Enquanto a proposta para que governos estaduais detenham ativos digitais ganhou força no início deste ano, projetos de lei sobre reservas de criptomoedas em quatro estados fracassaram no último mês.
“Existe uma percepção bem fundamentada de volatilidade em relação ao bitcoin (BTC) e a todos os ativos digitais”, disse Jennifer Schulp, diretora de estudos sobre regulação financeira no Cato Institute, em Washington. “Acredito que isso continuará sendo um problema, mesmo que o ambiente dos ativos digitais continue positivo.”
Nos últimos dias, legisladores em Montana, Dakota do Norte, Dakota do Sul e Wyoming votaram contra a criação de reservas estaduais de criptomoedas, citando preocupações com os riscos e a volatilidade desses ativos. Até o momento, projetos de lei para a criação de reservas estratégicas de criptomoedas foram apresentados em 24 estados, segundo o banco de dados Bitcoin Laws.
O bitcoin caiu cerca de 20% desde que atingiu seu recorde de aproximadamente US$ 109.000, poucas horas antes da posse do presidente Donald Trump em janeiro. A maioria das reservas estatais costuma ser investida em ativos de baixo risco, como títulos de curto prazo, pois são destinadas à alocação de recursos para usos futuros.
O projeto da Dakota do Sul, que propunha alocar até 10% dos fundos estaduais em bitcoin, foi rejeitado recentemente em uma votação na Câmara dos Representantes, com os legisladores optando por adiar a proposta. Já a proposta de Montana foi derrotada na semana passada por 41 votos contra 59.
Trump e a senadora Cynthia Lummis apresentaram pela primeira vez a ideia de um estoque estratégico nacional de bitcoin em uma conferência do setor em Nashville, em julho. Em janeiro, Trump assinou sua aguardada ordem executiva sobre criptomoedas, que determinou um estudo sobre a viabilidade de criar um estoque de ativos digitais, sem declarar diretamente que o bitcoin seria o foco de uma reserva nacional. Além das iniciativas estaduais, Schulp também destacou que o avanço da proposta em Washington tem sido lento.
“Faz sentido que, em nível nacional, uma administração muito pró-cripto esteja levando algum tempo para considerar uma reserva estratégica de bitcoin, e que os estados façam o mesmo, sem se lançarem de cabeça nisso”, disse Schulp.
O projeto de Lummis, republicana de Wyoming, propõe que os EUA adquiram 1 milhão de bitcoins, enquanto a proposta inicial de Trump determinava que o governo mantivesse a posse de aproximadamente 200.000 tokens já confiscados em apreensões de ativos. No entanto, até mesmo a medida no estado natal de Lummis, que permitiria investimentos especificamente em bitcoin, foi rejeitada na Câmara estadual em fevereiro, com apenas um parlamentar votando a favor.
A ideia de uma “reserva estratégica” tem ganhado tração além dos estados, impulsionada pelo projeto de finanças descentralizadas (DeFi) de Trump, o World Liberty Financial. Chase Herro, cofundador da plataforma, afirmou no início do ano que a iniciativa pretende criar uma “reserva estratégica” com tokens comprados no mercado.
O estado de Ohio, que recentemente apresentou propostas para estabelecer uma reserva de criptomoedas na Câmara e uma reserva de bitcoin no Senado, continua otimista sobre os benefícios desses projetos, apesar das preocupações de outros estados em relação à volatilidade.
“Acredito que qualquer investimento que não seja apenas um título tradicional ou algo muito seguro naturalmente envolve um certo grau de risco”, disse Andrew Burchill, diretor executivo do Conselho Blockchain de Ohio. “Pelos nossos cálculos, o bitcoin tem sido o ativo com melhor desempenho na última década em comparação com qualquer investimento tradicional. E, sob essa perspectiva, se pensarmos no longo prazo, a volatilidade se torna um risco menor.”
Já em Oklahoma, um projeto de lei para criar uma reserva estratégica de bitcoin foi aprovado pelo Comitê de Supervisão Governamental do estado na terça-feira (25). No entanto, a disposição geral para priorizar o uso de fundos públicos estaduais em investimentos em criptomoedas ainda é incerta.
“Acho que isso levanta muitas questões sobre se essa política é realmente boa e como sua implementação funcionaria na prática”, disse Schulp. “Essas questões se tornam ainda mais complexas quando consideramos que cada estado tem suas próprias regras sobre orçamento e investimentos.”