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A palavra mais bonita | GZH

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deagreez / stock.adobe.com
Escolhas humanas, ainda que questionáveis, podem ser mais encantadoras.

Dia desses ressuscitaram o Aurelião — o autor do dicionário, não o livro, também já sepultado pelo Google — para eleger a palavra mais bonita da nossa língua. Em entrevista realizada em 1976 pela antiga TVE, o professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989) foi desafiado pelo jornalista Araken Távora a indicar o mais belo vocábulo entre os mais de 370 mil listados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Ele escolheu três: libélula, o inseto de asas transparentes; alvorada, o crepúsculo da manhã (não o palácio); e murucututu, uma coruja de barriga amarela conhecida pelos indígenas da Amazônia como mãe do sono porque seu canto, segundo a lenda, faz as crianças adormecerem.

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Na ocasião, o lexicógrafo (termo que designa o homem que faz dicionários e que, decididamente, não é uma palavra bonita) fez questão de dizer que estava escolhendo as suas favoritas e não as mais bonitas, pois o conceito de belo é pessoal e intransferível. Além disso, não existe um critério específico para essa escolha: algumas pessoas optam pelo significado, outras pela sonoridade e há também aquelas que se orientam por alguma lembrança boa que a palavra evoca. Saudade, por xemplo, sempre entre as mais votadas, se enquadra nesse último critério.

Na tentativa de evitar essa contaminação emocional, transferi o problema para o ChatGPT, advertindo-o de que não deveria citar opiniões de humanos. Com a instantaneidade insana das inteligências artificiais, a ferramenta escolheu aurora e justificou: “Além de ter um som suave e harmônico, ela evoca imagens poéticas — o nascer do dia, o recomeço, a luz que rompe a escuridão. É uma palavra breve, com ritmo e leveza, que carrega um sentido universal de esperança e beleza.”

Faz sentido, sem dúvida. Mas as escolhas humanas, ainda que questionáveis, podem ser mais encantadoras. Como fez a menininha de oito anos citada no livro Casa das Estrelas, de Javier Naranjo, na sua explicação para a palavra amor — sempre a mais citada pelos adultos nesse concurso de beleza ortográfica: “É quando uma pessoa se ama e até pode casar e ter filhos e todas essas besteiras”.

Inspirador para esta semana do Dia dos Namorados, não é mesmo? Murucututu a todas e todos. E bons sonhos!

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