Em meio à recente decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que abriu um precedente perigoso sobre o destino de presentes recebidos por presidentes, o presidente Lula parece ter decidido que é hora de tirar o pó de um antigo presente de seu primeiro mandato: um reluzente relógio Cartier de R$ 60 mil, oferecido […]
Em meio à recente decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que abriu um precedente perigoso sobre o destino de presentes recebidos por presidentes, o presidente Lula parece ter decidido que é hora de tirar o pó de um antigo presente de seu primeiro mandato: um reluzente relógio Cartier de R$ 60 mil, oferecido pela própria marca em 2005 durante uma visita oficial à França. Mas, como em qualquer boa trama política, a simples devolução do objeto de luxo está longe de ser um movimento simples – ou desinteressado.
Um Gesto que Fala Alto
Embora informações de bastidores apontem que Lula esteja disposto a devolver o relógio, os detalhes sobre como, quando e onde isso acontecerá permanecem envoltos em mistério. Quem poderia imaginar que devolver um presente tão ostensivo se tornaria um labirinto burocrático? No entanto, o governo segue em silêncio sobre o destino do item, alimentando ainda mais as especulações sobre a verdadeira intenção por trás dessa devolução.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, chegou a anunciar nas redes sociais que Lula devolveria o relógio, mas desde então, o governo optou por um silêncio estratégico. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República limitou-se a informar que o relógio “está guardado”, sem detalhes sobre o paradeiro exato do objeto ou sobre a logística de sua devolução.
A Reação (Tardia) ao TCU
A decisão de devolver o relógio parece ter vindo após uma sessão do TCU, onde os ministros decidiram, numa votação que muitos consideram politicamente carregada, que ex-presidentes podem ficar com presentes recebidos durante seus mandatos, independentemente do valor. A decisão, que claramente beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro no caso das joias sauditas, deixou Lula numa posição desconfortável. Ao anunciar a intenção de devolver o relógio, o petista tenta, ao que tudo indica, se distanciar da polêmica e evitar qualquer associação com o comportamento de seu sucessor.
Mas, como qualquer bom drama, o timing é crucial. E parece que Lula pode ter perdido o momento ideal para agir. Fontes próximas ao TCU afirmam que, se ele tivesse devolvido o relógio antes do julgamento, a representação contra ele teria perdido força e sido descartada antes mesmo de chegar ao plenário. Agora, devolver o relógio se tornou uma questão mais complicada – e menos eficaz em termos de neutralização política.
O Destino do Cartier
Entre as possibilidades cogitadas para a devolução, está o envio do relógio para uma agência da Caixa Econômica Federal, como Bolsonaro fez com as joias, ou até mesmo uma doação para uma entidade de caridade. Outra opção seria encaminhar o objeto ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência (GADH), que tradicionalmente gerencia os presentes recebidos pelos presidentes e determina seu destino.
Mas, ao que tudo indica, essa devolução se transformou em um ato simbólico que transcende a simples entrega de um item de luxo. Para ministros do TCU, a situação toda revela uma assessoria inadequada ao presidente e uma reação lenta a um problema que poderia ter sido resolvido de maneira mais ágil e menos desgastante.