O equilíbrio entre a inovação tecnológica e a manutenção de um atendimento médico humano é essencial para garantir que as ferramentas de Inteligência Artificial sejam implementadas de forma a trazer benefícios reais, sem desumanizar o processo de cuidado
A aplicação da inteligência artificial (IA) na medicina está impulsionando uma revolução no setor de saúde, mas sua implementação precisa ser cuidadosamente calibrada para manter o equilíbrio entre avanços tecnológicos e o toque humano. Durante o 9º Encontro Fleury de Jornalismo em Saúde, Andrea Bocabello, diretora-executiva de Estratégia, Inovação e ESG do Grupo Fleury, destacou que, embora a IA seja uma poderosa ferramenta, a medicina deve continuar a ser “humano-centrada”.
“A medicina deve se manter na decisão humano-centrada, com o médico sempre no comando, enquanto a inteligência artificial deve atuar apenas de forma assistencial.”
Essa visão ressalta a importância de manter o foco na experiência humana no atendimento à saúde, mesmo em um cenário onde a IA está transformando diversas etapas dos processos clínicos e diagnósticos. A adoção de tecnologias como IA generativa pode personalizar a experiência do paciente e melhorar a produtividade dos médicos, mas o papel da decisão médica permanece vital e insubstituível.
Andrea também enfatizou o potencial da IA para melhorar a jornada do paciente, trazendo mais assertividade e agilidade nos diagnósticos, especialmente em áreas como a predição de doenças e a gestão de dados médicos. Com tecnologias preditivas já em uso, o Grupo Fleury trabalha em parcerias para desenvolver modelos preditivos mais eficientes, capazes de prever e prevenir doenças, como o câncer de mama, a partir de exame de sangue simples.
“A quantidade e qualidade de dados coletados pela IA ajudam a construir uma rotina mais saudável para os pacientes. Um exemplo é o uso de algoritmos preditivos que lembram pacientes crônicos sobre a necessidade de realizar exames regulares, evitando o agravamento de doenças e consequentemente, diminuindo os custos para tratamento”, explicou Andrea.
No entanto, ela reforçou que, embora a IA traga inúmeros benefícios, como a automação de processos repetitivos e o apoio à triagem de pacientes, seu papel deve ser limitado ao suporte à decisão médica, garantindo que a relação médico-paciente não seja comprometida.
Desafios e Regulamentação da Inteligência Artificial
Renata Rothbarth, partner Life Sciences, Digital Health & Healthcare no escritório Machado Meyer Advogados, destacou a complexidade de regular uma tecnologia em constante evolução, principalmente em um setor tão regulado como o de saúde. “A regulamentação tem que acompanhar o desenvolvimento da IA, mas é um processo contínuo de melhoria”, comentou Renata, reforçando a importância de garantir que os algoritmos sejam usados de forma ética e responsável.
“A IA na saúde traz imensos benefícios, mas também carrega riscos que precisam ser cuidadosamente geridos. Precisamos criar um diálogo aberto entre o Congresso e o setor de tecnologia para desenvolver políticas robustas e assegurar que a regulação não só acompanhe o ritmo, mas também garanta a segurança e a eficácia das inovações”, alertou Rothbarth.
Eco Moliterno, diretor de Criação da Accenture Interactive para a América Latina, destacou a evolução dos algoritmos que impulsionam a IA, enfatizando que as máquinas, ao longo do tempo, aprenderam a “pensar sozinhas”. Segundo ele, o desenvolvimento tecnológico foi gradual, e hoje a IA está co-criando com os profissionais novos conteúdos e soluções. No setor de saúde, Moliterno destacou o potencial da IA generativa para personalizar a experiência do paciente e melhorar a produtividade dos médicos, sugerindo que a interação entre médicos e IA poderá aprimorar diagnósticos e tratamentos.
“A IA será uma grande impulsionadora para as organizações de saúde. Os médicos poderão, em breve, discutir casos diretamente com a máquina, buscando uma segunda opinião que complementa a análise humana”, afirmou Moliterno.
IA no diagnóstico por imagem e o futuro da medicina
A médica Angela Motoyama Caiado, head de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Grupo Fleury, compartilhou como a IA está transformando o diagnóstico por imagem, especialmente no tratamento de endometriose. Com o uso de algoritmos avançados, a IA tem auxiliado no mapeamento da doença, permitindo um diagnóstico mais rápido e preciso, além de contribuir para a redução do tempo de ressonância magnética ao remover ruídos das imagens.
“A IA está ajudando não apenas no diagnóstico, mas também no entendimento das pacientes sobre suas condições, melhorando significativamente o tratamento e a jornada de cuidado”, ressaltou a dra. Caiado.
Inovação responsável e os próximos passos
Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, encerrou o evento discutindo a importância da IA no monitoramento de doenças infecciosas emergentes. Ele destacou a tecnologia de metagenômica, que permite sequenciar materiais genéticos de maneira precisa, identificando vírus com maior rapidez e assertividade.
“A tecnologia de metagenômica permite sequenciar materiais genéticos de maneira precisa, identificando vírus com maior rapidez e assertividade, o que é essencial no monitoramento de doenças infecciosas emergentes.”
Por fim, os palestrantes concordaram que, embora a IA já esteja proporcionando avanços significativos no setor de saúde, ainda há um longo caminho de aprendizado e regulamentação para garantir que seu uso seja ético e seguro. O evento serviu como um importante fórum de discussão sobre o futuro da saúde, mostrando que, apesar dos desafios, a tecnologia tem o poder de transformar a medicina e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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