O que estão compartilhando: que uma treinadora aquática chamada Jessica Radcliffe foi morta por uma orca que ela treinava. Postagens mostram vídeos que parecessem ser do momento do ataque.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O Verifica submeteu os vídeos à plataforma SynthID, do Google, e identificou que eles foram criados com ferramentas de inteligência artificial da empresa. Não existe indícios reais da existência de uma treinadora desse tipo de animal chamada Jessica Radcliffe.
A rede de parques temáticos SeaWorld, uma das principais do mundo, mantém apresentações com as orcas, mas os tratadores não costumam mais entrar nos tanques com os animais. O último acidente entre treinador e orca que se tem registro aconteceu em 2010, em um parque da franquia na Flórida.

Não há registro da existência de uma Jessica Radcliffe morta nessas condições. Foto: Reprodução/Facebook
Saiba mais: postagens nas redes sociais mostram o que parece ser um acidente com uma orca, conhecida popularmente como “baleia-assassina”, e sua treinadora, Jessica Radcliffe. Os vídeos simulam a suposta treinadora sendo engolida pelo animal enquanto a plateia assiste e socorristas pulam na água para o resgate.
Vídeos foram feitos com inteligência artificial
O Verifica submeteu o vídeo checado na plataforma IA SynthID. Ela é uma ferramenta desenvolvida pelo Google para detectar conteúdos criados exclusivamente por ferramentas de IA da marca. A análise indicou, com grau alto de confiança, que as imagens foram criadas por inteligência artificial.

IA SynthID apontou manipulação por IA de vídeo viral. Foto: Reprodução/ IASynthIDGoogle

IA SynthID detectou manipulação por IA de vídeo viral. Foto: Reprodução/ IASynthIDGoogle
A história também se tornou viral em outros países e há ramificações de vídeos sobre a suposta morte. Há imagens que parecem mostrar a treinadora sendo levada para visitar a orca assassina em uma maca de hospital. Esse vídeo possui uma marca d´água da ferramenta Veo. Ela pertence ao Google e serve para criar vídeos.

Vídeos da história possuem a marca “Veo”. Foto: Reprodução/Facebook
Buscas pelo acidente crescem, mas não há indícios de que realmente aconteceu
A história levou a um aumento repentino dos termos “orca mata treinadora” e “Jessica Radcliffe”, segundo a plataforma Google Trends (aqui e aqui). Mas não há registro da existência de uma treinadora de orcas chamada Jessica Radcliffe.
Ao buscar pelo assunto, não há resultados de notícias reais sobre o suposto acidente, em português ou inglês (aqui, aqui). A busca mostra apenas portais e agências de checagem desmentindo a veracidade da história.
Último caso de acidente entre animal e humano foi em 2010
O último caso de morte envolvendo orcas que se tem registro aconteceu em 2010. A treinadora Dawn Brancheau foi atacada em frente ao público e arrastada para o fundo da piscina pela orca Tilikum, no parque da rede Seaworld na Flórida.
O mesmo animal também esteve envolvido na morte de um homem em 1999, no Canadá. A vítima entrou no tanque do animal à noite sem supervisão. Tilikum morreu em 2017, por volta de 36 anos. Ele viveu no Seaworld em cativeiro por 25 anos, desde que foi trazido do Canadá.
Os parques que ainda contam com atrações de orcas estão sob a franquia de parques temáticos SeaWorld em Orlando, San Diego e Texas, nos Estados Unidos. No Japão, o parque Kamogawa SeaWorld também possui uma atração com orcas.
Ao longo dos anos, os shows de orcas que fizeram sucesso no passado mudaram e focam agora na conservação ambiental. Após serem alvos de críticas de grupos de defesa dos animais e ordens judiciais, os treinadores também não entram mais na piscina com os animais. Em 2016, o SeaWorld anunciou que a atual geração de baleias presentes nos parques seria a última mantida sob seus cuidados.
