Um grupo restrito de ministros auxiliou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escutar Anielle Franco, titular do Ministério da Igualdade Racial, e Silvio Almeida, demitido do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, entre quinta (5) e sexta-feira (6). A movimentação aconteceu após denúncias sobre supostos episódios de assédio sexual por parte de Almeida, nesta semana.
Os bastidores da saída de Silvio foram revelados pelo colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, neste sábado (7).
Os ministros escolhidos pelo presidente ouviram Silvio e Anielle separadamente e, na sequência, acompanharam Lula em duas conversas na noite de sexta-feira (6). As reuniões foram planejadas com o propósito de proteger Anielle.
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Mensagens e vídeos
Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União, e Vinicius Marques de Carvalho, da Controladoria-Geral da União, ficaram responsáveis por ouvir Silvio Almeida, na quinta-feira (5). O encontro foi feito no Palácio do Planalto após ordem de Lula.
Na conversa, Silvio negou as acusações e exibiu conversas com Anielle, sugerindo que os dois tinham intimidade. Ele chegou a mostrar um vídeo do restaurante Oscar, no Brasília Palace, como registro de um jantar com a ministra.
Almeida apresentou as mensagens por entender o material como prova de que ele não assediava Anielle e de que os relatos dela seriam falsos. Contudo, os ministros não identificaram nada que indicasse a permissão de Anielle para qualquer tipo de abordagem sexual.
A atuação de Janja
Após o encontro, Vinicius e Messias repassaram as percepções do caso para o presidente. Além disso, houve a pressão da primeira-dama Janja da Silva, que não acreditou nos relatos de Silvio.
Janja é próxima de Anielle e defendeu que as mensagens e vídeos apresentados não mostravam nada consensual. Também afirmou que o Governo Federal não poderia tolerar a suspeita de assédio.
A reação de Silvio, que usou as redes sociais do Ministério para se defender e acusar a organização Me Too Brasil, foi vista de forma negativa pelo grupo.
Ministério das Mulheres
Já na sexta (6), Messias e Vinicius começaram a falar com outras pessoas que ouviram os relatos de Anielle Franco, como Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal. O diretor-geral havia recomendado que a ministra registrasse uma ocorrência, mas ela não a fez.
Cida Gonçalves, responsável pelo Ministério das Mulheres, foi chamada no Palácio do Planalto após sugestão de Messias para que ela integrasse a gestão da crise.
Foi Cida e Messias que acolheram Anielle e ouviram diretamente dela os relatos sobre a denúncia.
Lula conversa com Silvio
No retorno do presidente para Brasília, a decisão de demitir Silvio já havia sido tomada. Lula queria que Silvio pedisse demissão, indicando que ele deveria se defender fora do Governo Federal. O ministro chegou para conversar com o presidente por volta de 18h.
Na ocasião, ele foi recebido também por Messias, Vinicius e o Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski. Ricardo, inclusive, ficou calado na maior parte da reunião, mas sugeriu a Silvio que ele pedisse demissão.
Contudo, Silvio Almeida afirmou ser inocente e que não aceitaria ser injustiçado. Ele sugeriu mostrar o mesmo material que apresentou na quinta, mas Lula não quis ver o conteúdo.
O presidente o advertiu também por ter usado as redes sociais do Ministério dos Direitos Humanos para a defesa de Silvio. Lula considerou que ele não tinha direito de tomar essa atitude já que seria envolver o governo da crise do ministro. Com isso, haveria a quebra do princípio da impessoalidade.
Silvio não pediu demissão
O presidente Lula chegou a conclusão de exonerar Silvio Almeida do cargo e disse que desejava ele fora do governo para que pudesse se defender. Quem estava presente na ocasião, disse que em nenhum momento Almeida pediu para ser demitido, mesmo ele tendo afirmado o contrário em nota publicada à imprensa.
Lula e Anielle
O encontro entre Lula e Anielle só aconteceu após a demissão de Silvio Almeida para que o ex-ministro não a acusasse de ser a responsável pela decisão. Apenas Cida Gonçalves e Ester Dwechk, ministra da Gestão e Inovação, acompanharam o presidente.
Anielle explicou a Lula como aconteceram os episódios de assédio e ele demonstrou solidariedade com a ministra. Lula repetiu o que havia dito em entrevista: assediadores não ficariam no governo.