José Raimundo fala sobre como a desinformação e interesses empresariais influenciam as condições e vagas de emprego e a percepção pública.
José Raimundo de Oliveira
As informações são despropositadas, porém empresários irresponsáveis e outros exploradores estão indo com frequência à grande mídia sua aliada para dizer ao distinto público que os trabalhadores se recusam a preencher vagas de empregos por causa de programas de transferência de renda tipo Bolsa-Família. Ricardo Faria, o tal “Rei do Ovo“, que montou um conglomerado empresarial pegando dinheiro público, via BNDES, e Flávio Rosco, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), são dois desses mentirosos.
Cumpre observar que somente um louco, ou louca, deixaria de arranjar um emprego formal com direitos para ter como benefício o Bolsa-família no valor de R$ 600,00 (ressalte-se que além do valor-base é concedido um adicional de R$150,00 por criança de até 6 anos e R$ 50,00 por cada pessoa entre 7 e 17 anos, gestante ou lactante). Impossível, pois, neste momento uma família receber um salário mínimo no valor de R$ 1.500,00 de ajuda via tal programa.
Esse discurso vindo de empresários e indivíduos outros, mal-intencionados, contrários aos programas de transferência de renda, não possui sustentação alguma. Até porque não existe no momento estudo algum que assegure essa hipótese.
O que existe de concreto é uma classe patronal mesquinha e, ao mesmo tempo, gananciosa, aproveitadora do trabalho alheio que, para obter lucros extraordinários, oferece empregos precários, mesmo que com carteira assinada, e salários de fome.
Ainda que o rendimento médio do trabalho esteja em R$ 3.372,00 (março/2025) o grosso dos salários está na faixa de R$ 1.700,00 e R$ 2.400,00/mês, e a depender da região prevalece um salário mínimo hoje em R$ 1.518,00.
Tome-se como referência um salário de R$2.000,00, por exemplo, descontados o INSS, vale-transporte, alimentação (nem insiro nessa conta plano de saúde privado), o resultado salarial líquido reduz-se concretamente ao final de cada mês a, no máximo, um salário mínimo para uma jornada semanal de trabalho de 44 horas (uma das maiores senão a maior entre os países que integram o chamado G20), escala 6X1, ritmos alucinantes de trabalho causadores de vários adoecimentos (físicos e mentais), gestão impositiva que não dialoga… Nesses casos o trabalhador, especialmente jovem, pensa duas vezes antes de aceitar o tal emprego pois este não lhe oferece perspectiva alguma em relação ao futuro. Particularmente prevalecendo a escala de trabalho 6X1, tudo piora, pois, as possibilidades de vida social desaparecem por completo.
Em outras palavras, dada a precarização do trabalho, resultante das contrarreformas trabalhista e previdenciária, bem como da terceirização, entre outras medidas, o sistema produtivo brasileiro não promove bem-estar algum à classe que vive do trabalho, pois tem sido a fórmula encontrada pelo patronal para obter lucros astronômicos e rápidos através da constante piora das relações de trabalho.
Por fim, reclamam que o Bolsa-família representa um grande custo, hoje em torno R$ 172,5 bilhões = 1,5% do PIB, porém escondem os astronômicos valores referentes à sonegação de impostos que alcança anualmente R$ 500 bilhões; em renúncia fiscal estima-se que em 2025 poderá ultrapassar os R$ 500 bilhões, de acordo com o G1 e Valor Econômico, chegando até R$ 800 bilhões, conforme projeções da Receita Federal. Ademais, os que obtêm renda acima de R$ 1 milhão pagam de Imposto de Renda entre 5%, e 7,5% enquanto o trabalhador com renda mensal acima de R$ 4.664,68 lhe é descontado 27,5%.
Não satisfeitos com essa condição privilegiada os ricos e super ricos articularam recentemente, via Congresso Nacional, a derrubada de projeto sobre aumento de alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e pela boca dos seus prepostos sugerem ao governo congelar por seis anos o valor do salário mínimo e corte de gastos no tocante aos recursos da saúde e da educação hoje com valores já bastantes limitados. Trabalho precário, salários arrochados, impostos sonegados, lucros nas alturas…. Porém, na mesquinha visão empresarial a culpa pelo não preenchimento de vagas de emprego é do programa Bolsa-família.
José Raimundo de Oliveira é historiador, educador e ativista social.