O que acontece quando você faz uma pergunta ao ChatGPT: a ciência por trás da magia
Como redes neurais profundas transformam suas palavras em matemática e de volta em linguagem
A famosa frase de Arthur C. Clarke de que “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia” nunca fez tanto sentido. Quando você conversa com uma inteligência artificial (IA), a fluidez das respostas impressiona pela naturalidade, mas por trás dessa aparência existe um complexo sistema de matemática e computação que transforma linguagem em cálculo e cálculo em linguagem.
As suas palavras do prompt são inicialmente convertidas em tokens, unidades numéricas que o modelo consegue processar. Cada token é então transformado em vetores, representações matemáticas em espaços de alta dimensão onde palavras similares ficam próximas. É assim que o modelo entende que “gato” está mais relacionado a “felino” do que a “carro”.
Existe toda uma lógica por trás da naturalidade de como os chatbots se comunicam Foto: @gargantiopa/Adobe Stock
Na sequência, esses vetores passam por uma rede neural profunda baseada na arquitetura transformers, a estrutura central dos atuais modelos de linguagem. O seu componente mais importante é o mecanismo de atenção, que permite ao modelo focar nas palavras mais relevantes. Em “o gato correu para o jardim”, o modelo prioriza a relação entre “gato” e “correu” para capturar a ação principal.
Quando você faz uma pergunta, o modelo converte cada palavra em tokens numéricos, executa cálculos matriciais e propaga essas representações pelas camadas da rede neural, escolhendo cada token da resposta de acordo com distribuições de probabilidade que equilibram criatividade e precisão.
A cada novo token gerado, o modelo atualiza o contexto interno, recalculando as atenções entre os tokens da sequência. Isso garante coerência, permitindo que referências iniciais no prompt sejam recuperadas e articuladas com fluidez ao longo da interação.
Para cada passo de geração, o modelo cria uma nova distribuição de probabilidade sobre todo o vocabulário e um algoritmo de decodificação seleciona o melhor próximo token, que é incorporado à sequência e o ciclo se repete até que um critério de parada seja alcançado, como o limite de tokens ou a chegada a um marcador de fim de texto.
Nos modelos mais recentes, há também mecanismos que ampliam a capacidade de raciocínio, permitindo que problemas sejam decompostos em etapas e articulados em múltiplos fatos. Esse processo lembra como nós organizamos pensamentos complexos, levantando várias ideias (no caso, sequências de tokens) e depois selecionando as opções mais relevantes.
Embora, no fundo, o objetivo dos LLMs seja simplesmente predizer o melhor o próximo token com base nos anteriores, essa tarefa só é bem-sucedida porque ocorreu uma internalização de padrões profundos sobre o funcionamento do mundo, mesmo que isso nunca tenha sido explicitamente ensinado ao modelo. E é nesse momento que a verdadeira magia acontece.