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7ª Temporada de ‘Black Mirror’: este texto não foi escrito por inteligência artificial

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A vinheta de abertura de “Black Mirror” continua a mesma nesta sétima temporada (e nem haveria motivo para mudá-la): é rápida como um stories e desconfortável como alguns reels. A carinha sarcástica treme até se romper, indicando algo que não se sustenta por si só – a tecnologia, por exemplo – e se quebra, se rompe.

Episódio 7×01: “Pessoas comuns” – até onde eu topo o incomum?

Critica Black Mirror Setima Temporada

Mike e Amanda são um casal que continua apaixonado após alguns anos de casamento. A tentativa de terem filhos acaba ficando em segundo plano diante da notícia de que Amanda tem um nódulo cerebral incurável. A enfermeira indica ao marido uma empresa (com um preço, a princípio, bastante acessível) que pode ajudá-los. É oferecido ao casal o plano Rivermind Plus, que depois se torna o plano padrão com a chegada do mais atualizado Rivermind Lux. Com este, é possível intensificar as emoções. É o que Amanda experiencia com o prazer e a serenidade. A vendedora da empresa, para não lidar com as insatisfações dos clientes, aumenta com apenas um toque sua indiferença.

“Pessoas Comuns” escancara o que os streamings vêm fazendo nos últimos anos: versão com propaganda, mais barata; versão com maior abrangência e mais recursos, mais cara. Os streamings, como na história, pedem uma renovação anual do plano vigente. Após a compra, como no caso do Prime Video, somos informados de que, para não termos comerciais, um novo valor deve ser pago. Quem toleraria um streaming da vida com propagandas?

O episódio também faz críticas pesadas ao sistema precário de saúde dos EUA – e que pode se estender a outros países, de uma forma ou de outra. Resumindo: temos que ser ricos para ter saúde. Para se ter uma vida digna, é preciso se rebaixar, implorar diante da total falta de empatia dos provedores de serviço. E fica a questão: até onde o ser humano é capaz de ir quando não aceita o diagnóstico de um ente querido?


Episódio 7×02: “Bête noire” – algumas harmonizações são fatais

Bete noire Black Mirron 1

Maria, a chef responsável por inovar os sabores dos alimentos de uma empresa, se incomoda com a chegada de uma antiga colega de escola, Verity Greene. Descobrimos, ao longo do episódio, que Maria espalhou uma fofoca sobre Verity no passado. Poderíamos esperar um desenvolvimento focado nos desdobramentos do bullying, mas o que vemos são questionamentos existenciais que envolvem culpa e mágoa. O que se faz e causa danos acaba mesmo por voltar.

O roteiro utiliza a criação de realidades alternativas para fazer uma crítica explícita àquilo que ganhou forma (e vida?) nos últimos tempos: o multiverso/metaverso. Mundos e vidas paralelas onde posso ser quem eu quiser. Maria, assumindo o controle que essa realidade lhe dá, experimenta, como sua antecessora, os prazeres ilimitados de ser a imperatriz do universo. Ironicamente, seus súditos gritam: “Ave, Maria!”, o que nos faz pensar na própria Maria, mãe de Jesus Cristo. Escolher quem queremos ser – com poder, fama e controle – nos faz realmente felizes e nos faz esquecer o passado?


Episódio 7×03: “Hotel Reverie” – reboot nunca será superior ao original

Hotel Reverie 1

Passando por problemas financeiros e beirando a falência, a dona de um estúdio de cinema não vê outra saída senão aceitar a proposta da dona de uma empresa hightech, a Redream. A ideia inovadora envolve um reboot de um antigo blockbuster, no qual atores são inseridos dentro do filme original e os personagens são criados por I.A.

Uma atriz renomada, que quer um papel novo e romântico em sua carreira, concorda em ser a protagonista no lugar do ator que interpreta o Dr. Alex Palmer na versão original. Daí em diante, a atriz Brandy, presa na interação com os personagens artificiais, explora o roteiro que lhe é imposto e que deve seguir. Ela se apaixona pela atriz principal, mas o relacionamento e o amor criados entre as duas não podem seguir em frente, pois Brandy deve retornar à realidade após os créditos finais do filme. Precisa seguir o script que lhe foi dado.

Podemos comparar isso com o que recebemos em massa pelas redes sociais, que determinam o que é um corpo saudável, como devemos criar nossos filhos, para onde devemos viajar e como uma vida sem trabalho é vista como improdutiva.


Episódio 7×04: “Brinquedo” – o sistema operacional humano sempre foi nossa ruína

Critica Black Mirror 7x05 1

Bandonetes: o novo jogo que era para ser lançado na década de 1990, mas… Por mais um “surto” de seu criador, o projeto é interrompido. No entanto, o bando do jogo continuou sendo alimentado por um gamer – Cameron, que rouba um exemplar – até um futuro próximo.

Neste, o personagem central (que, com seus sorrisos em sua versão jovem, nos lembra muito o veterano Willem Dafoe) estava literalmente sincronizado para que chegasse o momento exato em que ele e seu bando se fundiriam com todos os seres humanos. O episódio trata de forma crua e psicologicamente violenta os perigos já abordados por outros filmes e séries: o uso intensivo da I.A. e como ela pode assumir o controle de nossas vidas. Com o toque de Charlie Brooker, temos a concretude de um mundo onde perderemos, de vez, nossa autonomia e livre-arbítrio.


Episódio 7×05: “Eulogy” – relembrar é viver?

Paul Giamatti Black Mirror

Paul Giamatti estrela o episódio no qual um senhor solitário, vivendo em uma casa entulhada – assim como seus próprios sentimentos –, tem a oportunidade de revisitar o passado por meio de uma tecnologia exclusiva, a partir de suas fotos. Com a ajuda da filha de seu antigo amor, criada por I.A., Philly consegue entender que muito do fim do relacionamento teve mais a ver com suas próprias decisões do que com as de Carol.

A trama deixa em aberto se é mesmo importante ou necessário resgatar sentimentos ligados a fatos passados – e o quanto nossa memória pode ser confiável. Elas são realmente precisas e verdadeiras, considerando que são apenas o nosso ponto de vista, e não o da outra pessoa?


Episódio 7×06: “USS Callister – Infinity” – bullying cibernético

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A tripulação da nave criada por Robert Daly, diretor técnico da Callister, está de volta. O episódio que ficou em aberto na quarta temporada ganha, enfim, sua continuação. Baseado na série fictícia “Frota Espacial”, o protagonista havia criado sua própria versão do universo da série para se vingar dos colegas de trabalho que o maltrataram de alguma forma.

Neste último episódio da temporada, vemos a evolução e o lançamento do Infinity, com mais de trinta milhões de usuários e os clones digitais tentando sobreviver.

Apesar do nome “externo” ser usado quando nos referimos à pessoa da qual o clone foi feito (assim como em Ruptura), aqui observamos algo mais inquietante: todos os clones digitais têm as mesmas características de personalidade dos originais. Isso corrobora a ideia de que certos traços de personalidade são imutáveis, embora outros possam ser modificados de acordo com nossas experiências e com o desejo de sermos diferentes.

O dilema moral e ético sobre qual ser merece viver é mostrado através daquele que joga – o que tem o poder de decidir. A frase “Seria a Terra o inferno de outro planeta?”, de Aldous Huxley (autor de The Doors of Perception), nos faz, por um momento, imaginar que estamos em um jogo assustador onde Elon Musk e Donald Trump seriam os comandantes…


  • Bruno e Vanessa Cury



    Vanessa Cury, formada em História e em Espanhol pela The University of Adelaide (Austrália), cinéfila desde os 7 anos de idade. Dramas de origem estrangeiras são seus preferidos, pois retratam a condição humana com bastante realismo e emoção. Também gosta muito de escrever, ler e ouvir música. Cine Set é o primeiro lugar onde escreve publicamente. /

    Bruno Cury, Doutor em Psicologia, Psicoterapeuta, Professor Universitário, cinéfilo e melómano. Já publicou sete livros, três deles sobre Cinema relacionado à Psicologia Humanista.



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