veja como o brasileiro enxerga a gestão em oito áreas

Mesmo com percepção geral de melhora em comparação à gestão de Jair Bolsonaro (PL), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê crescer a avaliação negativa em áreas como meio ambiente e segurança pública, de acordo com dados inéditos da última pesquisa Ipec obtidos pelo GLOBO. Para especialistas, os números refletem, por um lado, o impacto de crises recentes, como o avanço das queimadas; mas, por outro, sinalizam uma resiliência da rejeição ao petista em uma parcela significativa do eleitorado, fruto do cenário de polarização desde o pleito de 2022.

Segundo o levantamento do Ipec, divulgado anteontem, 35% dos entrevistados consideram o governo Lula ótimo ou bom, percentual quase idêntico aos 34% que avaliam a gestão como ruim ou péssima. A pesquisa mostrou ainda que, para 38%, a situação do país melhorou em comparação ao período que antecedeu a presidência de Lula, enquanto 34% consideram que piorou. A margem de erro é de dois pontos.

Na avaliação por temas específicos, no entanto, em quase todos a atuação do governo é mais apontada como negativa que como positiva. A exceção é a área de educação, em que 37% avaliam a atual gestão como ótima ou boa, enquanto 34% a consideram ruim ou péssima — três pontos a mais do na pesquisa anterior, de abril.

Na comparação com a última pesquisa do Ipec, o maior salto na percepção negativa ocorreu no meio ambiente, até então uma das áreas em que o governo era mais bem avaliado. Agora, 44% consideram que a gestão de Lula é ruim ou péssima nesta área, 11 pontos a mais do que no levantamento de abril. O período foi marcado por enchentes no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, por queimadas que atingem diversos estados, e principalmente biomas como a Amazônia e o Pantanal, em meio à pior seca já registrada no país.

A reprovação ao desempenho do governo no meio ambiente cresceu mais nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde se localizam esses dois biomas, e no interior do país, mais atingido por queimadas.

A diretora do Ipec, Márcia Cavallari, observa que também piorou a percepção do governo na segurança pública, tema que vem perpassando campanhas eleitorais. Além disso, em áreas como combate ao desemprego e inflação, apesar de indicadores positivos recentes, o índice de avaliação negativa sobre o papel do governo ficou quase inalterado.

— No caso do meio ambiente, os números refletem a cobrança ao governo por ações que possam prevenir ou minimizar a ocorrência de queimadas. Mas também é possível que uma parte relevante das avaliações negativas venha de pessoas contrárias ao presidente Lula, e que por mais que se faça não vão avaliar positivamente. Basta reparar que só 8% dos que votaram em Bolsonaro em 2022, segundo a pesquisa, consideram que a situação do país melhorou no atual governo, enquanto 70% dos eleitores de Lula acreditam nisso — diz Cavallari.

A crise no meio ambiente, embora tenha gerado piora na percepção inclusive entre eleitores lulistas, foi recebida de forma mais negativa por quem votou em Bolsonaro. Segundo o Ipec, 69% dos eleitores bolsonaristas de 2022 consideram a atuação do governo ruim ou péssima na área, uma alta de 14 pontos frente a abril. Entre eleitores de Lula, a avaliação negativa subiu nove pontos, para 19%. Mesmo com uma queda em relação a abril, porém, 48% dos lulistas avaliam a gestão como ótima ou boa neste tema.

O cientista político Antônio Lavareda, diretor do Ipespe, avalia que estratégias de Lula para divulgar ações de seu governo, como entrevistas em rádios locais pelo país, esbarram em um cenário político “enrijecido”.

— A campanha de 2022, de Lula contra Bolsonaro, simplesmente não terminou. Isso ajuda a reproduzir o quadro comportamental da eleição na atitude dos entrevistados em relação ao atual governo — avaliou Lavareda.

Em entrevistas recentes, Lula tem repetido que o governo “está trabalhando muito”. Nesta semana, em participação na Rádio Norte do Amazonas, o presidente se referiu desta forma à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e buscou reforçar ações de seu governo em outras áreas sensíveis, como o combate ao crime organizado, que também associou ao desmatamento.

Mesmo com a crise das queimadas, o entendimento no Palácio do Planalto é que os esforços necessários para conter os incêndios têm sido feitos pelos ministérios, o que inclui a atuação de Marina. No caso das queimadas, ainda não há no horizonte da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) uma campanha específica para alertar a população sobre os focos de incêndio e os cuidados a serem tomados. Procurados via assessoria de imprensa, a Secom e o Ministério do Meio Ambiente não responderam.

O entorno do ministro Paulo Pimenta, que retornou anteontem ao posto — após ficar quatro meses na pasta de reconstrução do Rio Grande do Sul — diz que esse tema será um dos trabalhado por ele a partir da próxima semana.

Auxiliares do Planalto entendem que há certa demora, desde o início do governo, na resposta a crises que atingem a gestão, o que abre brecha para propagação de desinformação. Nesta semana, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, convocou uma entrevista para anunciar ações da pasta e prestar orientações à população, em meio às queimadas, iniciativa que interlocutores de Lula cobram de outras pastas.

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