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Visa implementa inteligência artificial para auxiliar clientes em suas compras – 28/12/2025 – Economia

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Rodrigo Cury, 49, presidente da Visa do Brasil, precisa responder sempre ao mesmo questionamento nos almoços de domingo, em família: por que alguém não consegue aumentar o limite do cartão? Para isso, tem uma analogia pronta. “Eu não produzo carros [cartões e crédito]. Eu faço a estrada.”

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A resposta ilustra uma das premissas de negócios da Visa. Multinacional americana especializada em tecnologia de pagamentos, presente em mais de 200 países com 4,8 bilhões de credenciais (entre cartões físicos, digitais e tokens), a empresa não tem contato direto com o consumidor. Seus clientes são as instituições financeiras e os estabelecimentos comerciais. Daí o fato de a empresa não ser responsável pela emissão do cartão, nem pela concessão do crédito.

O papel da Visa é “pavimentar” o ambiente de negócios digital por onde transita o dinheiro, o que envolve a organização de uma complexa rede de dados que precisa funcionar em tempo real, envolvendo informações sobre o cliente, o banco, o adquirente (dono da “maquininha de cartão”) e o estabelecimento. No mundo, são cerca de 15 mil instituições financeiras, 150 milhões de estabelecimentos comerciais e quase 5 bilhões de credenciais, que geram um volume gigantesco de dados sobre compras por CPFs e CNPJs. Esses dados são criptografados e, portanto, aparecem para a multinacional como códigos.

Mas é justamente esse ambiente rico em informações que vai conduzir a Visa a uma nova “avenida” de crescimento nos próximos anos: para além de garantir a segurança e a eficiência das transações financeiras em nível global, a empresa começa a usar cada vez mais a inteligência artificial generativa para identificar gostos, tendências e comportamentos de compra do consumidor. Segundo a Visa, 2025 foi o último ano em que os clientes fizeram e finalizaram suas compras sozinhos, sem um agente de IA.

“Você gosta de fazer determinadas coisas durante as suas férias, por exemplo, que só você sabe. Agora não só você sabe: tem um agente de inteligência artificial que te conhece muito bem. A partir de instruções simples, ele vai procurar todas as opções de viagens, passeios e atividades que façam parte do seu perfil e orçamento para, inclusive, fazer as compras para você, facilitando a sua vida “, diz Cury.

Isso sempre com a permissão do usuário e em um ambiente seguro, sem “alucinações” que possam dar brecha a compras indevidas, afirma. “A ideia é usar em compras rotineiras, de supermercado, por exemplo, para permitir que você ganhe tempo”, diz. “A Visa é uma das empresas do mundo que mais investe em inteligência artificial.”

A bandeira de cartões vem trabalhando com mais de cem parceiros globais para implantar o Visa Intelligent Commerce (VIC), que já produziu centenas de transações controladas e iniciadas por agentes de IA. Nos EUA, os primeiros projetos-piloto começaram este ano. No início de 2026, será a vez da Europa e Ásia-Pacífico. Já na América Latina e Caribe, as soluções serão apresentadas ao longo do ano.

A aposta na inteligência artificial vai aumentar a venda de serviços de maior valor agregado (value added services), que hoje representam entre 30% e 35% da receita da Visa. “Até uns dez anos atrás, o trabalho da companhia estava concentrado em infraestrutura e segurança para transações financeiras”, diz Cury. Mas o avanço de meios de pagamento instantâneos, a exemplo do brasileiro Pix, fez a empresa se mexer.

Entre 2021 e 2024, o Pix se tornou o principal meio de pagamento utilizado no Brasil: saltou de 46,1% para 76,4% do total da população, segundo dados do Banco Central. Com isso, superou o uso de dinheiro vivo (até então o principal meio de pagamento), que caiu de 83,6% para 68,9%. Embora neste intervalo tenha crescido também o uso de cartões, o avanço foi muito inferior ao do Pix: no débito, cresceu de 61,7% para 69,1%, e no crédito de 44,5% para 51,6%.

Em volume de transações, no terceiro trimestre deste ano, o Pix segue liderando, com 20,5 bilhões. O consolidado de cartões (débito, crédito e pré-pago) aparece em segundo, com 11,6 bilhões de transações no trimestre encerrado em setembro.

Segundo Cury, porém, a ferramenta também representa uma oportunidade de receita. “O Pix vem sofrendo tentativas de golpe e fraude –e garantir a segurança das transações é um dos pilares do nosso negócio”, afirma. “No Brasil, temos um [projeto] piloto rodando com a solução Visa para proteger a transação Pix, e assim atender aos bancos.”

No mundo, as duas grandes multinacionais da indústria de cartões são as americanas Visa e Mastercard. Embora seja líder global, a Visa perdeu a primeira posição no Brasil para a rival. Nos últimos anos, a Mastercard fechou contratos importantes com fintechs e bancos digitais, a exemplo de Nubank e C6 Bank, o que lhe garantiu a dianteira do mercado.

Na opinião de Willer Marcondes, sócio para serviços financeiros da Strategy, consultoria estratégica da PwC Brasil, o nome “bandeira” para designar a Visa ou a Mastercard não traduz bem o que as empresas fazem. Em inglês, diz, a expressão é mais apropriada: “card scheme” [esquema de cartão].

“São elas que ditam as regras do jogo: têm a missão de dizer como um pagamento deve sair de um lado e como será recebido do outro”, diz Marcondes. “Parece simples, mas quando se considera os mais de 200 países no mundo, cada um com sua regra tributária, seu banco central, legislações e arranjos próprios, é preciso que alguém forneça garantias de pagamento, que traga liquidez ao sistema sempre que alguém use o cartão fora do país.”

Quanto à possibilidade de o Pix, lançado no final de 2020, matar o cartão de débito, Marcondes lembra que costuma demorar muito para que um meio “mate” o outro no sistema financeiro. “Há 20 anos, pelo menos, o cheque é uma solução caducante, mas ainda resiste”, diz.

“Sob a perspectiva das bandeiras, surgem novos serviços ao redor do Pix, relacionados a mecanismos de autenticação e execução do pagamento, que abrem um conjunto de oportunidades a empresas do setor”, diz. “[O Pix] Não é o fim da linha, mas exige investimentos e capacidade de reação, de entender essa nova realidade do banco, que deixa de ser um lugar onde se guarda dinheiro para ser um lugar que proporciona experiências digitais.”

Rodrigo Cury concorda. Segundo ele, existe uma forte correlação entre o débito e a principalidade da conta corrente: o cliente usa mais a modalidade no cartão do seu banco principal. “A gente achou que débito seria reduzido a cinzas [depois do Pix], e não foi. Ainda soma R$ 1 trilhão em transações ao ano.”


RAIO-X VISA DO BRASIL

  • Fundação: 1983
  • Sede: São Paulo
  • Funcionários: 350
  • Presença: cerca de 70 milhões de cartões
  • Participação de mercado: 40%
  • Principais concorrentes: Mastercard, Elo
  • Receita líquida 2024*: US$ 35,9 bilhões (R$ 199 bilhões)

*receita global


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