Algumas empresas norte-americanas estão explorando o potencial de dispositivos semelhantes a vapes para tratar enxaquecas e doenças respiratórias, como a asma. Embora essa tecnologia ainda enfrente desafios, incluindo a aprovação regulatória e a aceitação pública, as farmacêuticas acreditam que essa inovação pode revolucionar a administração de medicamentos por inalação.
Tecnologia inovadora e potencial terapêutico
Duas empresas, Qnovia e MIIST Therapeutics, estão desenvolvendo dispositivos baseados na tecnologia de nebulizadores médicos, capazes de transformar medicamentos líquidos em vapor. Já a Greentank, outra empresa pioneira, utiliza um chip de aquecimento que, segundo ela, resolve problemas de segurança encontrados nos vapes atuais e pode ser uma solução eficaz para o tratamento de doenças como enxaqueca.
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Os especialistas e as empresas defendem que a inalação pode proporcionar alívio rápido, com menos efeitos colaterais em comparação aos medicamentos orais. No entanto, a comercialização desses dispositivos, especialmente em um contexto onde há crescente preocupação com os impactos à saúde dos vapes convencionais, será um grande desafio.
Lançamentos e objetivos futuros
Inicialmente, Qnovia e MIIST planejam lançar seus dispositivos como terapias de reposição de nicotina (NRT) de prescrição médica, enquanto a Greentank visa usar seu chip de aquecimento em vapes recreativos para cannabis e nicotina. A ambição dessas empresas, porém, vai além: elas esperam que seus dispositivos possam, eventualmente, administrar uma ampla gama de medicamentos.
Douglas Dunlap, diretor comercial da Greentank e ex-executivo da marca de vapes JUUL, destaca o potencial do dispositivo para o tratamento de enxaquecas. Ele aponta que os comprimidos, comumente usados para tratar a condição, podem levar até uma hora para fazer efeito, enquanto o método de inalação pode proporcionar alívio muito mais rápido.
Desafios de aceitação e regulamentação
Embora a ideia de usar dispositivos semelhantes a vapes para administrar medicamentos seja promissora, as empresas enfrentam uma barreira significativa: a desconfiança em relação aos produtos que lembram vapes convencionais, principalmente devido aos riscos de saúde associados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que vapes podem liberar substâncias químicas nocivas e que os efeitos de longo prazo ainda são desconhecidos.
A Qnovia, liderada por Brian Quigley, ex-chefe da gigante do tabaco Altria, planeja solicitar a aprovação de seus dispositivos nos Estados Unidos em breve e no Reino Unido em 2026. A MIIST também busca aprovações regulatórias, após um teste clínico de Fase 1 que mostrou que seu dispositivo aliviava o desejo por cigarro mais rapidamente do que outros NRTs aprovados.
Impacto futuro e considerações finais
O uso de vapes para administração de medicamentos ainda é um terreno novo e repleto de desafios, especialmente no que diz respeito à regulamentação e à percepção pública. Dalton Signor, fundador da MIIST, expressa esperança de que seu dispositivo possa um dia ser usado para tratar condições como dor e ansiedade. No entanto, ele reconhece a importância de distinguir esses dispositivos de vapes convencionais para evitar confusões e enfrentar o estigma associado.
Federico Buonocore, professor da Universidade de Kingston, que pesquisa alternativas de administração de medicamentos pulmonares, acredita que o design semelhante ao de um vape pode resolver problemas comuns de dispositivos médicos tradicionais, mas ressalta que superar o estigma dos vapes será uma tarefa difícil para a indústria.