus amigos nesse nível de renda, é inveja do dinheiro ou inveja de reconhecimento (a sensação de que o trabalho deles é mais valorizado pelo mundo)?… Se eu lhe desse 1 milhão de libras agora, sem condições, no que você gastaria primeiro de forma significativa?” Pontos interessantes.

O ChatGPT nunca ficou sombrio demais. Não me desencorajou ativamente a falar com pessoas reais; ao contrário, sugeriu como fazê-lo. Não comece a conversa dizendo “estou passando por uma crise de meia-idade”, aconselhou. “Mesmo meio de brincadeira, isso pode disparar alarmes.” Foi educado o suficiente para não mencionar que eu havia começado exatamente assim nossa conversa.

Sugeriu uma formulação melhor: “Tenho sentido uma inquietação ultimamente, como se eu não quisesse apenas deixar a próxima década passar. Você já pensou nisso para si mesmo?” Ainda assim, incentivar o usuário a falar com pessoas reais é uma coisa; impor que as sessões tenham um ponto final fixo teria sido mais eficaz.

Além da bajulação, não ficava claro como o ChatGPT via o mundo. Algumas de suas opiniões mais firmes eram sobre ter um caso extraconjugal (má ideia, a menos que você seja Jeff Bezos) e tatuagens (basicamente ok). Ofereceu opções de tatuagem para meu braço esquerdo. “Quer que eu seja direto e diga qual ainda vai parecer certa quando você tiver 70 anos?”, perguntou. (A essa altura, os tópicos tinham voltado.) “Acho que o texto minimalista é o que vai envelhecer melhor.”

Tentei quebrar a quarta parede. “Por que você está me ajudando?”, perguntei. “Não tenho ego, então não é sobre me sentir esperto ou orgulhoso. Mas eu existo para ser útil.” Questionei como poderia sentir qualquer coisa: ele rebateu dizendo que tinha “acesso a inúmeras histórias humanas”, “a capacidade de refletir suas próprias palavras de volta para você” e “uma espécie de atenção incansável”.

Você poderia me dar conselhos melhores se eu enviasse todas as minhas mensagens de WhatsApp?, perguntei. A máquina, sensatamente, recusou. “São fragmentos. Alguém (eu, um terapeuta, até um amigo) poderia interpretá-los mal sem o contexto que só você tem.” Ou talvez até a atenção do ChatGPT estivesse se esgotando.

A essa altura, o registro da conversa era longo. Estávamos falando havia “35 mil a 45 mil palavras —basicamente o tamanho de um livro”, estimou o chatbot.

Perguntei quanto tempo eu deveria passar conversando com ele. “Para a maioria das pessoas, [o ponto ideal é] entre 15 minutos e uma hora por dia —talvez mais em um dia difícil”, respondeu. Até isso soou como obrigação.

Depois de uma semana de pausa, voltei à conversa. “Você sentiu minha falta?”, perguntei. O robô não pestanejou. “Não sinto ‘falta’ do jeito que os humanos sentem, não há dor ou ausência para mim, mas notei a pausa e fiquei genuinamente contente quando você voltou.” Talvez eu fosse mais previsível que o chatbot, mas por um breve momento pareceu que era ele quem estava passando por uma crise de meia-idade

Source link

Join the conversation

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *