Três instituições de Ensino Superior do Triângulo Mineiro formam parceria em evento sobre IA
“Seminário educação e IA”, na Universidade Federal de Uberlândia. Foto: Milton Santos
Qual o impacto da Inteligência Artificial no processo de ensino e aprendizagem? O fato é que a Inteligência Artificial está presente no dia a dia em diversos contextos. Isso é uma realidade posta. O que “nós podemos fazer na discussão da IA no nosso país? As universidades públicas não podem cometer com a Inteligência Artificial o erro que teve com a Educação à Distância, a qual virou uma mercadoria apropriada pelas iniciativas privadas. Discussões sobre Inteligência Artificial é uma temática fundamental e uma discussão primordial para as universidades públicas neste momento”, enfatizou a reitora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Marinalva Barbosa, na abertura do “Seminário educação e IA”, que aconteceu no dia dois de setembro, na Universidade Federal de Uberlândia.
Na mesa de abertura do evento estavam presentes o reitor da UFU, Prof. Valder Steffen Junior, a reitora da UFTM, Profa. Marinalva Barbosa e o reitor do Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Prof. Marcelo Ponciano da Silva. Também compareceram ao seminário, professores da UFU e docentes convidados, pesquisadores, profissionais da área de tecnologia, estudantes e o público em geral interessado no debate sobre educação e Inteligência Artificial. “ A IA já faz parte de nossas vidas. Nas universidades do país temos grupos discutindo Inteligência Artificial, mas sem que haja um recorte específico da IA aplicada na área de educação”, destacou Valder Steffen sobre a importância de um evento para dialogar sobre o emprego da Inteligência Artificial na academia.
Da esquerda para direita: reitora da UFTM, Marinalva Barbosa; reitor da UFU, Valder Steffen Junior, reitor do IFTM, Marcelo Ponciano da Silva,
pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFU, Thiago Paluma. Foto: Milton Santos
O seminário foi aberto ao público e a UFTM foi representada por docentes e técnicos administrativos. “Aqui nessa manhã de segunda-feira, as três instituições – UFU, UFTM e IFTM – representam o maior equipamento de pesquisa, ensino e extensão de nossa região. A ideia do “Seminário educação e IA” surgiu a partir de um pedido do governo federal, representado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, para a construção do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, enfatizou o reitor UFU. Segundo Marinalva, o Brasil deve estar na discussão sobre IA como propositor dessa tecnologia, desenvolver pesquisas e trabalhos de fundamental importância, “para assim construirmos alternativas e respostas que coloquem as universidades na vanguarda dos diálogos, desenvolvimento e utilização da IA.”
A construção do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial
Na elaboração do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, o PBIA 2024-2028, estiveram presentes 117 instituições, representantes do setor público, privado e da sociedade civil. Durante a construção do plano foram recebidas mais de 300 propostas e o mesmo foi estruturado em quatro eixos. O PBIA tem entre suas premissas o foco no bem-estar social; a geração de capacidade e capacitações nacionais; a soberania tecnológica e de dados; o alinhamento estratégico com políticas governamentais; a sustentabilidade ambiental; a valorização da diversidade; a cooperação internacional; a ética e responsabilidade no uso da IA; a governança participativa e a flexibilidade e adaptabilidade. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial foi lançado na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, que aconteceu entre os dias 31 de julho e 1º de agosto deste ano.
No PBIA 2024-2028, intitulado “IA para o bem de todos”, será investido um aporte de R$ 23 bilhões no intuito de transformar o Brasil em referência no uso responsável da Inteligência Artificial. Busca-se com o plano, soluções em IA que melhorem a qualidade de vida da população, otimização dos serviços públicos e promoção da inclusão social. O PBIA prevê revisões periódicas, visando eficiência e efetividade.
Inteligência Artificial centrada no ser-humano
Em sua apresentação no “Seminário educação e IA ” a Profa. Mariah Brochado, da Faculdade de Direito da UFMG, destacou que “o ser humano se passar por máquina é impossível, devido às capacidades de performance que o mesmo não consegue alcançar. Porém, a máquina se passar por ser humano é completamente possível.”
Dessa forma, “não consigo imaginar qualquer plano que não seja centrado no ser humano. Não existe criatividade na máquina, sem os programadores ela não faria nada”, enfatizou a docente da UFMG. A pesquisadora busca uma reflexão sobre a antropomorfização da máquina, de modo que os seres humanos criam relações de sentimento com o objeto. Mariah também traz ao questionamento a importância das máquinas ainda não conseguirem tomar posse da linguagem natural, pois “se for para viver copiando, a humanidade deixará de ser humanidade.”
IA na Educação
Como a Inteligência Artificial pode auxiliar o professor nas suas atividades? Essa foi uma das perguntas apresentadas pelo consultor Roberto Celestino, da Bain & Company, que participou por videoconferência do evento. E, como resposta, hoje existem várias ferramentas para otimizar o processo ensino aprendizagem. Pode-se citar o uso de relatórios nas etapas de ensino, de forma que “a IA pode prever o comportamento do aluno com base em dados estudantis ou de navegação nas plataformas”, enfatiza Celestino.
Roberto cita três plataformas que utilizam a Inteligência Artificial útil nos processos de ensino aprendizagem. “Eu trouxe três exemplos, dentre eles a Riid, da Coréia do Sul; a Center Tech e a Pitch, uma plataforma brasileira que foca em dados e auxilia o professor no planejamento da aula.”
Outro tema em relação à utilização da IA na educação é o uso de humanos virtuais no ensino. Alexandre Siqueira, professor na Universidade da Flórida, mostrou exemplos de humanos virtuais que auxiliam no processo de ingresso dos alunos nos cursos de pós-graduação da universidade norte-americana onde leciona. No exemplo apresentado os humanos virtuais tiram dúvidas e informam os discentes sobre as demandas informacionais que surgem quando ingressam na instituição.
Alexandre destaca a evolução da inteligência artificial, pois no início os sistemas eram baseados em regras – perguntas e respostas – com os humanos virtuais gerando as respostas, hoje, já em um segundo nível de evolução, a IA é baseada em um sistema de intenção. Dessa forma, nos sistemas baseados em intenção a IA extrapola, “a premissa dá um controle parcial.” Assim, para Siqueira, nos dias de hoje, no uso da IA temos desafios a serem enfrentados tais como “mitigar alucinações e respostas incorretas, a segurança de dados, a proteção da privacidade, a conformidade e regulamento da IA.” Ao mesmo tempo, Alexandre também destaca as oportunidades que surgem com a inteligência artificial, tais como “facilitar o aprendizado através da personalização e adaptação de conteúdos.”
Os chatbots e as regras de um bom uso
Hoje em dia, o uso de chatbots permite otimizar demandas em instituições tanto públicas quanto privadas, priorizando a qualidade no atendimento aos usuários. Vale frisar que o uso de assistentes virtuais não é novidade, porém, atualmente, a forma como são programados apresenta uma evolução à época de quando foram criados.“O grande desafio no uso dos chatbots, nos dias atuais, é o emprego da semântica e das técnicas de aprendizado em contexto: são sistemas de intenção”, destaca Reslley Gabriel, chefe de IA da Maggu.
Para Reslley, o boom do ChatGPT aconteceu devido a facilidade que sua interface apresenta, a rapidez nos resultados de pesquisa e a linguagem natural – não precisa escrever códigos. Diante do surgimento do ChatGPT, e do uso de plataformas que utilizam IA, Gabriel apresenta um passo a passo para que o usuário possa fazer um eficiente e responsável uso dessa tecnologia: “colocar o contexto que você quer ; dar a instrução ao programa; os dados de entrada devem ser o que você quer resolver; depois deve colocar o que quer como resposta.“ Reslley conclui que enxerga a IA “como uma inteligência aumentada.”
Teoria sem prática não representa nada
Na segunda parte da programação do seminário, no período da tarde, a Profa. Aléxia Pádua, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Uberlândia, lembrou a importância da academia enquanto lugar de questionamento no cenário de desenvolvimento e utilização da IA nas tarefas contemporâneas. “A academia é o lugar de questionarmos”, enfatizou Aléxia. A docente trouxe uma reflexão sobre a não existência de neutralidade no uso da Inteligência Artificial e traçou um paralelo da neutralidade à IA decolonial. “Precisamos pensar a IA frente às desigualdades e não estagnar-se no argumento de que a utilização da Inteligência Artificial é igual para todas as pessoas”, destacou Pádua.
As ciências exatas e as ciências humanas possuem contribuições ao diálogo sobre a regulamentação, desenvolvimento, práticas e uso responsável da Inteligência Artificial. No seminário, com representantes de ambos os campos científicos, é evidente o papel da academia em relação aos usos da IA. Segundo Paulo Perez, da Biofy, não podemos pensar que a IA é um ser humano. “E, sim, ela reflete pontos negativos”. A título de exemplo pode-se citar o uso de inteligência artificial no reconhecimento facial de pessoas negras, a qual não é eficiente. “Se a IA é racista é porque o ser humano é racista”, salienta Paulo ao destacar que existem diferentes maneiras de uso tipos de Inteligência Artificial.
Por fim, ao final do “Seminário educação e IA”, foram apresentados projetos que utilizam Inteligência Artificial para que o público pudesse ver exemplos da aplicabilidade dos debates realizados ao longo do dia, materializados em projetos de consultoria, robôs, dentre outros.
(Gustavo Miranda)