Pular para o conteúdo

Quando a Desinformação Racha o Futuro do Dinheiro – Observador

Banner Aleatório

Banner Aleatório

Há mais de 20 mil anos, em Foz Côa, talharam-se símbolos para durar. Hoje, traçam-se outros — em páginas de jornal — que, em vez de gravar a verdade, deformam-na. São os novos riscos que lascam o futuro do dinheiro com o cinzel da desinformação. Semeando confusão.

Um exemplo recente: a detenção de um homem, residente em Vila Nova de Foz Côa, suspeito de burlar centenas de pessoas com promessas falsas de lucro fácil usando criptomoedas. O que faz o jornal? Em vez de destacar o crime, põe o foco na “criptomoeda”, como se a culpa fosse desta e não do burlão.

Pior ainda: no texto lê-se que estas moedas digitais “podem ser compradas com dinheiro real”, sugerindo que o euro é verdadeiro e que o resto é ilusão. Esta ideia é errada e perigosa. O valor do euro, do bitcoin ou de qualquer moeda depende da confiança que as pessoas têm nela. Nenhuma tem valor por si só — nem o euro está “lastreado” em ouro. Tanto o euro como o bitcoin são sistemas simbólicos de valor sustentados por confiança, seja num banco central, seja em regras matemáticas inscritas num protocolo digital descentralizado.

Este tipo de discurso tende a repetir o mesmo erro: sempre que há fraudes com criptomoedas, culpa-se a tecnologia; quando o golpe envolve euros, culpa-se — como deve ser — o burlão. Ninguém diz que o escândalo do BES ou do BPN foi culpa do euro. Mas quando se trata de criptoativos, parece haver sempre um esforço para descredibilizar o sistema descentralizado que lhe está inerente.

Mais preocupante ainda é o parágrafo explicativo que acompanha a notícia, no qual se lê o seguinte sobre as criptomoedas: “…não são reguladas por bancos, são suscetíveis à especulação…”. Esta construção induz um sentimento de perigo que não corresponde à realidade. A ausência de um banco central não significa ausência de regulação ou de segurança.

Na verdade:

• Os protocolos das criptomoedas são públicos, transparentes e auditáveis;

• A descentralização protege contra a manipulação centralizada de interesses;

• As criptomoedas já estão sujeitas a regulação internacional, como o MiCA na União Europeia, e a uma supervisão crescente por parte de entidades como o FinCEN, nos Estados Unidos, que controlam atividades financeiras suspeitas.

O verdadeiro risco não reside na ausência de um banco, como a desinformação leva a crer, mas sim na ausência de literacia digital e no fomento do desconhecimento sobre o que está em causa.

Isto é mais do que ignorância económica. É um risco político. A Europa prepara-se para lançar o euro digital — uma moeda programável, emitida por um banco central, que pode ser monitorizada e controlada de forma específica na carteira digital de cada cidadão. Pouco ou nada sabemos sobre esta moeda na forja do BCE, mas a sua congénere chinesa, emitida pelo Banco Popular da China, já permite condicionar politicamente — ou mesmo bloquear — pagamentos individuais. Ora, desacreditando-se tudo o que é descentralizado e livre, está-se a preparar o terreno para um dinheiro digital centralizado sem alternativa, sem concorrência, e sem liberdade.

No Novo Mundo, os sinais são diferentes: os Estados Unidos debatem abertamente a função do bitcoin como reserva de valor; vários países da América Latina usam-no como alternativa ao colapso das suas moedas; até candidatos presidenciais o defendem como escudo contra abusos do Estado. Aliás, a emissão de moedas digitais dos bancos centrais (CBDC) está atualmente proibida em toda a jurisdição federal dos EUA.

E a Velha Europa? Pode estar prestes a fazer o contrário: criminalizar ou descredibilizar tudo o que escape ao controlo central — não porque seja perigoso, mas porque é livre. Isso seria castrar o futuro do dinheiro, e entregar o poder financeiro a quem o quiser programar à medida dos seus interesses.

Por isso, é essencial separar o que é fraude do que é inovação. O problema não são as criptomoedas. O problema são os burlões — e, por vezes, os jornalistas distraídos.

Como nas gravuras verdadeiras de Foz Côa, o que importa é o traço que se grava — e o motivo pelo qual se grava. Que a liberdade seja a pedra, o discernimento o cinzel, e a desinformação nunca o martelo.



Source link

Join the conversation

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *