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Startup brasileira fecha parceria com Nvidia e leva provador de roupas com IA ao Vale do Silício

Escolher uma roupa em uma plataforma de comércio digital sem saber se o caimento será adequado pode ser desafiador. Agora, imagine poder vê-la no próprio corpo, digitalmente, antes da compra. Essa é a proposta da startup brasileira Doris, que desenvolveu um “provador digital” com inteligência artificial, capaz de simular o caimento das peças em lojas físicas e virtuais.

Toda a tecnologia por trás do provador virtual foi desenvolvida de forma proprietária pela startup, que reúne uma equipe de 70 funcionários, a maioria engenheiros e pesquisadores especializados em inteligência artificial. Com um investimento inicial de US$ 20 milhões, a Doris passou quatro anos refinando a solução antes de levá-la a mercado, o que aconteceu no ano passado.

A promessa da Doris é não precisar sequer pegar fila para o provador e provar uma sucessão de peças para saber qual tem melhor caimento ou combina mais com o estilo de cada um. Nas lojas, será possível simplesmente digitar sua altura, tirar uma foto em um aplicativo para verificar como fica o look. Outra opção é recorrer a um totem com a mesma funcionalidade. A mesma experiência poderá ser aplicada por quem preferir a compra on-line.

O trabalho acabou por chamar a atenção da Nvidia, a empresa de chips mais valiosa do mundo, que tem liderado a indústria de processadores e semicondutores de inteligência artificial. Nesta segunda-feira, a startup brasileira e a empresa liderada por Jensen Huang vão oficializar uma parceria para que o provador virtual da Doris seja ferramenta oficial da loja da Nvidia.

A estreia será no GTC 2025, principal evento da empresa, onde os visitantes poderão testar a tecnologia em um totem interativo. Uma das possibilidades será a de provar o clássico visual de Huang, CEO da Nvidia que tem como marca registrada a jaqueta preta, vendida pela companhia de chips.

Após o evento, a solução seguirá em exibição na loja da Nvidia e será instalada na sede da empresa, no Vale do Silício, como um exemplo prático do uso da IA no varejo.

Doris criou provador virtual com IA que pode ser usado lojas físicas; sistema está em teste na Nike — Foto: Doris/Divulgação
Doris criou provador virtual com IA que pode ser usado lojas físicas; sistema está em teste na Nike — Foto: Doris/Divulgação

Desenvolvida para ser a primeira IA generativa do mundo capaz de mostrar diferentes tamanhos e combinações de roupas em um corpo digitalmente recriado, a tecnologia brasileira foi processada desde o início, quando a empresa tinha seis funcionários, com os GPUs (Unidades de Processamento Gráfico) da big tech americana.

— Você tira duas fotos de perfil só uma vez e começa a ver as roupas no seu próprio corpo, tanto a parte de baixo quanto a parte de cima, podendo fazer combinações — explica o CEO e fundador da Doris, Marcos de Moraes. — A Nvidia valoriza exemplos tangíveis do que a tecnologia deles pode fazer e nós acabamos sendo exemplo muito concreto disso. Estamos orgulhosos.

Investimento de US$ 20 milhões

Esse não foi o primeiro passo internacional da startup, que passou a vender a solução no mercado há pouco mais de sete meses. No Oriente Médio, a Doris fechou um acordo com o Grupo Abuissa, no Catar, para a adoção da tecnologia em shopping centers da região.

—No Oriente Médio, até recentemente, na Arábia Saudita, era proibido ter provador para mulheres em lojas físicas. Agora, com o nosso provador digital, ela pode experimentar todas as roupas no celular, na privacidade dela, sem precisar provar fisicamente — conta Moraes, sobre a parceria.

Provador com IA pode funcionar nem plataformas digitais e também em lojas físicas — Foto: Doris/Divulgação
Provador com IA pode funcionar nem plataformas digitais e também em lojas físicas — Foto: Doris/Divulgação

No Brasil, marcas como Aramis, Reserva, Vans, Decathlon e Track&Field já utilizam o provador digital para otimizar a jornada de compra dos consumidores on-line. Já a Nike tem testado a aplicação da ferramenta em lojas físicas brasileiras, por meio de um totem ou escaneando QR Codes disponíveis nas peças.

Moraes conta que perceber como a experiência de compra on-line era ineficiente foi o que o motivou a apostar no negócio. Ele cita que, no comércio eletrônico, apenas 2% dos visitantes de um site de moda realmente finalizavam uma compra, e que a alta taxa de devoluções prejudicava tanto os consumidores quanto as marcas. O investimento inicial na Doris foi feito pelo próprio empresário: um total de US$ 20 milhões.

—Foi um investimento alto, mas estamos construindo algo inovador. Nossa expectativa é alcançar o break-even (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) em três anos— aposta Moraes.

Assistente virtual para moda

O empresário que agora aposta na IA para o varejo de moda é conhecido por ter fundado a marca Sagatiba, depois vendida para a Campari em 2011 por US$ 26 milhões. Antes disso, sua grande aposta foi a Zip.net, vendida à Portugal Telecom por US$ 365 milhões nos anos 2000, em um dos maiores negócios da internet brasileira no início da era digital.

O GTC é o principal evento global da Nvidia, que reúne milhares de especialistas, executivos e desenvolvedores, com foco no atual carro chefe da companhia, que é a inteligência artificial. Atrair o olhar da fabricante de chips pode funcionar como uma espécie de “chancela” para a solução brasileira.

Para a Doris, a parceria é a validação de que a ferramenta está entre as mais inovadoras do mercado no setor. Com assertividade de 96% a 97% na prova digital, a empresa afirma que o processo virtual tem reduzido a taxa de devolução das marcas.

A aposta da startup, que agora busca investidores para acelerar a expansão internacional, é avançar para que o sistema vá além do provador digital e se torne uma espécie de assistente inteligente de moda, capaz de sugerir combinações de looks e indicar peças alinhadas ao estilo do usuário

—O e-commerce, como conhecemos, está ultrapassado. O futuro é o experience commerce, uma experiência digital interativa e personalizada. E é para isso que estamos construindo a Doris — diz o CEO.

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