Setor de madeira e móveis fechou 581 vagas em julho; São Bento do Sul, maior exportadora do estado, é a mais atingida pelas tarifas de 50% impostas pelos EUA
Setor moveleiro em crise? Tarifas dos EUA fecham mais de 500 vagas em SC só em julho – Foto: Divulgação/Freepik/NDSanta Catarina registrou, em julho, o fechamento de 581 vagas no setor de madeira e móveis, segundo dados do Caged compilados pelo Observatório da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina). É o primeiro número oficial que reflete os impactos das tarifas de 50% impostas pelos EUA.
Em julho do ano passado, o mesmo setor havia registrado saldo positivo de 127 empregos. Agora, com a nova realidade comercial, a tendência é de retração.
“O fechamento de postos de trabalho no ramo é reflexo do contexto da imposição das tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras e mostra o impacto da medida sobre as indústrias do setor, grandes exportadoras para o mercado norte-americano”, destaca o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme.
Polo moveleiro sente o impacto
São Bento do Sul, principal polo moveleiro de Santa Catarina, sofre forte impacto com as tarifas dos EUA. A cidade do Planalto Norte responde por 47% das exportações de móveis do estado e 14% das exportações brasileiras, totalizando US$ 123,44 milhões em 2024, sendo US$ 77 milhões destinados apenas aos Estados Unidos.
“Nosso mercado nos Estados Unidos tende a diminuir ou chegar a zero”, afirma Daniel Lutz, CEO da Móveis Serraltense Ltda. “Hoje, com 50% de aumento no custo, o importador americano vai comprar o móvel aqui do Brasil e, ao retirar lá no porto americano e nacionalizar a mercadoria, terá que pagar 50% de imposto”, explica.
São Bento do Sul é a principal exportadora – Foto: Studio Art/Divulgação/NDSegundo ele, a medida torna o produto brasileiro não competitivo frente a outros fornecedores globais e afeta também os próprios clientes americanos.
“Alguns pedidos estão sendo mantidos porque os clientes têm compromissos assumidos e precisam da mercadoria, mas já estão suspendendo as sequências. E esses pedidos estão sendo trabalhados com prejuízo nas empresas.”
Medidas preventivas para preservar empregos
O setor moveleiro em São Bento do Sul emprega diretamente mais de 7 mil trabalhadores, além de gerar uma ampla cadeia de empregos indiretos. Por enquanto, as empresas têm buscado alternativas para evitar demissões, como férias coletivas e redução de jornada.
“No momento, observamos que as empresas estão fazendo o máximo para preservar os empregos”, afirma o presidente da ACISBS (Associação Empresarial de São Bento do Sul), Gabriel Weihermann. “Contudo, é inegável que, se não houver uma reversão ou negociação efetiva em relação a essas tarifas, o cenário pode se agravar, levando, lamentavelmente, a um volume maior de desligamentos.”
Instabilidade regulatória dificulta planejamento das empresas – Foto: Reprodução/Banco de Imagens/NDEle relata que pedidos estão sendo cancelados e há uma pressão direta por renegociação de preços, o que afeta a margem de lucro das indústrias. “As empresas estão sendo forçadas a buscar readequação estratégica, diversificação de produtos e prospecção de novos mercados”, afirma.
Dependência dos EUA agrava impacto das tarifas
De acordo com Weihermann, cerca de 60% de todas as exportações de móveis da microrregião são destinadas ao mercado americano.
“Essa concentração de mercado implica que qualquer alteração nas condições comerciais com os EUA tem um reflexo profundo e em cascata em toda a cadeia produtiva local. Não se trata apenas da indústria de móveis, mas também dos fornecedores de matéria-prima, do setor de transporte e logística, dos prestadores de serviços correlatos e, em última instância, do comércio local e da arrecadação de impostos”.
Incertezas com possíveis novas tarifas
Além das tarifas em vigor, o setor moveleiro teme novas medidas dos EUA, impulsionadas pelo presidente Donald Trump. Está em andamento uma investigação sob a Seção 232, que avalia se as importações de certos produtos representam uma ameaça à segurança nacional americana.
Setor moveleiro acompanha com apreensão novas investigações americanas – Foto: Library of Congress/ND“Essa instabilidade regulatória é um grande desafio para o planejamento e a previsibilidade dos nossos negócios”, ressalta Weihermann. “Nossa avaliação é de cautela. A menção de ‘novos produtos tarifados’ gera incerteza sobre uma possível expansão ou aumento dessas barreiras.”
Lutz também alerta para o risco de novas restrições. “Se aumentar a tarifa agrava a situação sim, e se porventura ela diminuir, pode ser que a gente consiga retomar esse mercado com alguns ajustes”.
Tarifa dos EUA no setor moveleiro de SC gera crise – Foto: Reprodução/Freepik/NDA ACISBS afirma estar mobilizada junto ao Sistema Facisc (Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina) e a outras entidades para acompanhar os desdobramentos. “Nosso objetivo é estar preparados para qualquer novo cenário e munir nossos associados com as informações necessárias para que possam se adaptar e mitigar os riscos dessa volatilidade no mercado internacional”, conclui Weihermann.
Indústria geral ainda gera empregos, mas com riscos
Apesar da queda no setor moveleiro, a indústria catarinense como um todo teve saldo positivo de 1 mil vagas em julho, sendo o setor que mais gerou empregos no acumulado do ano, com 43 mil vagas abertas. Ainda assim, isso representa 8,6 mil vagas a menos que no mesmo período de 2024.
A construção civil foi o segmento que mais contratou em julho (601 vagas), seguida pelos setores de alimentos e bebidas (468 vagas) e têxtil, confecção, couro e calçados (366 vagas).
No setor de serviços, foram criadas 1,8 mil vagas, enquanto o comércio gerou 60 novos postos. A agropecuária fechou o mês com saldo negativo, com 114 vagas a menos.

