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Com inteligência artificial, negócio de impacto cria solução dentro do conceito de Justiça Climática

Na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, nasceu em 2020 a Visão Coop – um laboratório de tecnologias cívicas fundado pelo cientista Lennon Medeiros e pela artista Fabrícia Sterce. A iniciativa tem como propósito catalisar mudanças positivas nas comunidades por meio da tecnologia social, digital e verde, oferecendo soluções para desafios sociais e ambientais. Alinhado ao conceito de Justiça Climática, o negócio de impacto cria aplicações e dinâmicas que impactam periferias, promovendo inteligência coletiva para a mobilização climática e a estratégia de regeneração ecológica.

Inspirado no conceito de cidades-esponja, a Visão Coop busca ampliar a capacidade dos territórios vulneráveis de absorver água e enfrentar eventos climáticos extremos, como enchentes e ondas de calor. O diferencial da iniciativa está no uso de Inteligência Artificial (IA), que atua como ponte entre os moradores e os cientistas, garantindo comunicação fluida e que se traduz em soluções concretas. A tecnologia permite a criação de Mapas de Vulnerabilidade e protótipos que auxiliam na formulação de políticas públicas e investimentos mais eficazes.

A Visão Coop foi finalista do programa de aceleração BNDES Garagem 2023. Em 2024, a iniciativa foi Top100 do SEBRAE Startups e coordenou o eixo ambiental do Startup20, liderando as recomendações ao G20 a partir da pesquisa sobre modelos de negócios climáticos ao redor do mundo. Diante da escassez de formatos inovadores para o financiamento ambiental, a organização desenvolveu um tripé de receitas: venda de protótipos de tecnologia regenerativa, pesquisas com IA e projetos financiados por fundos não reembolsáveis de governos, empresas e organizações.

De pé, da esq. para a direita, a equipe da Visão Coop: Karen Coelho, Neuza Millene, Juliana Coutinho, Alan Santana, Fabricia Sterce, Victoria Teixeira e Leandro Barbosa; agachados: Samuel dos Santos, Lennon Medeiros e Denner Noia. Foto: Divulgação/VC Marketing

Hoje, o negócio atua em todo o Brasil, com trabalhos já entregues nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Recife, Rio Grande do Sul, de São Paulo e Belém. Em conversa com a coluna, Lennon contou que em 2025 a iniciativa vai chegar a cidades da Argentina, do Paraguai e Uruguai.

Para se ter uma ideia da inovação ambiental representada pela iniciativa, trago dois exemplos. Em Queimados (RJ), a Visão Coop desenvolve um plano de adaptação climática contra enchentes. A partir de dados coletados via redes sociais, moradores registraram alagamentos e inundações em tempo real. Essas informações foram processadas e transformadas em um Mapa de Vulnerabilidades, auxiliando o poder público a direcionar investimentos. O impacto foi notável: após dez anos de enchentes ininterruptas, 2023 marcou o fim desse ciclo. Em 2024, mesmo com chuvas mais intensas, os danos foram drasticamente reduzidos: o número de pessoas desabrigadas foi reduzido em 90%.

O segundo exemplo é a intervenção conduzida na Serra do Vulcão, uma área de preservação em Nova Iguaçu (RJ). Para enfrentar problemas de escassez hídrica e queimadas, um grupo multidisciplinar de cientistas e moradores prototipou soluções inovadoras, como um sistema de captura e reúso de água da chuva e a implantação de viveiros cercados por substrato encharcado, impedindo o alastramento do fogo.

Em 2024, a Visão Coop foi reconhecida pela OpenAI como uma das iniciativas mais interessantes em emergências climáticas da América Latina no uso de inteligência coletiva. Os empreendedores contabilizam mais de 10 mil pessoas socorridas; mais de 150 pessoas mobilizadas nos últimos anos.

Lennon Medeiros avalia que apesar dos avanços no país, a inovação ambiental enfrenta desafios de financiamento – ou seja, os modelos sustentáveis de investimento para mitigação, adaptação e regeneração climática ainda são incipientes –; compreensão da crise climática (a falta de consciência sobre a gravidade das mudanças climáticas dificulta o engajamento e os investimentos adequados); e retenção de talentos (profissionais qualificados são frequentemente atraídos para oportunidades internacionais mais lucrativas), entre outros.

Por outro lado, Medeiros é enfático ao afirmar que o Brasil tem potencial para se tornar uma potência em climate techs devido à diversidade de seus biomas e à capacidade científica do país. No entanto, alerta para a ausência das periferias e favelas no centro das soluções climáticas, acrescentando que a falta de propostas concretas no campo da justiça climática, a ausência de um modelo de financiamento e de políticas mais eficazes são desafios a serem solucionados para que esse protagonismo brasileiro se estabeleça.

“Sou de periferia. Quando você cresce na favela, na Baixada, e se dá conta da injustiça climática, você vê a relevância da Justiça Climática. E, o que é esse conceito? É lutar contra o efeito onde as populações que menos contribuem para a emissão de carbono e mudança climática são as que mais sofrem, mais vivenciam os problemas e consequências. Por outro lado, como cientista, demorei muito para me descobrir como empreendedor, mas hoje tenho noção de que tenho que produzir um modelo de sustentabilidade financeira, de faturamento; preciso liderar meu time para produzir inovações; construir cultura institucional para que seja uma organização durável, que tenha futuro e possa inspirar outras iniciativas e a mudança de que a gente precisa”, defende.

Em uma perspectiva propositiva, Lennon compartilha quatro lições para os que desejam empreender na área ambiental.

  1. Vivência de campo: conhecer de perto os problemas que deseja solucionar.
  2. Criatividade extrema: explorar ao máximo ferramentas como IA para testes e experimentações.
  3. Cultura institucional forte: construir equipes motivadas e resilientes.
  4. Modelo de negócio sustentável: buscar acelerações e mentorias para estruturar um modelo econômico viável.

Ao final da conversa, o fundador da Visão Coop deixa explícito: “Minha maior esperança é contribuir com o combate às mudanças climáticas e com o resfriamento da Terra. Essa é minha missão de vida”.

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