Ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como ChatGPT, Copilot e Gemini, são utilizadas por 32% dos usuários de internet no Brasil. O dado faz parte da edição 2025 da TIC Domicílios, divulgada nesta terça-feira, 9, pelo Cetic.br, que pela primeira vez investigou a difusão dessas tecnologias nos lares brasileiros.
O levantamento, que entrevistou mais de 24 mil pessoas entre março e agosto deste ano, traçou um perfil de quem está utilizando IA: o usuário típico é jovem, escolarizado e pertence às classes mais altas. Enquanto na Classe A o uso chega a 69%, nas Classes D e E o índice cai para apenas 16%, revelando uma desigualdade digital significativa.
A escolaridade é outro fator apontado pelo estudo. Entre os brasileiros com ensino superior, 59% afirmaram ter utilizado alguma IA generativa no período. O número é mais que o triplo do registrado entre aqueles que possuem apenas o ensino fundamental (17%) e significativamente maior do que entre os que têm ensino médio (29%).
Ao analisar a faixa etária, a pesquisa identificou que a tecnologia é dominada pelas novas gerações. Mais da metade (55%) dos jovens de 16 a 24 anos fez uso de IA, seguidos pelo grupo de 25 a 34 anos (44%). Em contrapartida, a adesão despenca entre a população mais velha: apenas 9% dos usuários com 60 anos ou mais relataram ter interagido com essas ferramentas.
Do total de usuários que acessaram ferramentas de IA, 84% o fizeram para uso pessoal. Metade dos usuários (50%) utilizou a tecnologia para fins profissionais e 53% aplicaram as ferramentas em pesquisas escolares ou trabalhos acadêmicos.
Para a parcela da população conectada que ainda não utiliza inteligência artificial, os motivos são variados. A principal razão alegada é a “falta de interesse ou necessidade”, citada por 76% desse grupo. Entretanto, barreiras técnicas e receios também afastam os brasileiros da tecnologia: 63% afirmam não ter habilidade para usar as ferramentas e 52% dizem desconhecer a existência delas.
A segurança digital também aparece como um fator inibidor relevante. Segundo a TIC Domicílios, 58% dos que não usaram IA deixaram de fazê-lo por terem preocupações com segurança ou privacidade. Esse receio é transversal, afetando tanto usuários com ensino superior (50%) quanto aqueles com ensino fundamental (52%).
O crescimento da IA ocorre em um cenário onde o acesso à rede continua se expandindo, mas ainda enfrenta gargalos de qualidade. A pesquisa mostra que 65% dos internautas acessam a rede exclusivamente pelo celular, índice que sobe para 84% nas classes D e E. Essa limitação de dispositivo, somada ao fato de que 39% dos usuários ficaram sem pacote de dados no período, pode restringir a exploração plena de ferramentas de IA mais complexas.
Mesmo com a rápida ascensão da IA, serviços digitais mais básicos continuam sendo a principal ponte entre o cidadão e a tecnologia. Para fins de comparação, 71% dos usuários buscaram serviços públicos online no último ano, e 75% realizaram pagamentos via Pix, indicando que a IA ainda está em fase inicial de consolidação se comparada a utilitários essenciais.
Outros dados relevantes da TIC Domicílios 2025
Além do recorte sobre inteligência artificial, o relatório completo apresenta estatísticas importantes sobre o comportamento digital no Brasil:
- Apostas Online (Bets): 19% dos usuários de internet realizaram algum tipo de aposta online. Há uma diferença clara de gênero: 25% dos homens apostaram, contra 14% das mulheres.
- Tipos de Aposta: As apostas esportivas (bets) foram feitas por 7% dos usuários, mesmo percentual dos que jogaram na loteria federal ou participaram de rifas digitais. Jogos de cassino online (como o “jogo do tigrinho”) foram acessados por 8%.
- Conectividade nos Lares: 86% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet. A fibra óptica ou cabo é a principal conexão em 73% das residências conectadas.
- Excluídos Digitais: O Brasil ainda conta com 28 milhões de não usuários de internet. O perfil predominante deste grupo é composto por pessoas com até o ensino fundamental, pretas ou pardas, e com 60 anos ou mais.
- Uso do Gov.br: 56% dos usuários acessaram a plataforma Gov.br (para si ou para terceiros) para realizar serviços públicos, sendo que a busca por documentos pessoais e serviços de saúde pública lideram a demanda.