Cerca de 9,8 milhões de jovens, entre 15 e 29 anos, estão sem trabalho e fora da escola no segundo trimestre de 2024. O dado do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que 20% desse grupo etário, classificado como geração “nem-nem”, sofre para realizar a transição de estudos para o mercado de trabalho ou à formação acadêmica.
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Os números refletem o avanço dos ataques às políticas trabalhistas, que vieram a partir da aprovação da reforma na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) após o golpe de 2016 e com a intensificação da mercantilização, a partir de reformas educacionais equivocadas.
Diferente do que pinta a mídia tradicional, apenas 7% dos(as) jovens considerados(as) “nem-nem” não estavam envolvidos(as) em atividades como procurar emprego, realizar afazeres domésticos ou participar de cursos não regulares e 1,4% afirmaram não ter interesse em trabalhar.
Já aqueles(as) que afirmam estar ativamente procurando emprego, somam-se 23%, embora seja uma situação temporária. O estudo demonstra que no primeiro trimestre de 2024, cerca de 27% dos(as) “nem-nem” já haviam saído desta condição, conseguindo um emprego no trimestre seguinte.
Segundo o Dieese, em uma avaliação de longo prazo, 39% dos(as) que estavam sem trabalho e fora da escola no segundo trimestre de 2023 mudaram de situação no ano seguinte, demonstrando que a maioria desse grupo está em busca de inserção no mercado de trabalho ou retomando os estudos.
Em relação à continuidade do ensino formal, existe um desafio ainda maior para os(as) jovens oriundos(as) de famílias de baixa renda. De acordo com o Dieese, estudantes que concluíram o ensino médio em 2023, oriundos(as) de lares mais ricos, têm maior chance de continuar estudando ou se qualificando em 2024.
Enquanto 18% dos(as) alunos(as) oriundos(as) de famílias mais abastadas ingressaram no ensino superior, apenas 7% dos(as) jovens de famílias mais pobres seguiram esse caminho. Ainda, 9% dos(as) jovens mais ricos(as) estavam envolvidos(as) em algum tipo de curso, enquanto essa proporção caía para 6% entre os(as) jovens de lares mais pobres.
Isso demonstra a necessidade da construção de políticas educacionais que formem o(a) estudante para a transição ao ensino superior, garantindo a liberdade de pensamento e uma educação de excelência. Diferente da atual necessidade, governos estaduais e municipais têm avançado com políticas que visam transformar os(as) filhos(as) da classe trabalhadora em mão de obra barata.
Outra disparidade também é identificada nos dados sobre a busca por trabalho. Cerca de 40% dos(as) jovens de famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 já participavam do mercado de trabalho no início de 2024, com 30% empregados(as) e 10% procurando ativamente uma vaga. Entre os(as) jovens de lares mais ricos, esses percentuais eram consideravelmente mais baixos: 26% e 4%, respectivamente.
Para os(as) jovens de famílias com menos recursos, a necessidade de entrar no mercado de trabalho é urgente, mas eles(elas) encontram grandes dificuldades para se manterem empregados(as) ou conseguirem estabilidade.
Além da desigualdade social, é importante identificar a influência da desigualdade de gênero na busca por emprego ou qualificação educacional de jovens brasileiros(as). Já 12% das jovens mulheres não podiam trabalhar devido à responsabilidade com afazeres domésticos, embora esse trabalho não seja contabilizado como parte da força de trabalho.