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por que a geração de vagas desacelera, mas a renda não para de subir no Brasil?

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A taxa de desemprego subiu para 7% no primeiro trimestre, mas o mercado de trabalho segue aquecido, com o rendimento dos trabalhadores batendo novo recorde e redução da informalidade. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.

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Mesmo em alta, a taxa de desocupação no Brasil, que subiu de 6,2% em dezembro para 7% no trimestre encerrado em março, foi a menor para o período desde o início da série histórica do levantamento, em 2012, e inferior a do início de 2024, que ficara em 7,9%.

A taxa subiu pelo corte de 1,3 milhão de postos, aumentando o número de desempregados para 7,7 milhões. Já o rendimento médio chegou a R$ 3.410, recorde pelo segundo trimestre seguido. O aumento foi de 1,2% frente ao último trimestre de 2024 e de 4% contra igual período do ano passado.

Em outra estatística divulgada ontem, o Brasil registrou a criação de 71.576 vagas com carteira assinada em março, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os dados foram apresentados ontem pelo Ministério do Trabalho.

Depois do recorde de 431 mil vagas em fevereiro — o melhor número da série histórica —, o resultado da geração de empregos em março foi mais tímido. É o pior resultado para o mês de março desde 2020, quando foram fechados 294.985 postos. No acumulado de 12 meses, foram abertas 1.613.752 vagas. No acumulado de janeiro a março deste ano, o saldo é de 654.503 postos.

Como interpretar os números?

Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, explica que, embora tenha havido queda na ocupação, ela foi puxada por trabalhadores informais, com o encerramento de contratos temporários feitos no fim de ano, que costuma ocorrer no primeiro trimestre, e uma maior busca por vagas após o período de férias de verão.

Odette Curvo recebeu aumento de 45% no salário em fevereiro — Foto: Arquivo pessoal
Odette Curvo recebeu aumento de 45% no salário em fevereiro — Foto: Arquivo pessoal

Portanto, diz ela, isso não comprometeu o aumento da renda média e nem o contingente de trabalhadores empregados com carteira assinada.

— A gente observa um crescimento dos trabalhadores formais, com carteira assinada, e isso acaba dando uma estabilidade maior para essa população ocupada. Com isso, o mercado de trabalho tem uma âncora maior e pode não responder tão rapidamente a estímulos como a alta na taxa de juros.

Analistas têm previsto alta do desemprego diante do aumento da Taxa Selic que saiu de 10,50% ao ano em setembro para 14,25% em março.

A pesquisadora menciona ainda o movimento de algumas atividades econômicas em 2024, como a indústria, que apresentou crescimento robusto no ano, e registrou maior número de trabalhadores ocupados. Ela explica que esse é um dado importante, já que o setor costuma ter uma grande absorção de trabalhadores formais e salário maior.

Outra atividade que vem se mostrando aquecida é a dos serviços de tecnologia da informação, comunicação, além dos serviços administrativos, cujos profissionais ocupados costumam ter maior rendimento.

Na contramão, os setores de agropecuária e comércio cortaram vagas.

Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista do FGV Ibre, menciona ainda que a recuperação do mercado de trabalho após a pandemia aconteceu a partir do trabalho formal e que isso também puxa a renda para cima.

— Pode ser que esse aumento do salário seja fruto disso, porque a gente sabe que o setor formal paga mais do que o informal. Quando ele aumenta o seu peso na economia, o salário tende a subir. E o bruto das contratações, que antes era primordialmente informal, no pós-pandemia tem sido o setor formal de trabalho. Na minha visão, é uma mudança estrutural, a formalização veio para ficar, e a população mais qualificada colabora com isso.

Com isso, o economista acredita que o salário deve continuar em alta, mesmo que os resultados do mercado de trabalho desacelerem, com o enfraquecimento esperado da economia em razão dos juros mais altos.

Odette Curvo trabalha há mais de um ano em uma empresa de varejo especializada em produtos para cabelo, localizada no Recreio, na Zona Oeste do Rio. Ela foi promovida em fevereiro, e o salário subiu 45,5%, de R$ 2.200 para R$ 3.200, como analista de conteúdo digital:

— Fiquei um pouco mais tranquila financeiramente. Agora posso comprar um celular novo. Mas tudo parcelado, bem certinho, para não sair do planejamento e conseguir pagar tudo em dia.

Desaceleração à frente

Na visão de economistas, a desaceleração no primeiro trimestre foi suave e por fatores sazonais, sem mostrar os efeitos do desaquecimento da economia, mas esses efeitos devem aparecer à frente. André Valério, economista sênior do Inter, estima que a taxa de desemprego chegue ao fim do ano em 7,5%, bem mais alta que os 6,2% do ano passado.

— Com todo esse aperto monetário já vemos alguns sinais de desaceleração na atividade, e esperamos que isso chegue no mercado de trabalho, que tem surpreendido em grande parte por conta do suporte da política fiscal, que manteve a renda elevada.

Ele alerta que a expansão fiscal está perdendo fôlego:

—Todos esses efeitos em conjunto geram um impacto negativo, que eventualmente vai impactar a renda real.

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